A PRIMEIRA VEZ QUE MORRI - CAPÍTULO 2

NO CAPÍTULO ANTERIOR:

A festa acaba e vou esperar meu primeiro ônibus, vomitei horrores na parada, depois de pegar três ônibus talvez eu chegasse em casa normal e minha tia não perceberia que bebi, mesmo assim, ela iria me perguntar porque cheguei tarde. Chego em casa e minha tia já me aguardava no portão. - Onde tu tava menino? Chegou muito tarde, quando tua mãe souber que você chegou essa hora, ela te manda de volta pro interior imediatamente.

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“As pessoas são tão desprezíveis’’

“Juan?’’

“Gente, o Juan não tá nada bem’’

“O Juan tá transtornado’’

“Vai nadando, nadando, pega o remo, puxa o barquinho’’

“Melhorou Juan?’’

“Gente, o Juan não tá nada bem’’

“O Juan tá transtornado’’

“As pessoas são tão desprezíveis’’

“Vou ligar para minha mãe’’

CAPÍTULO 2: MUDANÇAS E VIAGENS

- Oi, alô, alô, Vane?

- Oi, Zilda, o Juan tá bem?

- O motivo da ligação é justamente ele, ele andou passando mal por aqui, queria saber qual remédio você passava pra ele, ele não lembra. No mais, ele está bem.

- Meu São Francisco, ele tá mesmo bem? Se não tiver, fala logo, eu mando ele pra cá pra cuidar dele.

- Não é necessário, não precisa se preocupar, ele está bem. Só queria saber o nome do remédio mesmo.

Minha tia não contou para minha mãe sobre a bebedeira e o fato deu ter chegado tarde em casa, mas durante um ano tive que segurar a barra e me controlar, fiquei mais retraído e com vergonha. Agradeço muita a minha tia por te me acolhido na casa dela e ter me dado condições para continuar minha faculdade, mesmo distante da faculdade, era o único lugar que eu poderia morar. Mas a despedida não foi lá das melhores, nos últimos dias naquele bairro, aconteceu algo que me abalou por um certo tempo.

Eu já tinha descoberto uma rota mais rápida para a faculdade, agora eu pegava o metrô. Num belo dia pela manhã, acordei um pouco mais cedo, pois tinha uma prova e queria chegar um pouco antes para dá aquela última estudada com os amigos. Pego minha mochila e pego a rua que dá em direção a estação, estava muito estranho, era muito cedo, nunca tinha saído aquela hora. Peguei a rua da estação, que era mais esquisita ainda, de um lado o muro dos trilhos do metrô, do outro, casas fechadas, só tinha eu e a rua. De repente ouço um barulho de uma moto vindo em minha direção, atrás de mim, meu coração acelerou e tentei caminhar normalmente para não aparentar vulnerável, a moto passa por mim, buzina e vai embora. Nossa que susto, mas talvez o pior ainda estivesse por vir, literalmente, depois da moto, passou um carro vermelho com cinco pessoas dentro e ficaram olhando pra mim com os vidros do carro abertos, eles passam por mim, mas a uns 20 metros a frente eles diminuem a velocidade do carro e fazem o retorno, voltando em minha direção, pensei que não fosse nada, como a moto, eles param do meu lado e um deles desce do carro com uma arma e aponta pra mim.

- Encosta aí, passa tudo, coloca a mochila no chão e levanta as mãos.

Uma mulher dentro do carro fala:

- Tá ali, no bolso dele, o celular tá no bolso dele.

Eu falei em pensamento:

- Cala a boca sua vadia, amante do crime. Espero que não me sequestre, eu vou me fuder, minha família não tem nada.

Como se eu estivesse realmente falando, um dos cara fala:

- E não tente abrir o bico, se não leva bala.

Eles pegaram minhas coisas e colocam dentro do carro.

- Vai moleque, pode ir, sai correndo e não olhe pra trás.

Naquele momento eu não senti alívio, puta que pariu, eu achei que eles fossem me dá um tiro nas minhas costas. Corri em direção a estação, sem nada, sem celular, sem bolsa. Chego na estação ofegante, sem achar mais ar, olho para trás e não vejo mais

nenhuma movimentação, temi voltar e ser pego por eles de novo, coloquei minha mão no bolso e tirei uma nota de dois reais, por sorte eu também estava com a carteirinha do metrô.

