A CAVERNA

No ano de 1986, Alfred acordou com a ligação do amigo Marcus, ou simplesmente Caco o sapo, apelido que ganhou no trabalho. Marcus estava empolgado com um passeio nas cavernas do parque estadual. Na verdade tentava animar o amigo Alfredo que havia perdido a mãe recentemente, vítima de um ataque cardíaco.

Alfred chegou a recusar o convite pois não gostava de nenhuma atividade com riscos mas diante da insistência do amigo acabou aceitando. Da janela do seu quarto Alfred tinha uma visão magnífica das montanhas onde ficava o parque. Sabia que os passeios nas cavernas do parque eram uma atração a parte que atraia milhares de visitantes todos os anos, mas nunca se aventurou por achar perigoso. Contudo após a morte súbita da mãe achou que a vida que podia acabar a qualquer momento e então acabou aceitando o convite do amigo que não via fazia já algum tempo.

Marcus ficou radiante e ficou de providenciar tudo. Uma semana depois Marcus ligou combinando o dia e horário que passaria na casa de Alfred para irem juntos. Alfred confirmou que iria e no dia se dirigiu a rodoviária para pegar o ônibus que iria leva-los.

A viagem até a entrada do parque levou quase duas horas. Era um dia de sol e haviam muitos visitantes do parque estadual, alguns grupos carregando equipamentos para passeio nas cavernas do parque. Todos iam animados, alguns cantando, outros conversando animados em alta voz e Alfred até que ficou animado.

Chegaram pouco antes das onze da manhã e caminharam pelo belíssimo parque com suas arvores centenárias e em meio a famílias, crianças carregando balões, palhaços para animar as atividades, e amigos fazendo piquenique juntos. Tudo prometia ser um dia agradável para os dois amigos.

Alfred perguntou a Marcus se ele tinha feito contato com um guia para o passeio nas cavernas ao que Marcus respondeu que havia feito melhor do que isso. Havia telefonado para o parque e pedido informações de grupos de especialistas em passeios daquele tipo e o pessoal do parque ficou de entrar em contato e dar o telefone, no mesmo dia, à tarde, recebeu a ligação que um grupo estaria esperando por eles no dia e horário combinados.

Alfred ficou tranquilo ao saber que o passeio seria com especialistas. Ao chegarem a proximidade da entrada do complexo das cavernas, viram muitos grupos animados de pessoas interessadas no passeio. Marcus e Alfred se perguntaram qual daqueles grupos seria o deles, então, ouviram uma voz atras deles dando as boas vindas. Ao se virarem viram um grupo 8 jovens muito simpáticos. Um deles se aproximou o confirmou os nomes:

Alfred e Marcus certo?

Sim. Acabamos de chegar, tudo bem?

Sim. Eu me chamo William e estes são meus amigos: Mary, Laura, Jason, Robert, Paul, Alex e Steve. Estão prontos?

Sim estamos. Mas não temos experiencia.

Sem problemas. Assim é melhor ainda. Basta nos seguir e não se afastar do grupo. Trouxeram o equipamento?

Sim estamos com o equipamento que o parque recomenda.

Então vamos lá.

Começaram a vestir o equipamento e Alfred notou a jovem Laura o olhando. Era realmente linda, olhos verdes, cabelos castanhos claro e um rosto lindo. Ele sorriu para ela e a moça retribuiu com um sorriso lindo.

Marcus notou que o grupo era muito unido e de boa gente. Parecia que tinham muita experiencia pelo que falavam animadamente entre si, todos cordiais e simpáticos.

Checaram os equipamentos e começaram a descer. Já eram o ultimo grupo a entrar na caverna. Alex brincou dizendo: "Lembrem-se os últimos serão os primeiros".

Começaram a descer pelas trilhas principais então chegaram a uma galeria onde haviam várias passagens. William indicou uma pequena passagem e começaram a descer. Alfred e Marcus se adaptaram muito bem e estavam à vontade, como se tivessem prática de muitos anos ao que Steve elogiou dizendo que eles eram muito bons.

Na medida em que desciam começaram a encontrar trechos de difícil acesso para prosseguirem. William disse que iria na frente e que era fácil, apenas tinham que seguir os passos dele. Chegaram ao fim de um túnel em que havia um grande precipício separando o grupo do outro lado onde havia uma abertura por onde poderiam prosseguir. Entre um lado e outro, várias pedras formavam um caminho perigoso que conectava um lado ao outro.

