cereja do bolo

Nathan sempre adorou aquela tonalidade azulada transparente e pura. Dos rios. Do mar. De piscinas. Adorava odiosamente aquela tonalidade na qual ele não conseguia se pôr nela de maneira segura, pois nunca aprendeu a nadar, não importa o quanto ele tenha tentado, assim como em sua vida, há uma correnteza entre ele e manejá-la a qual não consegue quebrar. Embora, quando três alunos de classe o pegaram aos seus gritos chorosos e o arremessaram em balanço acima da rampa de salto na piscina de natação vazia da escola – não foi a primeira vez –, Nathan sentiu como se a sua espinha quebrasse quando bateu nʼágua de costas como um saco de areia. E tal como em areia movediça, Nathan se afundava se debatendo, engasgando a sua inutilidade dentre aquele vasto tom fóbico. Ele se rendeu levemente como uma pena sozinha decaída da graça à profundeza azuladamente silenciosa. Dizem que a esperança é a última linha cardíaca que persiste, e como último pensamento, Nathan esperou desejadamente que a Morte decaísse sobre as cabeças daqueles três a observá-lo de seus pedestais. E Ela pairou pelo o teto do ginásio, um breu desconhecidamente uniforme. Do fundo da piscina Nathan A avistou e a sua chegada com os gritos turvos dos três que o jogaram, e avistou arregaladamente a se engasgar nʼágua expirando bolhas quando Ela o entregou uma das cabeças deles decepada adentro da piscina como a entrada do menu que ele desejou. E mais outra, no outro lado. E por fim, como a cereja da sobremesa, a outra cabeça. O vermelho rubro das três cerejas com cabelo rapidamente se mesclou ao tom azulado mas como a chama imparável fumacenta que engole a uma mata virgem. E como a um salva-vidas, Ela estendeu adentro dʼágua uma mão ossada com veias velhacas saltitadas figurando o tempo em que Ela transita pela a nossa existência e com suas grandiosas unhas rubras se liquidificando avermelhadamente ao tom puro, puxando Nathan afora. Ele se viu turvamente exclamar com a boca esganiçada por ar agarrado à beirada da piscina. Entreolhou afobado arregaladamente ao seu redor, procurando por Ela, e só vislumbrou ao seu banquete pedido esparramado manchando ao tom puro de sua vida. Vermelho havia se tornado o novo tom de cor favorito de Nathan.