Vingança Amaldiçoada Final
Agradeço a todos pelo acompanhamento. Obrigado!
Roberto Morel
Capítulo Final
O corpo ensangüentado do médico Johnantan Duares fê-lo recordar em marcha muito lenta o rápido acontecimento.
Muitos demônios surgiram em sua frente. John segurou Miguel pelo pescoço ameaçando-o de morte, caso se aproximassem mais. O vampiro da frente riu e continuou, não dando a opção alternativa ao médico, que puxou uma estaca e empalou no coração o antigo companheiro.
John sabia. O braço queimado, provavelmente do sol do buraco, a calma, insana pela atual situação, a ausência de crucifixos e a certeza do caminho... Ele havia sido transformado. Miguel gritou e explodiu em cinzas.
Os vampiros mergulharam em uma torrente de violência. Os três atacados sacaram seus sprays e golpearam com estacas o vasio. Megy, com os olhos fechados, acertou um na altura da barriga. Este, caiu gemendo pelo banho de água benta e o ferimento. Jason foi jogado ao chão pelo outro. Johnantan se meteu na luta derramando o resto do líquido na face do vampiro e arrancou sua frágil cabeça com um soco, matando-o. Ainda com a estaca no corpo, o monstro avança ao encontro do médico. Sua força era absurda. Torceu o braço de Johnantan contra suas costas, que tentou sem sorte um segundo ataque, livrou seu pescoço para o lado e abocanhou os caninos com força e vontade. Sangue jorrava enquanto todo ser do doutor se contorcia.
Em últimas forças, ganhando um pouco mais de intensidade pelos gritos desesperados de Megy e Jason, Johnantan empurrou com seu próprio corpo o vampiro em direção a um volume grande e muito afiado na parede oposta a ele. A rocha transpassou-o no ombro direito, mas acertou cirurgicamente seu inimigo no lugar exato.
Todas as sombras, até então, flutuavam em redor a batalha, perceberam o beijo (mordida de vampiro). Acelerando a rotação, como um tornado negro e assombroso, mergulharam furiosos, desaparecendo no corpo do médico. Os espíritos brigavam pela carne, ao tempo que a real alma de John ia desaparecendo.
- Ja...Jason. Jason! Não há outro jeito, sabe o que fazer. – Johnantan chorava, entregando às mãos do menino uma pontuda estaca. – No coração, Jason. Não erre, por favor.
- Não! Senhor, eu nunca...
- Faça! Minha alma parte. Quan...Quando ela se for, outra tomará conta do meu corpo e me tornarei um deles. As... Outras que brigam sairão. Mate-me enquanto ainda estão aqui. Eles voltarão ao mundo dos mortos.
- Senhor... – os soluções de Jason e Megy se apossaram do local.
- Ah! Jason! Não posso aguen...
- Desculpa-me – E desferiu o golpe.
Johnantan não gritou; em vez disto suspirou em sangue num lamento: Sejam fortes. Os garotos choravam assistindo à partida do médico.
Levou um tempo para se recomporem. Enxugaram as lágrimas e posicionaram John de um jeito confortável. Megy pousou suas mãos na face do médico. “Nós vamos seguir, senhor. Seremos fortes.”
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- Tragam o prisioneiro.
Dois vampiros muito fortes carregavam pelas mãos e arrastando ao chão um corpo de um velho. Estava desfigurado pelas marcas roxas e pelo sangue que jorrara antes. Ele vestia só uma calça jeans, com um cinto de cowboy muito sujo de areia. A pele era muito enrugada, deixando a certeza de se tratar de alguém de muita idade.
Deixaram no sobre vigilância das criaturas, invisíveis pela própria escuridão do alto da caverna. O fortes sugadores de sangue ajoelharam-se perante Lucian, seu líder.
- Os outros vermes estão demorando. Ei, Mark, Mark! – Falou ele para o velho desacordado – Será que sua adorável Megy ainda está aqui? Hum? Eu adoraria um pouco do sangue dela. Doce. Agradável. Delicioso...
- Senhor, não vamos fazer nada? – sussurrou Bill por detrás da pedra.
- Ora, ora! Coragem... Continue assim. Não demorará para nossa hora.
