PEEKABOO

Há muito tempo, em uma comunidade agrícola, havia um menino de 11 anos que morava com seus pais, eles trabalhavam no plantio e colheita em fazendas próximas de café, sua mãe era trabalhadora e amorosa, mas seu pai era um homem muito severo, violento e possessivo. Esse menino era muito atentado, vivia pregando peças em seus amigos e vizinhos, muitas dessas brincadeiras beiravam a maldade, mas o que ele realmente gostava de fazer, era de assustar as pessoas, sua brincadeira favorita era chegar de fininho atrás das pessoas e gritar “PEEKABOO”, tanto que essa palavra virou seu apelido em todo região.

O menino sempre assustava ou fazia brincadeiras com todos, inclusive com sua mãe, que de vez em quando se assustava com as excêntricas brincadeiras de seu filho, teve a vez em que ele colocou um sapo dentro de uma panela e quando sua mãe abriu a tampa, o sapo pulou nela que levou um baita susto, o menino saiu de onde estava escondido e gritou “PEEKABOO”, outra vez ele disse para sua mãe que o esposo de sua amiga havia falecido, a mãe compadecida pela amiga foi fazer uma visita a viúva, mas grande foi sua surpresa quando o próprio defunto foi atender a porta, o menino olhou para a mãe sorrindo e sussurrou “peekaboo”.

Todos já haviam sido enganados ou assustados por Peekaboo, todos exceto seu pai, ele até que tentou algumas vezes assustar seu pai, mas ele nunca demonstrou espanto algum, ludibriar seu pai também era difícil, pois o pai sempre sabia quando o filho estava mentindo, mas isso nunca impediu Peekaboo de tentar.

Certa manhã, o pai de Peekaboo foi com outros homens da comunidade à uma fazenda próxima ajudar na colheita de café, próximo ao almoço a mãe de Peekaboo o chama e pede que ele leve o almoço para seu pai. No caminho ele teve uma idéia, abriu a marmita, que havia arroz, feijão, ovo frito e alguns pedaços de carne assada, comeu os pedaços de carne e jogou fora o ovo frito, deixando na marmita apenas o arroz e feijão, pensou bem e colocou areia por cima, fechou e levou a marmita para seu pai, será uma excelente brincadeira, pensou.

Chegando onde os homens estavam, Peekaboo entregou a marmita para seu pai que fora se juntar a outros trabalhadores que já estavam almoçando embaixo da sombra de uma grande árvore, quando o homem abriu a marmita gritou para o filho:

_O que significa isso, mostrando o interior da marmita. Os outros homens olharam curiosos a cena. Peekaboo ficou com medo da reação do pai então disse que sua mãe lhe entregou assim, a raiva do pai só aumentava,

_E porque ela faria isso, perguntou ele com ódio, o menino pensou rápido,

_Ela estava com aquele outro homem em casa e pediu que eu lhe entregasse assim.

O pai de Peekaboo correu para sua casa com alguns outros homens atrás, ciente que pegaria a mulher em adultério, chegando em casa quase derrubou a porta, encontrou a mulher varrendo o chão e ele perguntou aos berros,

_Cadê ele? Ela sem entender o porquê do marido e aqueles outros homens entrarem em sua casa assim apenas perguntou,

_Quem? isso deixou o homem cego de raiva, começou a bater na mulher sem dó alguma, eram socos, chutes e arremessos contra móveis e parede, isso levou alguns minutos até que um jovem rapaz que estava entre os espectadores interviu,

_Calma homem, disse ele segurando o homem enraivecido,

_Vai matar ela,

_Ela merece, adultera, e cospe na direção da mulher.

A esposa caída junta forças e pergunta:

_Por quê? alguém atrás diz,

_ Seu filho disse para seu esposo que você estava com outro homem em casa, em adultério, e por isso entregou para ele areia na marmita, a mulher entendeu e disse com muito sofrimento,

_São mentiras daquele maldito moleque, o marido para, compreende e diz baixinho sem expressão alguma,

_PEEKABOO, ele corre para a mulher e pede desculpas, a mulher sem forças, apenas amaldiçoa o ingrato filho e morre nos braços do marido.

Passaram alguns minutos e chegam uns homens na casa perguntando,

_Cadê os pais de Peekaboo? ele está estranho lá no cafezal, estão tentando trazer ele. O homem parecia com medo.

_Me tragam esse moleque, diz o pai de Peekaboo. Quando os homens chegaram, o pai de Peekaboo foi encontrá-lo já retirando o cinto das calças, mas parou ao ver o estado do menino,

_O que aconteceu com ele? Não sabemos, ele começou a fazer isso no caminho para cá, então tivemos que amarrá-lo e carregá-lo, pois ele começou a morder.

Peekaboo babava e se debatia com estrema violência, de repente parou com a língua para fora, com uma estranha expressão no rosto, os olhos opacos e sem vida, quando os homens chegaram mais perto do menino, ele se levantou em um salto, soltou-se das cordas e correu feito um cachorro de quatro patas para dentro da casa, os homens seguiram ele e muitos correram assustados quando viram o que acontecia lá dentro, o menino se movimentava com muita rapidez andava pelo teto e pelas paredes como um bicho, então parou diante do corpo da mãe, olhou para ela com uma expressão estranha e disse com uma voz que não era sua,

_Peekaboo.

Quando os homens entraram na casa, Peekaboo se moveu, olhou para eles e deu um berro que arrepiou a alma de todos na casa e saiu correndo daquela estranha forma, feito bicho, pela janela, correu por entre casas, saltou por telhados até chegar em uma mata próxima e sumiu mata adentro.

Essa estória foi contada em toda região, as pessoas ficaram sabendo do menino Peekaboo, que contou a maldita mentira que matara sua mãe e por isso ela o amaldiçoou em seu leito de morte e isso o transformou em algo maligno, num demônio, monstro ou algo do tipo, apenas sabe-se que ele não era mais humano quando sumiu e menos ainda quando era visto próximo as matas e rios, seu aspecto agora era mais horrendo, seu corpo era disforme e diziam até que ele desenvolvera chifres e um rabo, mas nunca ninguém teve certeza, pois ninguém o vira de perto, apenas ouvia-se ao longe uma triste e estranha voz dizendo PEEKABOO.