A Mulher
A Mulher
Enxergava pouco, a luz estava em meia-fase, ouvia ruivos ao longe e mal sentia o chão onde pisava. Onde estaria? Era minha casa, eu estava sozinha e tinha me levantado de súbito da cama e tinha ido até a cozinha. Onde estariam todos?
Algo me chamou a atenção puxando meu olhar para cima, havia uma abertura no forro, não me lembrava da existência dessa abertura... Foi então que ouvi passos. Ouvi vozes e um choro infantil. Vinham do forro.
Vi um vulto se aproximando da abertura e corri até a porta da cozinha, fiquei olhando estaticamente até que uma sombra começou a descer pela parede, chegando ao chão e que tomou a forma de uma mulher.
Quem era ela e o que fazia ali? Minha voz não saia para que eu pudesse perguntar, minha visão já estava embaçada por não conseguir piscar.
A mulher começou a revirar os armários e a pegar tudo o que podia de comidas, passou para o fogão onde estavam as panelas com as sobras do jantar... De repente, ela me viu e num salto brusco subiu de volta à escuridão do forro.
Foi então que tudo girou e me senti de volta à cama, mas com o corpo parecendo ter um peão por dentro. Abri os olhos, meu marido dormia ao meu lado. Levantei, ainda receosa, fazia muito frio nesta semana de inverno, fui ao outro quarto e minha filha também dormia. Cheguei à cozinha, vi pela janela que estava amanhecendo; foi quando notei que os armários tinham algumas de suas portas abertas e das panelas exalava um cheiro azedo pelas aberturas de suas tampas. Olhei para cima, o forro estava intacto, fechei as portas dos armários e notei uma espécie de fuligem em seus puxadores, as panelas tinham suas comidas estragadas!
Coloquei a cozinha em ordem, tornei a ouvir barulhos no forro, corri para chamar meu marido e, novamente, não o encontrei. Os ruídos estavam cada vez mais fortes e subitamente voltei a sentir como se houvesse um peão dentro de mim.
De repente, meu marido me chamou, abri os olhos, eu estava no sofá da sala.