Tomás esperava. Não tinha certeza, mas sua intuição o dizia que algo marcaria o início de seu ato. Esperou.
Alguns minutos se passaram, talvez mais de uma hora. O xerife Balcon ainda rezava sua oração amaldiçoada. Nenhum sinal dos vampiros de busca, ou dos espíritos que os seguiam. Lucian já não conseguia conter os efeitos do vampirismo. Seus dentes, mais afiados que uma navalha, mostravam sua sede, seus olhos eram vermelhos e suas unham duras e imensas. Estava com raiva.
Bill forçava seus olhos, pois pensava que os mesmos estavam tão cansados que o enganava. Via duas pequenas formas escondidas no limiar da entrada da grande caverna.
- Padre, senhor, olhe. – Disse apontando para o que via. – Não são os garotos? O menino Jason e a menina Megy?
- São eles. São eles... Onde estará Johnantan? Penso tê-lo visto os guiando. – Parou. Sabia que esta era a hora.
Tomás retirou uma estaca de madeira da cintura do empregado, molhou-a com água benta e preparou.
- Bill. Prove agora sua coragem. Redima-se de todos os seus pecados.
- Senhor?
- Corra, filho. Desça deste buraco o mais rápido que conseguir e corra. Tenho certeza que os dois vampiros mais fortes o seguirão. Corra em direção aos meninos.
- Sim! – Não entendeu o plano do padre, mais confiou tudo em sua sabedoria.
Ele mais escorregou do que controlou seus passos. Chamou a atenção de todos, inclusive de Mark, que virou vagarosamente seu pescoço a fim de ver a surpresa. Bill olhava com pânico os mortos vivos. Lucian apenas sorriu. Tolo. Quase como planejado, um dos comandados subiu em um urro e correu para o ataque. Bill estava muito a frente, alcançou Jason e Megy em alguns segundos. A entrada ficava exatamente paralela ao pequeno buraco de onde o empregado e o padre saíram. Os três corriam sem se comunicar. A missão era simples. Destruir. O vampiro que os seguia era novamente acompanhado de dois ou três espíritos. Estas sombras desejavam insensatamente um corpo para dominar. Não houve plano, apenas a adrenalina os deu uma saída bem prática, como se os três estivessem mentalmente ligados.
Bill ficou de cobaia, se apresentou no centro do grande corredor. A escuridão era quase total. Os outros dois, de presença desconhecida pelo inimigo, se esconderam encolhendo o máximo que podiam sob um encosto próximo à parede e ao chão.
O monstro chega. Avança rápido para Bill. A surpresa de que vampiros enxergam bem no escuro não pareceu abalar muito a repentina coragem do empregado. Ele o segurou com todas as forças que tinha, enquanto o outro ria e o arranhava com suas unhas. Morra, morra, morra, dizia o vampiro. Jason saiu gritando do esconderijo e jorrou água benta no adversário.
- O que fez ao meu pai! – Esperneou Megy pulando, igualmente em gritos, e balançando nas mãos duas estacas.
O improviso dera certo. O vampiro fraquejou pelos ferimentos feitos com os jatos de spray, Bill conseguiu a vantagem corporal pela primeira vez, trocando completamente a posição. Ficou em cima, soqueando. Sem tardar, ele foi atingido com três golpes perfeitamente sincronizados. O de Bill no peito direito, próximo ao ombro; o de Jason no alvo certo do meio e Megy atravessando um dos olhos. Os fantasmas fugiram.
Contentes com a vitória, quase esqueceram que ainda não haviam chegado nem perto do fim.
Ao mesmo instante da perseguição, Tomás aproveitou toda a distração e desceu silenciosamente. Abraçou a idéia de chegar até seu destino despercebido. Um grunhido de muitos tons se aproxima. A sombras aparecem e circundam Lucian.
- Eu não acredito nisso. – Gargalhando furioso continuou. – Seres patéticos, vampiros mestiços de classe baixa*. Rápido com isso humano!
* Supremacia dos vampiros. Cresce a força de acordo com a geração à partir de Cain (Livro de Nod).
- Sangue, Lucian, preciso de um sangue mais forte. O poder dos demônios que quer libertar é grande. O portão não suporta. Minha ordem...
