O CORVO
Por dentre as sombras sobrevoa,
O parapeito da minha envelhecida janela,
Minha imaginação essa ave povoa,
Cintila sob essa pálida luz da acesa vela!
Um monstro oculto no negrume,
Batendo suas asas com mórbida sinfonia,
Dispersa esse sepulcral perfume
Neste grasnar diabólico de imortal agonia
Negros olhos nas órbitas em brancura
Fitam-me com o terror mortal,
Pousado diante da retorcida sepultura,
Ali está o mensageiro infernal!
E observa-me com calada timidez,
Quando perturbado penso senão em agir
No terror de minha imóvel palidez
Que regela-me e insone não posso dormir
Maldita ave que aguarda o vindouro,
A minha partida deste mundo para o além,
Traz nas suas asas todo esse agouro
Para observa-me com seu ignóbil desdém!
Tento-me esconder com olhar torvo,
Nesta vida nasci sobre a estrela em má sorte
Agora esse monstro chamado corvo,
Apressa tão rápido a chegada da minha morte