O dom
Paulo, de joelhos em frente ao altar, agradecia à Deus as bênçãos recebidas.
Era sua rotina diária, logo pela manhã ir à igreja e agradecer o dom.
Parava quando sentia seus joelhos dormentes. Considerava uma pequena penitência frente a graça concedida.
Pronto para começar o dia, desceu a rua e viu o carro-forte em frente a lotérica. Atravessou e foi até os seguranças. Os encarou por um instante. Entregaram-lhe o malote com o faturamento do final de semana.
Calmamente, rumou para seu carro, encheu o porta-malas e voltou para casa.
Logo que deram falta do dinheiro os seguranças acionaram a polícia. Após serem ouvidos, o delegado prendeu todos em flagrante por roubo.
A impressa se acotovelava na porta da delegacia para entender o caso. O delegado declarou:
“A polícia está se empenhando mas até o momento não sabemos como esses homens realizaram o crime.”
Foi interrompido por um repórter:
“E como a polícia sabe que foram eles? O que disseram?”
O delegado respondeu:
“Ao que parece não combinaram uma história para o caso de serem apanhados e ficam repetindo a mesma insanidade : que quando se deram conta o malote desapareceu.”
Neste momento, Paulo estacionava o carro na porta de sua casa. Abriu o porta-malas, pegou o malote e entrou. Não contava que seu vizinho, com quem já teve vários desentendimentos, o flagrasse chegando com o produto do roubo.
Não se contendo, o vizinho conclui que Paulo era cúmplice.
A viatura chega e o vizinho espera no portão. Não podia perder isso.
Assim que Paulo apareceu na porta foi informado que deveria acompanhá-los para ser ouvido.
Com calma, perguntou:
“De que sou acusado?”
O policial:
“O senhor foi visto em posse de um objeto que pode ter relação com o assalto lá no centro.”
Ele retrucou:
“Quem viu isso?”
O policial impaciente:
“Senhor, foi denúncia anônima. Vamos embora, no distrito tudo vai ser esclarecido.”
Neste momento, Paulo viu o vizinho e a satisfação em seu rosto. Entendeu tudo.
Não restando outra saída, caminhou em direção aos homens e os olhou fixamente. Sacaram suas armas e fuzilaram o bisbilhoteiro.
No boletim de ocorrência os policiais declararam que o sujeito reagiu com violência quando lhe foi dada voz de prisão por cumplicidade no assalto. Todos confirmaram a história mesmo não se lembrando do que realmente aconteceu.
Nesta noite, voltou a igreja pois tinha mais o que agradecer.