O VISITANTE DA MEIA NOITE.

Renato puxou a coberta. Sentia frio. O silêncio era cortado pelo tic tac constante e chato do relógio de parede da sala. As mãos buscaram o cobertor. Um arrepio percorreu seu corpo ao sentir a presença de alguém em seu leito. Uma força descomunal o puxava para o abismo. Renato viu seu corpo caindo numa cachoeira. Águas cristalinas. Ele afundou. Renato tentou gritar. A voz não saiu. A respiração ofegante. Pensou nos pais. Sentia muito frio. Tentou, em vão, virar para o lado. -" Salve Rainha, mãe de misericórdia...." Não se lembrava do restante da oração. De novo aquela sensação de impotência. Algo o empurrava contra a parede. Abriu os olhos. Arrepiado. Sem forças. O quarto escuro. O cômodo sem porta. Uma cortina apenas entre o quarto e a sala de estar. O pano se mexeu. Renato viu dois olhos grandes. Havia alguém o espionando!! Um homem com um balde de água nas mãos!!! -" Quer água, Renato?!!????!" Indagava o homem horripilante. -"Pai nosso, que estais no céu...." Dessa vez Renato rezou a oração inteira. O moço começou a tremer. Os dentes batiam de frio e de medo. -"Essa casa é mal assombrada!!!" Pensou ele. Apertou os olhos. Pensou em fatos do cotidiano pra afastar aquela sensação estranha. O jogo de futebol, as matérias da escola, um show da tevê. Pareceu funcionar pois os olhos pesaram. Um torpor. Um sonho. Renato se viu caminhando. A cidade. Uma avenida. Um caminhão pipa avançou sobre ele. Renato pulou para a calçada. Todo molhado. Ele despertou e sentou-se. -"Deve ser quase meia noite." Um braço caiu sobre ele. -"Aaaahhhhhh!!!!!" Um grito de horror. Renato correu e acendeu a luz do quarto. Seu irmão Roberto roncava, na parte de cima do beliche. O braço do irmão o assustara. -"Tenho que fazer xixi!!!!" Olhou a cortina. Deu um golpe de judô no pano estampado. -" Sai assombração!!!! Vade retro!!!!" Acendeu a luz da sala e do corredor que dava para o banheiro. Ouviu o ronco que vinha do quarto dos pais. A casa quase toda acesa. Se sua mãe visse a cena diria que ele não era sócio da CPFL pra ficar com a casa toda acesa. Dona Josefa era hiper, mega econômica. Renato voltava para seu quarto. -" Os pesadelos com água eram alertas do meu corpo pra que eu fizesse xixi!!!! Que coisa!!!!" Disse a si mesmo, enquanto passava pela sala. Apagou a luz. A porta da sala chamou sua atenção. Era metade de ferro, metade de vidro. Renato olhou atentamente. Algo se mexia lá fora, no alpendre. Ele se arrepiou inteiro. -" Meu Deus. Estou acordado agora. Eu estou vendo alguém sentado no nosso alpendre??!?!!!!" Se aproximou da porta. Noite de lua cheia. Ele olhou bem. Havia alguém sentado no alpendre sim. -" Não estou louco!!! O pai e sua mania de não passar o cadeado no portão!!! Algum doido entrou em casa!!!!" Pela janela era mais nítido. Alguém no alpendre balançava as mãos. Renato correu para o quarto dos pais. Chamou por eles. Orlando e Josefa estavam com caras de sono. Renato cochichando. -" Pai, tem gente no alpendre!!! Invadiram a casa!!!!" Orlando levou um beliscão da esposa. -" Pra você aprender a colocar o cadeado as noite, velho!!! Algum bebum ou drogado entrou em casa!!!!!" Orlando foi pra cozinha e voltou com uma faca na mão. Josefa pegou uma vassoura. Sem acender a luz, olharam para a porta. -" Tem gente lá fora!!! Mexeu as mãos, eu vi!!!!" Cochichou Orlando. Josefa abriu uma vidro da janela. -" Quem tá aí??? Vão embora ou chamamos a polícia!!!!" Gritou a mulher, energicamente. Orlando piscou a luz da sala. -" Tenho um trinta e oito comigo. Vou lhe picar na bala se não for embora!!!" Renato quis rir do blefe do pai, com uma faca enferrujada na mão. Roberto saiu do quarto. -"Que presepada é essa?!? Vocês todos nesse breu!!!???? Vão acordar o bairro todo." Renato apontou pra porta. -" Tem gente lá fora, mano. Olhe...." Roberto ficou com medo. Se benzeu. -" É bicho. Tem uma coisa se mexendo sim. Pode ser o chupa cabra ou um extraterrestre!!! Né gente não!!!!" Josefa tomou o celular. -" Vou ligar pro nosso vizinho, Fernando!!! Ele é guarda municipal!!!!" Renato abraçou o irmão. -" Se o Fernando não vier??? Nós sairemos e expulsarem o intruso na força!!! É o jeito!!!!" Josefa fez sinal de vitória. -" Ele atendeu!!! Está vindo com a arma semi automática!!!! Falei pra ele que o portão está sem cadeado!!!!" Nem cinco minutos depois, viram uma luz muito forte. Passos no alpendre. Orlando cochichou. -" Vamos deitar no chão. Pode sair tiro!!!!!" A luz se apagou. Mais passos. A luz forte no alpendre. -" Sou eu, Fernando!!!! Podem acender a luz de fora!!!!!" Orlando destrancou a porta. Josefa acendeu a luz da sala. Estavam tensos. -" Boa noite, Fernando. Muito obrigado pela ajuda!!!! Estamos aqui borrados de medo!" Disse Renato. -"Quem estava no alpendre, afinal????!!!??" Perguntou Roberto, curioso. Fernando desligou a potente lanterna. -" Fui ao quintal e na frente da casa. Não tem ninguém aqui fora, pessoal." Orlando estava incrédulo. Saiu pra fora, a fim de confirmar. -" Renato viu primeiro. Eu, Josefa e Roberto também vimos alguém ou algo no alpendre. Nós vimos!!!!!" Fernando entrou na sala. Ele fechou a porta. -"Vou mostrar o que vocês viram!!! É assustador!!! Atenção!!!!" Fernando apagou a luz da sala e do alpendre. Renato apontou o dedo. -" Lá está!!! Está lá fora de novo!!!!" Fernando abriu a porta. Acendeu a lanterna. -" Era apenas esse vaso grande, pessoal. O vento forte sacode as folhas da planta, dando a impressão de alguém de braços abertos!!!! A nossa mente cria peças!!" O riso foi geral. -" Quatro marmanjos com medo de um vaso!!!!" Repetia Roberto. Fernando voltou para sua casa. No dia seguinte, Josefa e Orlando trocaram o vaso de lugar. Renato comprou um grande cadeado para o portão. Colocou portas de madeira na sala e no seu quarto. Também passou a rezar sempre, antes de dormir. FIM

marcos dias macedo
Enviado por marcos dias macedo em 01/12/2019
Reeditado em 01/12/2019
Código do texto: T6808125
Classificação de conteúdo: seguro