Rede Social
REDE SOCIAL
Na sala de aula Isabela contava os minutos para aquela aula chata acabar. Ela cursava medicina veterinária no turno da noite e queria levantar logo daquela cadeira e ir para casa. Estava com fome e precisava checar as redes sociais, sempre tinha um cara ou outro que a chamava para conversar no bate papo do Facebook. Alguns eram bem diretos, diziam logo que queriam marcar um encontro, outros vinham com uma conversa estilo banho-maria, dizendo querer apenas amizade, mas Isabela sabia que no fundo todos eles queriam era levá-la pra cama. A jovem se orgulhava muito de seu perfil nas redes sociais, fotos que a mostravam em festas, com amigos, ou no quarto em frente o espelho, com roupas que caiam muito bem em seu corpo escultural, hora de vestido e salto alto, hora de jeans, camisa e tênis Vans. No auge dos seus vinte e dois anos ela tinha uma pele clara, cabelos negros compridos, unhas e sobrancelhas sempre bem feitas. Isabela sentia o ego inflado quando aqueles caras a chamavam para conversar ou elogiavam suas fotos com comentários, mas tudo o que ela queria era encontrar um bom homem, honesto, trabalhador e divertido para ter um relacionamento sério,um homem que a pediria um dia em casamento.
Finalmente a sua longa espera acabou, a aula chegou ao fim. A jovem guardou seus cadernos na mochila, se levantou, saiu da sala de aula e se pôs a caminhar pelo corredor da universidade. Notava que um amigo de classe a olhava, era Douglas, um rapaz tímido, que Isabela sabia que a admirava, mas ele era um nerd desajeitado, magro e com óculos fundo de garrafa, que lembrava em sua aparência Harry Potter. Ele era um aluno dedicado, inteligente, mas que nunca tivera coragem de falar nada com a garota que amava. Isabela sabia que ele a amava, as mulheres conseguem identificar isso nos homens, mas era um amor não correspondido, pois além de Douglas ter suas qualidades(que não atraiam nenhuma garota na universidade), ele não fazia o tipo de Isabela, e ela queria deixar isso bem claro não dando esperanças a ele. Ao sair da universidade foi para o ponto de ônibus, pegou o coletivo e em quarenta minutos já estava chegando em casa.
Entrou na sala de estar de sua casa e se deparou com o pai lendo o jornal da cidade sentado no sofá. Beijou o rosto do pai sem notar a matéria que ele lia, que falava sobre três garotas que estavam desaparecidas, todas entre os vinte e vinte e três anos, todas de pele clara e cabelo escuro longo. Pela semelhança que as três jovens do jornal tinham, algumas pessoas estavam pensando em um suposto criminoso serial que estaria agindo naquela cidade. O pai ao ver as fotos daquelas três garotas desaparecidas lembrou-se da filha, se pudesse manteria ela só dentro de casa, mas fazer o que, a sua filha precisava estudar. Mas sempre a alertava, dizia para ela não falar com estranhos, e sabia que ela obedecia, pelo menos assim imaginava.
Isabela acabou de jantar e foi direto para seu quarto, fechou a porta e ligou o computador. Ao abrir o Facebook viu que tinha uma nova solicitação de amizade. Era um homem que na foto de perfil estava numa camisa pólo branca, tinha os cabelos loiros e usava óculos escuros. A jovem se sentiu atraída por aquele homem na foto e logo o aceitou como amigo. Entrou no perfil do rapaz e viu que tinha poucas fotos, em todas ele se encontrava sozinho, uma na praia, outra parado em frente a um carro Fiesta preto que deveria ser o seu. Seu nome era Henrique Paolo. Ele estava on-line.
Passaram-se dez minutos e Henrique chamou Isabela para conversar na caixa de bate-papo. Iniciou a conversa com um “oi”, foi respondido também com um “oi” e ali os dois jovens iniciaram uma conversa, conversa essa que atraiu muito Isabela. Ela descobriu que eles moravam na mesma cidade, que ele era cinco anos mais velho que ela, e que trabalhava em seu próprio negócio vendendo produtos naturais. Henrique era muito educado e carinhoso com as palavras, o que deixou Isabela bem atraída pelo rapaz. Conversaram até as duas horas da manhã, depois se despediram e Isabela foi se deitar, pensando no rapaz até a hora que o sono veio.
No dia seguinte Isabela entrou no Facebook várias vezes esperando que Henrique viesse conversar com ela, mas isso não aconteceu. Ela ficou bastante ansiosa para ter uma nova conversa com ele. “Ele deve estar trabalhando, é muito ocupado”, pensou ela, se consolando. Ao chegar a noite foi para a faculdade, já pensando na hora que chegaria em casa, e que como no dia anterior, esperava encontrar o homem em que pensara tanto on-line.
