133 - Cento e Trinta e Três
Quando acordou era uma amargo de boca sem corpo. Precisou de muito tempo para sair da letargia, para encarar a luz, para sentir o cheiro azedo que o envolvia. Depois dominou a dor e a tontura e só no fim bateu por dentro na porta enorme do Clube. Limpavam o pátio de copos, latas, garrafas partidas pelo que em breve estava de novo na rua e livre da comemoração. Ergueu mole o braço num agradecimento por ainda não ter palavras coerentes e cambaleou até ao único carro que restava no estacionamento. A gravata existia no peito vomitado, a camisa estava aberta, as chaves no bolso do casaco. Viera com amigos e reentrava só na sua vida de escravo, de hábitos iguais como se nunca a tivesse abandonado. Ainda aceso e em algarismos gigantes, piscava em intermitências vermelhas e azuis um número na fachada do prédio: 2020.