Por Amor

O ar parece mais pesado e o Sol irrita sua cabeça raspada. Feições animalescas, quase dois metros de altura, musculoso. A camiseta surrada esconde suas tatuagens monstruosas. Acabou de sair da prisão, pela quinta vez. Está sentado em um banco de praça. Dois garotos jogam bola, pequenos porcos roliços, cheiram a sabão de coco. Ar puro, pessoas, Sol, liberdade... Essas coisas não substituirão aquela sensação de paz quase doentia que ele tinha com Ela. Precisa Dela, voltar para Ela. E fará o que for preciso para isso.

Algumas mães conversam em um banco dez metros à direita, um pai solitário lê um jornal doze metros à esquerda. Um ônibus quase atropela uma velhinha, uma garota deixa o picolé cair. Bola de futebol acerta sua careca, esbugalha os olhos. Trinca as presas cariadas. Um garoto pega a bola e volta a jogar, sem pedir desculpa. Precisa fazer algo para voltar para sua amada, ou vai enlouquecer.

Anda até onde as crianças brincam. Um homem se aproxima, desconfiado. O ex-detento se aproxima de uma mulher. Nada pessoal, é por amor. Então temos uma cena quase “chavesca”. Quando ele agarra uma menina pelos cabelos (não muito forte, ele não quer machucá-la), o homem tenta defendê-la e recebe aqueles três cruzados típicos do Menino do Oito. Faltou ele dizer “toma, toma, toma”. O adversário, desmaiado, deixa cair um isqueiro, o que lhe desperta uma ideia. Pega o objeto – achado não é roubado – e atravessa a rua. Quanto tempo demora para um bar ficar totalmente queimado? Não faz diferença. O importante é que não vai demorar muito para ele voltar para sua amada.

Acende o isqueiro.

Quem não amaria comida e academia de graça, boa companhia e um banho de Sol de vez em quando?