William disse para esperaram e jogou uma pedra mas não ouviram o som do fundo. Alfred comentou: Nossa é muito fundo, nem dá para ouvir o som. Robert respondeu que a caverna tinha trechos assim mesmo e que era comum. Alex brincou dizendo sorridente: Isso aqui é um ritual que a gente conhece bem.

William foi o primeiro a atravessar seguido por Alex e Mary. Parecia seguro ao que Alfred fez a passagem com muito medo mas chegou em segurança ao outro lado. Marcus atravessou seguido pelo resto do grupo que demonstrava muita prática.

Seguiram pela abertura e desceram por mais de uma hora. Chegaram então a um trecho com uma pequena trilha em um paredão. William chamou a atenção que muitos já haviam morrido ali e pediu atenção. Novamente foi na frente seguido pelo grupo. Jason comentou que a trilha era escorregadia e que deviam ter cuidado, ir sem pressa.

Foi quando Robert pisou em falso e, perdendo o equilíbrio, caiu levando Alex que tentou segura-lo. Foram caindo, gritando por William e batendo contra as rochas até que não se ouviu mas os gritos deles.

Todos ficaram em silencio por um longo tempo olhando para baixo, na escuridão. Foi quando Alfred disse que deviam descer para ajuda-los ao que William disse que aquilo sempre acontecia e que não tinha como arriscar uma missão de resgate ali e que deviam prosseguir e pedir apoio para o resgate.

Seguiram vagarosamente ate que chegaram em outro túnel. Alfred olhou para Marcus que estava assustado. O resto do grupo estava abatido com a perda dos amigos. Alfred disse a William: Pensei que você tivesse dito que era seguro. William se voltou para Alfred e respondeu, com um olhar de tristeza, que aquilo sempre acontecia e vocês não são os primeiros e nem serão os últimos a verem estas coisas nestas cavernas e então falou ao grupo para prosseguirem.

Seguiram cautelosos, sempre descendo, e chegaram a uma outra galeria onde encontraram várias mensagens na parede. Uma delas chamou a atenção de Alfred onde dizia: Até aqui chegamos mas não conseguimos encontrar a saída. Socorro. Patricia, Bill e George. 08/04/76.

Marcus perguntou a William se ele conhecia a saída e ele sorriu e respondeu de volta, sim claro, não se preocupe, este grupo se perdeu faz uns dez anos. Mas eles não conheciam estas cavernas muito bem e isso é perigoso aqui embaixo. A saída é por ali, mostrou indicando uma abertura entre as rochas. Marcus perguntou e eles conseguiram sair ao que Mary respondeu não, eles nunca mais foram encontrados.

O grupo seguiu pela abertura estreita e Alfred sentiu uma brisa sinal de que estavam perto de alguma saída. Andaram se arrastando entre as paredes por mais uns quarenta minutos e já estavam cansados quando encontraram um grande abismo com rochas empilhadas que formavam uma ponta para o outro lado.

William pediu muita atenção e calma e após avaliar a ponte por um longo tempo pediu para irem um de cada vez e seguirem os passos dele. Como sempre William foi na frente e alcançou o outro lado da ponte em segurança, seguido por Laura, Mary, Steve e Alfred. Marcus seguiu com cuidado e num instante a rocha rolou e Marcus olhou para o amigo Alfred como se não acreditasse no que estava acontecendo e caiu junto com varias rochas no abismo que caíram sobre o corpo dele, atingindo-o mortalmente, enquanto rolava abismo abaixo. Paul e Jason olharam para o grupo do outro lado por um longo tempo e depois em silencio atravessaram a ponte, um de cada vez, pisando com cuidado em cada rocha, suspirando fundo ate que atravessaram.

Alfred agarrou William e o derrubou no chão dizendo que ele havia deixado Marcus morrer dizendo que poderiam atravessar. William pediu calma e disse que havia pedido para seguirem os passos dele mas que não disse que era seguro. Jason e Paul pediram calma e separaram Alfred e William. Laura pela primeira vez falou com Alfred e disse: Aqui embaixo nunca é totalmente seguro, sempre há riscos. Essa não é a primeira vez que isso acontece. Vocês não deviam ter vindo se não querem correr risco.