A aula terminou, ela foi para casa, ligou o computador e lá estava Henrique para conversar com ela. Isabela deu um gritinho de alegria e se pôs a conversar com ele. Nessa noite fizeram uma chamada de vídeo e a jovem pode ouvir a voz do homem que estava aos poucos lhe conquistando. Ficaram nessas conversas pela internet durante pouco mais que uma semana, foi quando Henrique convidou Isabela para se encontrarem pessoalmente. A jovem excitou, mas logo aceitou o convite.
Combinaram de se encontrar na praça que ficava perto da universidade em que Isabela estudava, justamente no horário em que a aula começava. A jovem escolheu esse horário pois planejava matar aula naquele dia, já que contaria ao pai que iria pra escola como num dia normal, depois chegaria em casa no mesmo horário de sempre. Ela estava enganando o pai pois sabia que ele era muito preocupado com ela, e jamais a deixaria encontrar com um homem que conhecera na internet. Isabela não queria chatear o pai, mas era o único jeito de se encontrar com Henrique, o homem pelo qual ela estava... sim, estava apaixonada.
Sentada na praça, ela sentia a brisa bater em seu rosto, uma leve brisa de mês de outubro. Estava de camisa branca, pois fazia calor, por baixo usava um sutiã preto, uma calça jeans clara e um tênis Vans preto. Foi o que ela decidiu vestir para aquela noite. Olhou para o céu e viu que não havia nenhuma nuvem, no lugar delas haviam várias estrelas. “Não poderia ser mais perfeito”, pensou ela.
Alguns minutos depois o carro parou em frente a praça, aquele mesmo Fiesta preto da foto. O vidro do lado direito desceu e então Isabela viu Henrique ao volante. A jovem sentiu um frio na barriga e foi em direção ao carro sorrindo, abriu a porta e sentou-se no banco-carona. Eles se abraçaram, Henrique pegou sua mão direita e beijou-a.
— Você está linda! É muito mais linda pessoalmente que pela internet!
— Você que é lindo! — respondeu Isabela. —É um prazer te conhecer.
— O prazer é todo meu. Esperei ansioso para te ver.
Isabela sorriu novamente, não conseguia conter o sorriso diante de Henrique.
— E então, para onde iremos? — perguntou Isabela.
— Vou te levar a um lugar que você vai adorar. — respondeu o rapaz.
— É o nosso primeiro encontro e você já me conhece assim tão bem? — disse a jovem em tom sarcástico.
— Acredito que sim — sorriu Henrique.
Deu partida no carro e foram andando pelas ruas da cidade, naquela linda noite quente. Isabela olhava as luzes dos postes fundir-se com as luzes dos prédios e dos carros. No rádio uma canção que dizia “você é a razão da minha felicidade”. Os dois conversavam sobre alguns assuntos que já falavam pela internet, dando boas risadas. Isabela sentia uma sensação de realização, como se tivesse encontrado o que procurara a tanto tempo.
Andaram por alguns quarteirões e a jovem imaginava onde Henrique a levaria. Um barzinho ou uma lanchonete? Qualquer um seria bom na presença do rapaz.
Henrique guiou o carro então por lugares que Isabela não conhecia, entrando em uma rua deserta e com quase nenhuma iluminação.
— Para onde estamos indo? — Isabela sentiu-se no direito de perguntar.
Henrique freou o carro e de repente seu rosto mudou de expressão. Franzindo a testa ele levantou a camisa e tirou rapidamente da cintura um revolver 38, apontando-o para a garota.
— A partir de agora você fica calada, sua pirralha! — disse ele em tom rude.
Uma lágrima desceu do olho esquerdo de Isabela. Ela sentiu um misto de medo e decepção. Aquela atitude rápida foi como um soco em seu estômago, e sem saber o porquê, se lembrou do pai. Pôs as palmas das mãos nos olhos e começou a chorar desesperadamente.
— O que você quer? —disse ela soluçando.
— Você não me ouviu, vaquinha? Calada! — gritou o rapaz.
Isabela o olhava com os olhos arregalados quando ele levantou a arma e deu-lhe uma coronhada na cabeça. Depois disso, tudo escureceu para Isabela. Ficou inconsciente. Não sabe ao certo quanto tempo sua mente permaneceu naquela escuridão.
Quando despertou estava com uma forte dor de cabeça, em um cômodo, sentada numa cadeira com as mãos amarradas para trás, de forma que não conseguia se levantar ou mover. Olhou pelo cômodo, a sua direita e viu coisas horríveis. Numa espécie de cabide, três cabeças de mulheres amarradas pelos cabelos, cortadas na altura do pescoço, todas de pele branca e cabelos negros. No chão, abaixo das cabeças uma bacia cheia de sangue, o sangue que escorrera pelo pescoço delas. Ao olhar para esquerda viu uma mesa, próxima dela. Em cima, vidros de conserva com dedos dentro, dedos de mulheres, pois tinham unhas grandes pintadas de esmalte.Também em cima da mesa havia uma faca com a lâmina suja de sangue. Em frente à cadeira, numa distancia de três metros estava a porta, trancada. Ao lado da porta uma geladeira, e não queria nem imaginar o que tinha ali dentro. O ambiente era iluminado por uma luz fraca. Havia uma janela com uma cortina branca, manchada de sangue.
