MORTE NA TORRE!
 
Não sabemos quando aquela loucura toda começou.
            De um dia para o outro eclodiu.
            Só sei que estava fugindo com minha esposa e nosso bebê de seis meses preso ao corpo dela por aquela cadeirinha de criança.
            Ela chorava em desespero:
            - O que fazemos, querido? Socorro!
            Quem poderia ouvir seus gritos quando todos precisavam de ajuda?
            Podia ver o banho de sangue do alto daquele prédio de 30 andares. As sirenes da polícia, dos bombeiros e ambulâncias eram, aos poucos, silenciados pela turba insana. A multidão convertia-se naquela forma medonha com enormes maxilares. As pupilas ficavam negras, enormes, tomando todo o espaço orbital. A voracidade era por carne. Qualquer carne. A humanidade ruiu em questão de dias. Corremos e fugimos o máximo possível. Descarreguei minha pistola até ficar sem balas. Ao subir naquela torre havia agora apenas uma no meu cartucho e o que fazer me atordoava. Matar minha esposa? Sufocar pelas mãos meu filho?
            Agarrada a mim. Sabendo da minha intenção. Ajoelhou ela aos meus pés enquanto o bebê chorava.
            Apenas abaixei e lhe pedi perdão.
            Os inimigos batiam ferozmente contra a porta de aço que eu lacrara com uma barra de metal. Não duraria muito. Seríamos alimento da vida que agora levavam. Sem vaticinar, vi que arrobaram. Um homem forte à frente nos viu. Gritou aquele brado de fera e correu em nossa direção. Nosso tempo findara. Agarrei minha esposa e filho e saltamos da torre juntos e abraçados. A queda durou uma eternidade e enquanto mirava nos olhos dela, pela última vez, vi que suas pupilas dilatavam e seu maxilar se deformava. Como? Fora infectada e eu não vi? Antes do baque final senti sua mordida em meu pescoço e o resto, agora, é apenas a memória de um passado em que éramos felizes...