William se levantou e respondeu a Marcus dizendo que entendia o que ele estava sentindo porque já havia perdido três amigos naquele dia e então disse que deveriam voltar e indicou o caminho quando notaram que Jason havia desaparecido.

Gritaram por Jason por vários minutos e procuraram em todas as direções. Por fim, decidiram voltar seguindo o caminho indicado por William.

Começaram a longa subida por caminhos estreitos. Um frio congelante reinava naquele lugar. Todo o grupo em silencio, sem trocar palavras. Alfred olhou para Laula que mais uma vez correspondeu o olhar mas desta vez com um olhar triste.

Subiram por várias horas e fizeram várias paradas para descanso. Alfred notou que a temperatura caia e que o grupo estava visivelmente abatido. Recomeçaram a subida apos um último descanso de dez minutos.

Chegaram a uma travessia por mais uma estreita passagem entre o paredão e um grande fosso com pontiagudo estalagmites no chão. Antes de iniciarem a travessia Mary correu gritando de alegria na frente do grupo dizendo que a saída estava próxima e que mal esperava para sair.

William disse que ela estava certa e que estavam chegando quando viu o semblante e Mary mudar e ela olhando para cima dizer assustada Jason e caminhar em direção ao fosso. Todos gritaram quando várias rochas caíram em cima de Mary, precipitando-a para o fosso e fazendo-a cair sobre as estalagmites, tendo o corpo transpassado por varias pontas afiadas.

Laura, William, Alfred, Steve e Paul olharam para baixo e viram que Mary ainda estava viva. Mas William recusou-se a descer dizendo que deviam sair da caverna imediatamente e pedir ajuda.

Alfred protestou mas acabou vendo que o resto do grupo também pensava como William. Começaram a se afastar quando Mary começou a cantarolar canções de sucesso dos anos 70 enquanto morria lentamente no fundo da caverna.

Subiram por mais umas duas horas até que chegaram a galeria inicial de onde subiram rapidamente para a entrada do complexo de cavernas. Saíram e já era noite e chovia muito. Alfred achou que deviam chamar os guardas florestais para pedir ajuda mas viu o grupo exausto e caminhando para longe da caverna.

Foram a uma área de Camping e ficaram descansando, sentados nos bancos em silencio, quando William se levantou dizendo: está consumado e simplesmente caminhou em silencio em direção a uma outra entrada do complexo de cavernas.

Alfred gritou para William perguntando onde ele ira mas não teve resposta. Em seguida Laura, Steve e Paul se levantaram e seguiram William. Steve se voltou para Alfred e disse que tinham que voltar para buscar os amigos ou então ficariam lá para sempre.

Alfred pensou que estavam loucos em descer em ajuda mas mesmo assim seguiu o grupo. Caminharam por mais um pouco e então encontraram a descida para a entrada, parecendo uma entrada de estação de metrô com uma escada ampla e iluminada.

Alfred desceu seguindo o grupo mas só avistou Laura e Paul que seguiam atras. Laura olhou uma ultima vez para Alfred e sumiu na escuridão da caverna, seguindo Paul.

Alfred ficou parado, indeciso por alguns minutos, enquanto a chuva ficava cada vez mais forte. Por fim, desceu as escadas e foi atras de Laura e do grupo.

Notou que esta parte do complexo de cavernas era mais antiga e mais difícil de descer mas seguiu com cuidado. Gritou por Laura mas não ouviu resposta. Seguindo o único túnel achou que fosse encontra-los rapidamente mas desceu por mais de trinta minutos o único túnel de descida e não encontrou ninguém do grupo. Gritou por vários minutos e iluminou o caminho que dava para uma área mais ampla.

Quando viu a figura de um homem. Era Jason mas estava diferente. Seu aspecto era o de quem estava morrendo e ficava perguntando pelos amigos William, Laura, Robert. Perguntava onde eles estavam e quando o deixariam ir embora.

Alfred notou algo estranho. Viu luzes de lanternas no fundo da área onde estava mas se lembrou do conselho que sua mãe sempre dava, que nunca fizesse nada quando estivesse em dúvida porque a dúvida era um mal sinal.