- Sua ordem quebrou, Balcon! Centenas de anos que os adoradores do mestre vem nos servindo bem. Sua ordem não recruta; tremendo erro, idiota. Velhos não fazem bom trabalho.
- O jovens de hoje...
- Cale-se! E não pare até eu conseguir o que precisamos... O quê?! Como não notei sua presen...
Bill pula no pescoço daquele vampiro tentando jogá-lo contra o chão. Sem nem se mover, Lucian arremessa a carga para longe, deixando o empregado inconsciente. Não pensa duas vezes, não suportava mais esperar; encarou Megy, e quando a menina deu por si, o monstro já se encalçava nela. Abre a enorme boca e morde, sem arrependimento, o pescoço macio da menina. Tomás aparece e reage junto à Jason. O corpo do velho tio Mark não agüentara a tortura e jazia morto.
O padre lança a distancia sua estaca purificada, acertando Lucian na testa, desprendendo suas presas de Megy. Jason joga seu próprio corpo em direção à barriga. Os três caem, Jason, Lucian e, a alguns passos, Megy.
O monstro, a verdadeira e forte criatura da escuridão, posiciona-se de bruços na terra e berra. Berra alto. E fica imóvel, com os olhos vazios. O jovem garoto rastejava enquanto, soluçando, tentava se aproximar da prima, cujo sono era deitado em um banho de sangue. De repente seu corpo pára. Ele treme, como se um frio intenso tivera se apossado dele. Então, novamente pára.
“Jason?”, falou o padre ao lento levantar do garoto e seu subseqüente sorriso.
- Não... Lucian!
- “Não...”, o grito de Tomás foi sufocado ao agarrado de pescoço do Jason possuído.
- Jason. Li...Liberte-se!
- Haha! Palavras fúteis! Padre idiota.
- Jason! Eis a cruz do Senhor, fugi, fugi, ausentai-vos inimigos da natureza humana. Eu vos esconjuro em nome de...
- Não diga esse nome seu cretino. Pagará pela ofensa.
Megy se pendura sem aviso em cima de Jason (Lucian).
- Largue-me maldita.
Ela se esforçava até mesmo para se manter acordada. Encarou o padre para não precisar dizer o óbvio. Tomás corre e apanha seu cajado. Parte em direção ao círculo de magia negra. Balcon não estava mais lá. O covarde fugira. Chegando, viu de perto as cintilante, porém negras marcas de satã em volta. Escutou as vozes do submundo.
- Megy, só mais um pouco...
Tomás Ezequiel virou em tempo de ver Jason levantando Megy pelo pescoço. Em sua mão esquerda mostrava uma arma. Letal para vampiros. Uma estaca. Baixou lentamente a menina, de modo que seus pés tocaram novamente o chão e com um movimento rápido, atravessou por completo seu corpo, deixando um pouco da mão em contato com suas entranhas.
Aos olhos atordoados do padre, Megy caía lentamente para a morte.
- Covarde! Demônio do inferno! Amaldiçoado! – Tomás berrava, como se isso fosse a única forma de destruir o assassino.
- Não me agradeça, sacerdote. Não, não... Apenas lhe ajudei em sua missão. Estou errado? Eu provei a carne, ela viraria um vampiro em pouco tempo.
O rosto do padre era de um ódio nunca antes presenciado. Seus músculos doíam pelo novo movimento. Retirou dois potes do bolso, a química e o de coloração avermelhada. Despejou-os e derramou todo conteúdo no buraco.
- Desista. Jason me diz que você precisava o sangue do invocador para selar o portal.
Tomás sorria futilmente pelo canto da boca, tal qual antes feito pelo inimigo.
Ao fim da palavra de Lucian, percorrendo em espiral pelo seu rosto, desciam lágrimas de sangue. O corpo de Jason tremeu novamente, como antes. Momento em que o padre começou uma nova oratória, mas em voz muito baixa.
