Corações impuros

Antigamente, eu morava no sertão em um pequeno vilarejo com grande simplicidade, e no corte do mandacaru a poeira subia e o suor descia com o sol ardente na terra. Precisava de serviço e encontrei, com um patrão de uma fazenda que produzia cana de açúcar. Me chamo Alfredo e meu serviço era recuperar a lavoura do senhor Virgulino, fiz acordo com ele para que metade da produção seja entregue para mim. Meses depois o patrão não cumpriu o compromisso, pegou toda a produção e guardou no paiol, consequentemente eu passei por necessidades básicas, minha casa não tinha energia e problemas de saúde eram recorrentes.

Passava mal constantemente e a fome me afligia, com isso, no leito de um pequeno hospital da capital, deixei meu coração impuro pois tenho um desgosto profundo, sou um filho de ninguém no qual me abandonaram na fossa da desilusão. Eram 22:47 de uma noite estrelada mas fria, amaldiçoei meu coração e o senhor Virgulino, com as seguintes palavras: “ Que o espírito de meu patrão oscilem por uma dor piedosa e que seja entregue à melancolia no qual a morte o pertencerá alinhado com seus pensamentos. Fizestes do meu coração uma morada de arrependimentos e por sofrimentos de pessoas que forem desrespeitadas”. Pouco tempo depois, morro com rapidez e os agentes de saúde transplantam meu coração com muita agilidade, para Joaquim.

Eram 22:00 horas de uma noite pouco iluminada, Virgulino era um senhor já de idade e depois de um dia cansativo de serviço, pegou no sono enquanto assistia a sua novela mexicana favorita. Virgulino se levantou de seu confortável sofá, se dirigiu à cozinha e foi ali mesmo que se terminava sua vida na terra, com uma facada em seu pescoço, Virgulino acordou e disse: “ Prefiro a morte do que a vida real”, imediatamente caiu-se sobre um assoalho de uma velha casa no sertão.

Já o senhor Joaquim, tinha uma vida renovada ganhando um novo coração para prolongar um pouco mais a sua jornada. Ele morava na capital de uma cidade movimentada e bem povoada, possuía 37 anos e era bem conhecido e falado por todos da cidade por ser educado e político. O ano ? 1999, época de eleição e de muita aflição entre a população, a simpatia contagiou a sociedade iludida por promessas e Joaquim ganhou pela primeira vez, no qual esteve prefeito dessa cidade carente de necessidades básicas.

Meses depois, chances de corrupção eram visíveis e irresistíveis aos olhos desse funcionário público no qual começaram o desvio de orçamentos públicos para setores carentes da sociedade. Os problemas eram frequentes e medidas efetivas não eram tomadas, o prefeito não era pessoa de caráter e cada vez mais a ganância consumia a sua vida, porém, Joaquim não sabia da maldição do coração impuro que havia sido feita para ele. À partir disso, esse rapaz de meia idade passou a sofrer pelos seus atos imorais.

Primeiro dia – Segunda feira

Joaquim acordou em um dia que parecia comum, por volta das 5 horas da manhã, tomou seu café e encaminhou–se para a Prefeitura Municipal da cidade. A frieza era presente no olhar de uma pessoa com elevada soberba, não pensava em possíveis consequências de seus atos ilegais e sua impureza do coração eram cada vez mais evidente. Horas depois, Joaquim chegou em sua apartamento, abriu uma taça de vinho chilena e assistiu as injustiças cometidas por ele, inerente ao povo da cidade, no jornal local. Adormeceu em seu confortável sofá, entretanto, não imaginava o que poderia acontecer.

Enquanto dormia, Joaquim sonhou que acordou por volta de 1 hora da manhã e rapidamente se dirigiu para uma enorme fila de desempregados em busca de uma vaga de emprego, naquela fila ele esperou por vários dias e com a incerteza de voltar para casa e não ter a condição de levar o leite para seu filho. Joaquim não existia mais, passou a ser chamado de Senhor Emanuel, tinha 3 filhos e um deles tinha um ano de vida. Emanuel não teve medo do mundo e sua única solução foi virar camelô, no qual vendia bebidas em geral, porém, ele amarrou uma chupeta em seu isopor para que quando o cansaço chegasse, as pernas tremessem de fraqueza e desânimo o consumia, lembraria sempre que não poderia ser derrotado e aquilo servia como motivação para seguir em frente.

Os dias passaram, Emanuel se envolveu com drogas e bebidas alcoólicas, foi morar na rua e lá foi xingado, excluído socialmente, ninguém queria saber do contexto de sua vida, andava sem rumo, seu olhar não tinha direção e a vida já não fazia mais sentido. Constantemente era agredido nas ruas frias com sua família, por preconceituosos. Passavam muita fome, não tinham nada para comer e a solução era enfrentar a fila do sopão, com o objetivo de matar a fome e amenizar o frio que castigava. Emanuel se envolveu com traficantes perigosos e já não restava dinheiro para pagá-los, portanto, sequestraram o senhor que sofria e levaram para o alto de um morro dominado por traficantes. Emanuel foi obrigado á ficar ajoelhado e as armas apontaram para seu rosto, ele suava, e escorria assim a última esperança de vida melhor no país. Covardemente e com muita frieza, traficantes poderosos jogaram o corpo em uma grota de pedras como se fosse ninguém.

Com isso, Joaquim acorda desse sonho no alto da sacada de seu apartamento, e com muito medo e aflição, profere as seguintes palavras: “ O inferno é real. Ele está nas nossas mentes, nos torturando o tempo todo”. E sem esperar, se joga desesperadamente do prédio. Por volta de 01:27 da manhã, o atendimento de primeiros socorros chega rapidamente, e conduz o político até o hospital. Já sem vida no Pronto atendimento, seu coração é doado para o Senhor Antônio, um articulador político de Joaquim.

Albimar Brêda
Enviado por Albimar Brêda em 09/11/2019
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