Passei na catraca e subi para a plataforma, peguei o primeiro trem que passou, inclusive era o que ia na direção contrária a minha, apenas queria sair dali, sentei no fundo do vagão que estava de fato vagão, olhei para a janela de vidro e comecei a chorar. - Nossa, que droga, que má sorte, na última semana que moro aqui. E agora, levaram meu livro da faculdade, minha calculadora científica e meu celular, como vou pagar tudo isso? E a prova, como vou fazer desse jeito? (Olhei para a janela do metrô e comecei a admirar a passagem) - Nossa, esse lugar é bonito, sempre quis ir no fim da linha, não achei que fosse hoje. Cheguei no fim da linha e resolvi que eu deveria seguir, e ir para a faculdade, peguei o trem de volta e fui.

Passei toda a viagem no automático, só lembro quando a voz automática do metrô anuncia: “Próxima parada, estação 13, desembarque pelo lado direito. Observe atentamente o vão entre o trem e plataforma.” “Next stop, station 13, disembark on the right. Mind gap.’’ Coincidentemente, a estação 13 seria o local onde eu iria passar todos os dias e perto onde eu iria morar, mas eu ainda não sabia disso, por enquanto era apenas o local onde eu descia para pegar o ônibus da faculdade. No ônibus da faculdade encontro minhas amigas Carrie e Regina, elas me veem abalado e perguntam o que aconteceu comigo, eu explico toda a situação e falo que estava com medo de volta para onde eu morava e ser assaltado de novo,ou algo do tipo, Carrie falou que poderia dormir na casa e Regina falou que ficaria tudo bem e que poderia explicar a situação ao professor para me liberar de fazer a prova naquele dia, elas me abraçaram e me senti mais acolhido e seguro.

Fiquei o dia todo na faculdade e ao final do dia fui para a casa da Carrie, chegando lá, ligo para a minha tia para avisar que não vou dormir em casa. Carrie morava sozinha, era apartamento pequeno, mas era bonito e organizado. Ela começa a ligar para alguns amigos enquanto vou olhar a vista da sacada. - Juan, vamos relaxar, eu chamei uns amigos pra cá e vamos se divertir hoje, vamos esquecer esses negócios de prova e assalto e vamo encher o rabo de cana. Eu ri e concordei: - Vamos, estou precisando mesmo. Os amigos dela chegam, cada um com uma bebida, algumas bebidas eu nunca nem tinha visto. Ela olha para Luara e pergunta: - Ué, tu não trouxe nada mulher? - Hahaha, trouxe sim hehehe - Maldita, safada, tu trouxe marijuana. Começamos a beber, o teor das bebidas eram baixos, cerca de 7%. Eu estava de boas, calibrado, já era imune a uma certa quantidade de álcool. Lá para às duas horas da madrugada, depois de todo mundo se cansar, alguém resolve começar a bolar a marijuana. Foi a primeira e a antepenúltima vez que fumei marijuana na minha vida, por incrível que pareça, eu não senti nada, só fiquei olhando os outros da roda tendo viagens super alucinógenas e eu parado feito bocó. Na verdade eu tive uma leve viagem, mas foi uma viagem mais lúcida, imaginei vários fatos da minha vida até aquele momento, o quando eu tive sorte e pessoas que me apoiaram, também pensei na minha mãe, claro. Antes de vocês começarem a imaginar relatos de orgias e extravagâncias, essa ainda não é parte da história que fala sobre isso. Acabou a festa e todo mundo foi dormir, cada um em seus lugares, pelo menos essa foi a parte que vi.

No outro dia acordo bem cedo e pego o notebook de Carrie e entro nas minhas redes sociais para me atualizar e falar com algumas pessoas, entro também no meu e-mail e vejo que chegou uma mensagem na caixa de entrada, era do programa de apoio ao estudante, era um programa que auxiliava os alunos com vulnerabilidade e que moravam distantes da família, eu já sabia que tinha sido contemplado pelo programa de moradia universitária, mas ainda não sabia onde iria morar, na mensagem dizia que eu moraria na Casa dos Monges, era uma república só para garotos e ficava no bairro boêmio Finlândia. Fiquei entusiasmado e curioso para saber quem morava lá e esperançoso com a nova vida.

- Agora sim longe dos pais e parentes. O que será que vai acontecer agora?

“Eu acho que vou morrer, dorme comigo, Tone”

“Para Juan, tu vai ficar bem, tenho que sair’’

“Eu te amo”

“Você vai dormir, toma uma água para ficar melhor”

“Vou jogar essa porra no lixo”

“Tenho que ir lá fora”

“O céu está claro, geralmente o céu não está claro essa hora”

“Cadê a lua?”

“22:38”

“Nossa, caralho, graças à Deus”

PRÓXIMO CAPÍTULO: ERA ISSO QUE VOCÊ QUERIA, JUAN?

previsão de lançamento: 31/01/2020

Juan Bercles
Enviado por Juan Bercles em 28/01/2020
Reeditado em 04/05/2020
Código do texto: T6852160
Classificação de conteúdo: seguro
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