Então olhou novamente e viu que Jason caminhava em direção às lanternas mas sentiu que deveria sair dali imediatamente. Subiu correndo o tunel de volta e caiu varias vezes, sentindo como se estivesse sendo seguido. Continuou correndo como nunca havia corrido na vida até que viu as amplas escadas e subiu correndo até sair da caverna e chegar ao parque cheio de arvores e vegetação.

Ainda ali sentiu que não estava seguro e deixando todo o equipamento para trás desceu correndo, passou pela área de camping até que encontrou a trilha principal do parque florestal e desceu correndo quando foi encontrado por um guarda florestal que estava fechando seu turno e olhou assustando para Alfred.

O guarda ficou mantendo distancia até que por fim se aproximou de Alfred que pedia socorro. O guarda o levou ao escritório do parque onde havia um outro guarda florestal, veterano, um senhor idoso que estava para se aposentar em breve.

O guarda veterano olhou para Alfred e perguntou o que estava acontecendo e Alfred contou toda a história. O outro guarda fechou a porta e disse que tinha terminado o turno e que iria embora. O guarda veterano tirou o chapéu e arrumou os cabelos grisalhos e disse a Alfred que ele e seu amigo Marcus estava desaparecidos faziam 3 dias enquanto se levantou e foi até um arquivo de onde tirou uma pasta.

Alfred pensou em quanto tempo havia ficado lá embaixo nas cavernas mas não pensou que houvessem passado 3 dias.

Alfred observava tudo em silencio. O outro guarda trouxe um café para Alfred. O guarda veterano pegou uma ficha com uma foto e mostrou a Alfred peguntando se o grupo que havia levado ele e Marcus para a caverna era o grupo da foto ao que Alfred reconheceu William, Laura, Robert, Jason, Paul, Alex, Mary e Steve.

Alfred confirmou que eram eles. O veterano olhou para o guarda e disse algo como eu não lhe disse. Em seguida falou para Alfred que já era tarde. Pediu para o guarda fazer uma ficha e em seguida levar Alfred para a cidade próxima onde ele poderia pegar um ônibus para casa.

Alfred pediu mais explicações ao que o Veterano disse que o grupo havia desaparecido há dez anos, em fevereiro de 1976. Seus corpos nunca foram encontrados e muitos diziam que eram satanistas. Seu líder William pertencia a uma seita que adoram as forças da natureza, o Deus antigo, coisas assim. Ele influenciava os jovens naquela época e os levava para rituais nas cavernas mas depois que houve alguns desaparecimentos e boatos sobre rituais nas cavernas, a polícia começou a investigar ele e então ele desapareceu nas cavernas com este grupo aqui.

Desde então havia sempre um caso de desaparecimento por ano, apenas um, mas todo ano, alguém desaparecia naquelas cavernas. Ele sempre achou que tivesse a ver com aquele grupo de fevereiro de 1976, pois os desaparecimentos começaram depois que eles sumiram naquelas cavernas.

O guarda veterano disse que agora tinha certeza pois Alfred foi o primeiro a ver o grupo e sobreviver para contar a história que ele suspeitava.

Alfred ficou em pânico e o veterano pediu se acalmar e que estava tudo bem agora. Em seguida pediu ao outro guarda florestal para leva-lo a rodoviária da cidade vizinha. Mas que antes fizessem o registro para a equipe de resgate. Alfred comentou que talvez encontrassem algo ao que o guarda veterano respondeu nunca encontraram.

O Chevrolet descia lentamente na chuva pela trilha principal do parque quando Alfred olhava pelo vidro do carro o veterano na porta do escritório acenar. O guarda o deixou na rodoviária e esperou até que ele embarcasse no ônibus de volta a sua cidade. Ao embarcar o guarda falou para Alfred em tom amigável, um conselho: Nunca mais volte ao Parque, nem visite aquelas cavernas novamente.

Pela janela do ônibus Alfred ficou olhando a montanha do parque florestal, enquanto o ônibus seguia pela estrada chuvosa e escura levando Alfred para casa.

FIM.

Cronista das Trevas
Enviado por Cronista das Trevas em 16/11/2019
Reeditado em 16/11/2019
Código do texto: T6796231
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