- Eis a cruz do Senhor, fugi, fugi, ausentai-vos inimigos da natureza humana. Eu vos esconjuro em nome de Jesus, Maria, José, Jesus de Nazaré Rei dos Judeus. Eis aqui a cruz de nosso senhor Jesus Cristo. Fugi, partes inimigos, venceu o leão da Tribo de Judá e a raça de David. Aleluia, Aleluia, Aleluia, louvado seja o senhor, que com sua força e sua espada libertadora nos livre das hordas infernais que bebem nosso sangue para preservarem a eternidade dos demônios. Transformai essas bestas em pó para que na graça do Senhor possamos viver na Santa Paz. Te esconjuro negra criatura para que voltes à tua tumba e nela permaneça até os dias do Juízo Final. Deus dará a vida eterna somente aos justos, e os comparsas do demônio arderão eternamente. Por isso temam a cruz, e a força que representa para os filhos do Senhor. Que a terra de onde vieram tão vis criaturas seja amaldiçoada e encerrada pela verdade divina. Dou fim a esta Santa Oração e darão fim às moléstias nesta casa pela bichação dos espíritos malignos. – Gritou – AMÉM!
- Esconjuro-vos, criaturas excomungadas, ou maus espíritos batizados com laços maus, atentas o caminho desse espírito. Se tua força está em ídolo celeste ou terrestre, seja tudo destruído da parte de Deus, pois todo o infernorium ou toda a linguagem eu confio em Jesus Cristo, nome deleitável! Assim como Jesus Cristo aparta e expulsa da terra o demônio e todas as suas influências assim por estes nomes de N.S. Jesus Cristo fujam todos os demônios, vampiros e todos os espíritos malignos em companhia de Satanás e de seus companheiros para as suas moradas, que são nos infernos e onde estarão perpetuamente se danando. Tudo que fizeste contra essa enferma criatura fica anulado, esconjurado, quebrado, e ajurado debaixo do poder da Santíssima Trindade e do Santíssimo Sacramento do Altar. Amem. Com toda a santidade eu vos esconjuro e degredo de volta ao mundo dos mortos, vampiros malditos, espíritos malignos, rebeldes ao meu e vosso criador. Pois eu, vos ligo e torno a ligar e prendo e amarro às ondas do mar, e que vos levem para as areias do mar coalhado, onde não canta galinha nem galo, ou para o vosso destino, ou lugares que Deus Nosso Jesus Cristo vos destinar. Desde já ficais citados, notificados e obrigados a seguirdes o caminho de Nosso senhor Jesus Cristo, vós e seus companheiros infernais que bebem na noite a vida dos filhos. Suas carcaças vão virar pó, e sua eternidade ficará reduzida às fronteiras dos infernos, onde reina o anjo traidor. Afastai, besta infecta e deixai que o sangue desse corpo pertencente ao Senhor purifique-se para que o espírito encontre a Glória de Jesus Cristo. – Gritou – AMÉM!
O corpo do garoto desfaleceu no chão.
Continuou com a voz bastante elevada.
- Exorciso igitur te, creatura aeris, per Pentagrammaton et in nomine Tetragrammaton, in quibus sunt voluntas firma et fides recta. Amen. Selah. Fiat.
Imediatamente, o verdadeiro Lucian se recompôs. Ele sorria, mas era notável uma pequena fraqueza.
Um estrondo muito alto vindo o circulo acorda a sua atenção. Ele ia mudando de coloração e as vozes do inferno aumentavam de intensidade. Os fantasmas que estavam perto, simplesmente se afastam, temendo serem tragados. A magia termina.
- Im... Impossível.
- Você estava certo, Lucian. Eu precisava do sangue de Balcon. – disse Tomás com uma ponta de satisfação.
- Mas quando foi que você... Verme miserável!
- No cemitério. Um de seus servos me jogou. Eu fiquei no caminho do xerife a fim de facilitar meu propósito. Ele me ajudou e mais tarde me joguei ao chão fazendo-o se ferir. Sem perceber, coletei um pouco do seu sangue. Mantive escondido comigo. Um dos frascos que destampei, e pegou o pode vazio, era de coloração vermelha e muito pegajogo. Semelhante a algo que conhece bem, não? – Sorriu.
- Entendo. Não importa, todos os seus esforços são inúteis. Olhe esse garoto – sentou-se ao lado do corpo de Jason – quem diria que teria tão forte sentimento pela prima.
Abaixou-se e o mordeu.
