Querido lar

Era uma tarde de terça feira e eu estava só em casa. Comecei ouvindo passos correndo da cozinha para o quarto e quando vi a silhueta por de trás da cortina, terminando em pés sujos expostos na parte onde ela não chegava ao chão, eu não soube o que fazer. O coração batendo forte e a aparição lá, esfreguei os olhos e quando os abri, nada. Estava sentado no sofá, e a cortina era a minha direita, levantei balancei ela e os passos correram atrás de mim, senti o calafrio percorrer a espinha, virei rápido e com o canto do olho tive a impressão de ver uma sombra passar para o quarto. Era um tarde de sol e a casa estava bem iluminada, eu ficava várias vezes só e isso nunca havia me acontecido, por isso pensei ser coisa da minha cabeça. Fui até o quarto, olhei a cozinha, conferi toda casa, fui olhar atrás da cortina de novo e no reflexo do vidro vi uma pessoa encostada na parede, me olhando com ar tranquilo. Virei de pressa, os olhos lacrimejaram turvando a visão, as perna tremiam e não havia nada lá. Eu não queria mais ficar dentro de casa, era dia e eu só podia estar ficando louco. Não havia ninguém na casa além de mim.

Calcei as chinelas e comecei a andar decidido rumo a porta, o caminho do sofá até lá nunca pareceu tão longo, meus músculos tremiam tensionados sob a pele, meu pescoço doía como se alguém se escorasse nele, as veias da cabeça latejavam, cada passo parecia ter o peso do mundo levando meu corpo nos 4 metros do sofá a porta, a exaustão total. Eu suava e respirava de forma ofegante, os pensamentos ezauriam mais o corpo pois disseminavam medo nas veias, alguma coisa estava ali, me impedindo de fugir da casa, o ambiente se tornava cada vez mais frio, a ponto de condensar o ar que saia da minha boca. Ao erguer a chave para abrir a porta, pude ouvir risos atrás de mim. Não ventava, e nem o barulho dos carros na marginal ali perto chegava mais no local, tentei olhar para traz mas minha cabeça pareceu que explodiria caso eu completasse o movimento. De canto de olho vi o chão e as paredes da casa banhados de sangue. A mão trêmula chegou a fechadura, quando abri e consegui sair da casa, senti dois tapinhas no ombro e escutei de leve um sussurro que soprou "obrigado pela carona", me arrepiou até os cabelos das unhas, um vento forte rompeu batendo com violência a porta da casa. Senti de novo minha musculatura relaxada. Ainda não consegui entender o que aconteceu, felizmente não aconteceu de novo. Porém nos dias que tenho de ficar só em casa, não saio mais do quarto.