A voz atrás da máscara
A criação de um personagem demanda a construção de um histórico profundo. Você não cria um personagem sem situa-lo em algum "lugar". Quem seria este personagem sem um contexto histórico, temporal ou cultural? A máscara de um personagem precisa fazer sentido para que ele seja efetivo. O teatro grego antigo as usava, pois sabia-se do seu valor. A persona pode ser a máscara, mas há uma outra personalidade por trás dela. Talvez a máscara não seja mais do que apenas uma das expressões da personalidade mais profunda.
O homem médio usa as suas no decorrer de sua existência individual, e na mesma vida costuma usar várias. Alguns poucos usam apenas uma, e uns mais raros, não usam nenhuma. Não usar máscaras num mundo mascarado é uma espécie de ofensa ao outros. Ora, quando você não segue os costumes de um lugar, costuma ser apartado ou evitado, e isso é apenas psicologia humana básica. Semelhante atrai semelhante. Pessoas só acreditam naquilo que elas esperam ouvir.
Sempre deixamos em destaque a figura infantil da criança, a primeira e mais autêntica das máscaras. O homem usará muitas a partir dali, mas a primeira e mais básica, a menos maculada delas tende a se aproximar mais do homem original. Pode-se conhecer, em grande parte, o homem futuro observando a criança que ele é. Claro que, as agruras da vida, as experiência que ele confrontará ao longo dos anos o dará muitas máscaras, mas se olhar através dos olhos dela, verá a criança original lá dentro. Isso porque uma máscara não é tirada para se colocar outra, mas sim são sobrepostas, uma a outra.
A criança surge como o ser puro, que permite encerrar no seu personagem uma espécie de “espírito da verdade”. A criança representa a inocência pura, não maculada pelo mundo dos adultos e seus cinismos. Num mundo ideal, ninguém nunca deveria deixar de ser criança, por isso foi dito que o reino dos céus seria delas. A criança mente porque a realidade para ela ainda não é objetiva, e por isso ela também sonha e fantasia. O homem adulto trapaceia, torna-se hipócrita, porque pensa que está em combate contra a realidade, ele se esqueceu a forma de como os sonhos são feitos.
Então, vocês têm as suas vozes, elas falam através das máscaras, e cada voz tem a personalidade da máscara. Vocês, às vezes, podem ouvir a voz por trás disso tudo. Ela pode ser um sussurro breve, um pensamento distante, uma voz audível... depende de quem escuta. Ela pode ser a voz de uma das suas máscaras, ou a voz do Ser original por trás de todas elas.
Não há nada de anormal nisso. Todos vocês tem ouvido vozes ao longo da sua história, e são elas, que de fato, dirigem o seu mundo. Como sabem, vocês tem a liberdade de dar ouvidos a qualquer delas que quiserem. A máscara é moldada de dentro pra fora, como qualquer outra coisa.
A ideia central é que, se começarem a ouvir a voz por trás de todas as máscaras, aquela voz que de fato não precisa de uma, então as coisas podem um dia mudar.