As forças de Tomás deixaram seu corpo. Só restava rezar. “Ó anjo da minha guarda, nesta hora de terror, me livre das más visões...”, sussurrava ele baixinho. Após deliciar-se com o sangue do jovem, Lucian se levanta e com um tipo de telepatia suga o cajado das mãos do dono. Vai diante dele e o empurra até a parede próxima, como se fora um brinquedo.“...Deus me ponha a alma em guarda. Dos perigos da tentação, de mim a parte os maus sonhos...” Ergue o cajado no alto. “...Enquanto for vivo. Amém.” E o transpassa no ombro. Tomás Ezequiel estava pendurado na pedra fria. Seus pé ficaram na altura de dois palmos do chão. Com seu sangue escorrendo, ia também sua vida.
- Vão, seus vermes. – Falou o vampiro apontando para cima e olhando para Jason.
Ali deitado, via toda sua vida passando em um filme. Percebe não ter desfrutado muitos bons momentos. Lembra de Megy. ‘ Com seus olhos semi-abertos, a passagem de sua vida é interrompida pela visão de sua prima morta. ’ Lembra de sua felicidade com ela. Seus breves períodos de alegria, todos foram na presença e companhia de Megy. Uma fúria tomava posse dele. Um desejo incontrolável de vingança. O corpo alucinado do rapaz cria vontade própria e se levanta. Tomás o encara curioso e murmura para ele próprio, que de alguma forma Jason ouvia ou percebia por intermédio de algum poder:
- Queres que por ti?
- Sim, quero. – Continua gritando. – Eu não sou satanás e sim uma alma perdida; ainda tenho salvação.
- Bom menino... – disse Tomás em últimas palavras. Tossiu, e muito sangue saiu de sua boca. Todo seu corpo desabara e se deixara prender pelo cajado sem mais se esforçar. O padre estava morto.
De alguma forma, o terrível ódio de Jason fez todas as almas sujas dentro dele se unirem à sua. Uma nova e demoníaca nasceu. Era diferente, Jason notou. Ele sabia, tinha certeza que podia controlar a maldição.
Estava de pé e com a cabeça baixa. Rapaz?, Bill acordara. Jason aponta seu braço para ele e estende sua mão, em um sinal de “não se intrometa”. Seus olhos, escondidos pela sombra de seus cabelos eram muito vermelhos, veias de fúria passavam por toda sua pele e suas unhas também cresciam. A respiração rápida foi se acalmando, tornando-se lenta.
Quando o garoto levanta seu olhar para Lucian, que observava duvidoso, os olhos mudam de cor. Refletem um azul brilhante. Cor de céu.
- Por acaso pensa em me enfrentar, pirralho?
- Essa idéia passou pela minha cabeça – respondeu Jason.
Silencio. Nenhum se movia. Bill mal se atrevia a respirar.
Jason anda, se aproxima lentamente do adversário, que fracassava em estudar algum sentimento pelo olhar do outro. Sua caminhada vira uma corrida. Ganha velocidade. Lucian corre perpendicularmente até Tomás, sempre seguido. Jason se aproxima, perto demais para desistir ou mudar. Ao chão, Lucian salta, pega um pote e ejeta a água benta no rosto de Jason.
A princípio, ele se assusta e cai com as mãos no rosto. Lucian segura sua mão direita com a esquerda, pois ficou um pouco queimada por algumas gotas. Levanta-se e gargalha aliviado.
Não por muito tempo, com certeza. Jason já erguia seu corpo. Tocava a face de maneira satisfatória, nenhuma ferida ou queimadura. Encarou profundamente o vampiro, que recuou tremendo. “Impossível!”, dizia ele, dessa vez começando o ataque. Voa no garoto. Os dois rolam da terra e se batem. O ódio de Jason contra um novo sentimento do vampiro. Algo que ele nunca sentira antes. Medo.
Vários socos são desferidos. Nenhum movimento é controlado, parecia uma briga de rua. Mas com dois imortais. Duraria quanto tempo. Cada machucado era curado minutos depois.
Mesmo com o cansaço relativo aos dois, para Lucian, era humilhante estar lutando com uma criança, seu ego o fez disparar num desespero sem escrúpulos. Jason, parado, escondia nas costas o desfecho da guerra. A menos de um metro, Lucian percebeu seu erro, tentou voltar. Era muito tarde. Nem a velocidade dos movimentos de seus braços impediu que o jovem o atingisse com ferocidade no coração.
