Portal de transição para as almas penadas

A Construção de um Portal de transição para as almas penadas

Há muitas almas penadas atrapalhando e ajudando aos vivos. Muitas cansadas, porque não conseguem "dar passagem" para o descanso eterno.

Umas morreram preocupadas e perderam o prazo para se desligarem deste plano e por aqui permanecem, outras revoltadas com suas mortes prematuras e violentas, querem saber quem foram seus algozes quando perderam a vida de modo repentino, sem sequer vê-los, outros em acidentes, incêndios, outros torturados por vários motivos. Alguns, muito apegados à matéria, a objetos. Tantos planos para a vida e, num estalo, pronto, todo sonho expira. Umas tentam achar um corpo e uma alma compatíveis, para que possam, através das pessoas, deixar o limbo, sem êxito. Algumas querem vingança. Outras são naturalmente boas, querem perdoar a quem fez mal a elas, mas não conseguem verdadeiramente, do fundo do coração ( se ainda tivessem um! rs Piada infame.).

Certa vez, um amigo, entrou num cemitério abandonado no interior de São Paulo, na tentativa de fazer contato sobrenatural.

Particularmente, penso que não seja bom visitar estes locais, pois os mortos se foram, já cumpriram o que tinham para fazer na Terra. Se a missão foi de disseminar o bem ou o mal, todos vêm com um propósito e, num cômputo geral, é tão importante, quanto a escala zero no grau de eminência e representatividade para a sociedade dos vivos.

Os túmulos iam dos séculos XVII ao meio do XIX.
O amigo levou consigo um verdadeiro arsenal para comprovar a presença de espíritos no local: Luminária LED, Comunicadores de rádio, Iluminação infravermelha, Almofada térmica, Câmera de visão noturna móvel, TriField Natural EM Meter (medidor eletromagnético, entretanto, como o nome indica, também avalia separadamente campos magnéticos, ondas de rádio e micro-ondas), Microfone parabólico (Capta sons a até cem metros de distância. Conectado a um gravador digital, pode registrar vocalizações chamadas EVP -sigla em inglês para Fenômeno de Voz Eletrônica), lanternas.


Os aparelhos captaram sons de vozes pedindo ajuda para libertação e presenças do que ele acreditou serem demônios,

antes, de sair apavorado, observou as datas dos túmulos e percebeu que eram pessoas de classes altas, alguns tinham fotografias.


Tudo aquilo, durante algum tempo, fervilhou em sua cabeça de matemático,

até determinar-se a construir uma parafernália para ajudar as almas que, por vontade própria, realmente quisessem o descanso eterno, a cruzar o portal para o outro plano. Para isto, leu todos os livros possíveis sobre o mundo espiritual.

Sua ideia da construção de um harmonizador, cujas antenas ficassem localizadas em pontos estratégicos do nosso mundo, foi adiada por período indeterminado.

Ele construiu um aparelho gerador de algoritmos, outro que reuniu e condensou as frequências e vibrações de todos os sons possíveis das orações mais conhecidas do nosso mundo; um canhão de luz a laser, todos movidos a baterias de automóveis para gerar energia, girando em círculo à grande velocidade. Apontando para a mesma direção, juntas, estas forças, formariam o portal que conduziria as almas penadas daquele antigo cemitério, ao paraíso.

Levou sozinho, de noite, em seu fusquinha azul meia quatro, o que precisava. O veículo ficou afastado. Foi pegando, aos poucos, peça por peça.Colocou seu plano em prática, duas horas depois, já de madrugada. Instalados um a um, teria que montar todo o equipamento, certificar-se de que as conexões estavam perfeitas.

Ficou feliz por ver o portal formado, alguns minutos depois. Sentiu a presença, mas não pode ver os espíritos. De repente, percebeu que ele próprio estava sendo puxado para dentro do círculo de luz. Correu apavorado e agarrou-se numa árvore frondosa. Tudo à volta foi sendo arrastado e sugado para o portal, inclusive as lápides e a aparelhagem. Em seguida, houve grande explosão que toda cidade pode ouvir.

O portal sumiu, formando um grande buraco de uns dois metros de diâmetro e sem fim para o interior da terra.

Passado o susto, voltou para casa. Estático e traumatizado, não tinha certeza ainda se aperfeiçoaria o projeto ou deixaria para trás, porque tinha medo de que outras almas passassem a atormentá-lo.


Tempos depois, de vez em quando, passou a ouvir em alto e bom som uma voz no pé do seu ouvido, xingando:

- Babaca!




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