O DEFUNTO
Cavo com as mãos essas extremidades,
Levantando a tampa de meu podre caixão,
Renascido pelas malditas mortandades,
Voltei para comemorar minha ressurreição
Por longos anos passei estive sepultado,
Ouvindo os vermes devorarem meu intestino
Lúcido observando tudo assim acordado,
Amaldiçoando toda noite este maligno destino
Dias e noites em uma longa penitência,
Sem saber o que mais adiante eu esperaria,
Desejei com essa terrível maledicência,
Quanto tempo no túmulo ainda apodreceria
Baratas rastejando sob meus maxilares
Enquanto as bactérias cresciam na pele morta
Dissolvendo todas as juntas musculares
Só para contorcerem essa mandíbula tão torta
Ouço o dobrar dos sinos neste funeral
Mas o perfume das flores oculta minha visão,
Estou eu perdido por este plano astral
Acreditando que me levantaria deste caixão?
Pés amarelado por toda a umidade,
Da terra que pesava sobre meu corpo inerte,
Era o peso sinistro desta fatalidade
Antes que a alma no inferno então desperte!