Isabela ficou ali examinando aquele lugar assustador, o pior lugar onde já estivera em sua vida. Tudo parecia um pesadelo, uma cena de um filme de terror, mas era real, e a única coisa que ela podia fazer, ali presa àquela cadeira, era chorar.
Não demorou muito até que ouviu passos vindos de fora e a porta se abriu. Por ela entrou Henrique, com um sorriso macabro no rosto. Foi até Isabela tocou-lhe o rosto com a mão.
— E aí, gostou do lugar pra onde te trouxe? — disse Henrique com ar sarcástico — Não é nenhum hotel cinco estrelas, mas é bem aconchegante.
Isabela não conseguia dizer nada, conseguia apenas chorar.
— Deixe-me desamarrar você, quero você mais solta essa noite.
Henrique deu a volta pela cadeira, e começou a desamarrar a corda que amarrava as mãos da garota. Logo em seguida agarrou o braço dela com força para impedi-la de correr e se pôs de frente para ela. Sorriu novamente, pôs a língua para fora e lambeu o rosto de Isabela.
Isabela sentiu nojo daquele homem, e com toda força que tinha, bateu forte com o joelho na virilha de Henrique, que gritou de dor, soltou o braço da garota e se pôs de joelhos com as mãos nos colhões.
Isabela deu dois passos para trás, encostando-se na mesa. Sem se virar tateou sobre o móvel até encontrar a faca que vira antes. Pegou-a e por instinto avançou sobre Henrique e fincou a faca em seu pescoço. Henrique começou a soltar um som engasgado pela boca, com a faca presa em seu pescoço que escorria sangue. Isabela bateu com a sola do pé no peito do rapaz que caiu agonizando, então foi em direção a porta, saiu do cômodo, viu a chave na fechadura do lado de fora, trancou a porta com Henrique do lado de dentro.
Olhou ao seu redor e viu que estava numa sala. Atravessou o recinto com pressa, até a porta, girando a maçaneta, constatou que estava destrancada. Saiu da casa, certificando que esta ficava numa rua deserta, sem asfalto e sem iluminação. Pôs-se a correr na direção que julgou ser a certa, correu até se sentir cansada, então continuou o trajeto fazendo uma caminhada rápida.
Em uma noite comum se sentiria com medo de andar numa rua deserta como aquela, sozinha, mas naquela noite, só conseguia se sentir aliviada por ter fugido das garras daquele maníaco.
Caminhou muito, o dia já estava amanhecendo, quando chegou à beira de uma estrada. Pôs-se a andar olhando para os lados, esperando ver um carro que lhe desse carona, o que seria sua salvação.
Passou um primeiro carro e ela fez sinal, mas este passou direto e não parou. Continuou andando por mais quinze minutos e então viu um novo carro se aproximando, um Gol preto. Isabela fez sinal e para seu alívio o carro diminuiu a velocidade e parou no acostamento. A garota correu em direção a sua salvação. Ao chegar no carro a porta de trás se abriu e ela entrou sentando rapidamente. Fechou a porta e só então olhou para quem estava ali dentro.
Três homens, um no volante, um no banco do carona á frente e um sentado no banco de trás ao seu lado.
— Muito obrigada por terem parado. — agradeceu a garota.
O motorista apenas assentiu com a cabeça.
Estava agora se sentindo mais calma, tinha finalmente encontrado ajuda. Tudo se resolvera, aquela noite terrível, a pior de sua vida, tinha finalmente acabado. Logo estaria em casa sã e salva, ao lado de sua família. Um final feliz.
— Vocês estão indo para a cidade? É pra lá que preciso ir. — indagou a jovem.
Isabela notou que todos os três eram mal encarados. O homem ao seu lado começou a encará-la de cima a baixo. Só então Isabela olhou para sua própria camisa, notando que estava respingada de sangue.
— A noite foi longa, mocinha? — perguntou o motorista.
— Sim, foi uma noite bem longa. — Isabela conseguiu responder.
Os homens soltaram uma gargalhada, o que fez Isabela tremer.
Então o que estava sentado ao seu lado agarrou-lhe pelos cabelos.
— Que linda você é. Íamos pra cidade, mas mudamos de idéia, mocinha. A partir de agora você é nossa! Vamos te levar para o nosso sítio.
Os olhos de Isabela encheram de lágrimas, não conseguiu gritar, só conseguiu sentir aquele misto de medo e decepção.
FIM