- Você... Vo... Cê...
- Sim, Lucian. Você vai morrer. Vai virar uma sombra, como estas que queria libertar. E diga seu mestre que há um vampiro que não se submete à ele.
O vampiro líder abriu os braços, gargalhou alto e se foi. Todo corpo, da cabeça aos pés, desciam em cinzas.
- Mestre Jason! Mestre Jason! Você venceu! – Bill vinha em lágrimas. – Garoto?
Jason caiu.
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Passaram duas semanas. O clima do outono já mostrava sua cara. As folhas das arvores caíam preenchendo e criando belos caminhos nas estradas da pequena cidade e os tempos quentes se tornavam escassos.
O dia estava lindo e agradável. O som sinfônico dos pássaros parecia ter voltado depois de bastante tempo ausente, sendo atrapalhado pelo aparador de gramas elétrico que o jardineiro usava.
Um calor agradável pousava pelo braço de Jason acordando-o com um grande bocejo. Logo percebeu de onde vinha a sensação, soltou um estridente grito.
- Céus! O que foi... Oh! Acordou senhor – exclamou Bill entrando pela porta do quarto e alargando um sorriso.
- O sol, o sol... – resmungava o garoto.
- Claro, claro, me desculpe. Eu acabei descobrindo que o senhor o suporta.
- Descobrindo?
- Foi como um simples insciente. Você desmaiou depois da luta. Eu o levantei e o carreguei. Era dia, por voltas das seis. Apenas na metade do caminho que lembrei... Vampiros não suportam a luz do sol. Tremi como um retardado, mas vi que o senhor ‘ainda estava inteiro’ (ele não quis dizer a outra palavra).
- E... A água benta também não fez efeito – disse, recordando a briga com Lucian.
- Seria muita sorte se o senhor tivesse todos os poderes desses seres e não suas fraquezas.
Jason não falou a respeito.
- Onde estou? – Ele não reconhecia, não havia pisado naquele ambiente antes.
- Na mansão do seu tio – disse Bill– , está no quarto dele. – Baixou os olhos.
- Onde está vovó?
- No quarto dela. Está sedada. Chorou por duas semanas inteiras... – notou a cara de espanto do jovem e se adiantou numa resposta – Você ficou desacordado por duas semanas inteiras. Dona Bet precisou de medicamentos.
- Senhor, tenho algumas dúvidas. - Continuou
- O que há?
- Por que só aquele último (se refere à Lucian) conseguia te possuir?
- Não sei como aconteceu, Bill, mas quanto ele me possuiu pela última vez, apenas ele, pude ver coisas que estavam em sua mente, como se um livro aberto passasse diante de meus olhos me possibilitando lê-lo.
- Dizem que uma parte da memória e dos pensamentos é gravada na alma – interrompeu.
- Acho... Que seria porque ele era forte, o mais forte. Por este motivo conseguiu entrar em mim sozinho. Das outras vezes, todos entravam, talvez fosse mais fácil. Foi ele, também, como espírito, que iludiu minha prima... – os som das últimas palavras o chocaram como ele não previra.
- O que ele queria aqui, senhor Jason? Em uma cidadezinha esquecida pelo mundo?
-Aqui se concentra uma forte carga de energia. Eu mesmo sempre senti isto, inconscientemente. O círculo de magia exigia um local como este. Lucian queria libertar vampiros, ou melhor, espíritos de vampiros, que fossem tão fortes quanto ele. Estava cansado da companhia do que ele chamava de classe baixa de mortos-vivos. Mas ele errou...
- Como?
- Não lembrou da força que o portal precisaria para libertá-los. O sangue de alguém como Megy era essencial. – Novamente se sentiu triste.
- O que o senhor irá fazer agora?
- Não sei. Minha vida nunca havia tomado um rumo desses antes. Sempre fui um excluído e sinistro. Não era proposital. Às vezes era preciso... Talvez eu vá procurá-los.
- Quem, senhor?
- Eles, os vampiros. E as sombras. Tudo que for mal e que ande por esta terra.
- E enquanto ao Balcon? Ele pode fazer outro círculo de magia negra e libertar mais demônios.
- Eu também não sei... Por agora, só quero aproveitar a minha liberdade.