O ESCRITOR DA RUA 13 (Capítulo III)

III

"Amor, mas não poderia ser um tema mais 'amistoso' que esse?

"Não, a vida real não é amistosa, Marília."

"Entendi... Pense bem para ver se é isso mesmo que deseja"

"Já estou mais que decidido". - afirma Salazar.

Horas se passaram, os primeiros capítulos começam a ganhar forma. Com o alavancar da história, Salazar está completamente imerso no enredo, suas mãos não param de digitar por um segundo sequer, mesmo com os desconfortos musculares o tomando pela manga da camisa. O ambiente está quente, as paredes bronzeadas contribuem ao calor psicológico, fazendo com que ele soe além do habitual. O único objetivo de Salazar é concluir o segundo capítulo de sua obra recém iniciad...

"Sal, vamos jantar?" - Marília o convida com voz de dúvida atrás da porta.

"Já vou, Marília."

Salazar não sente fome, mesmo já tendo passado mais de doze horas de sua última refeição matutina. Outros estímulos tomam conta de sua mente. O livro começa a ganhar forma pouco a pouco, passando do segundo ao terceiro capítulo, do quarto ao quinto...

"SALAZAR, A COMIDA ESTÁ ESFRIANDO!"

"EU JÁ VOU, VOCÊ NÃO CONSEGUE ESPERAR?" - Salazar exclama.

Batendo a porta atrás de si, Salazar vai até a mesa. Senta, se serve com uma quantidade menor do que a habitual e come em silêncio. Marília já acabara há meia hora, mesmo assim permaneceu sentada, pernas cruzadas, ar levemente preocupado.

"Como está a história?"

"Estava ótima, até começar a encher o saco na porta."

"Como assim encher o saco, Sal? É hora do jantar. Preferia ficar com fome??"

"Sim, eu preferia!"

Um minuto de silêncio cai sobre a mesa feito um elefante branco.

"Você nem pergunta mais sobre como foi meu dia... Também gostaria de atenção." - Marília resolve falar.

"Tá, e como foi seu dia de trabalho?"

"Uma droga, meu chefe é exigente demais. Justamente hoje meu caixa fechou faltando quase cem reais, eu não sei o que aconteceu. Resolveram retirar do meu salário, que já é péssimo. É triste, pobre só se ferra nesse país!" - reclama em tom de desanimo.

"Pois é, mas amanhã estará melhor. A janta estava ótima, vou voltar ao escritório."

"Como assim? Não vai vir à cama comigo?"

"Agora não dá, mais tarde."

Salazar se levanta e vai em direção ao escritório. Marília olha ao redor acompanhando os sons do par de sapatos de Salazar, o olhar pesado pelo dia difícil não se restringe mais ao trabalho. A porta do escritório abre e se fecha num som seco, como se quisesse dizer que as coisas poderiam ser mais simples. Marília sente vontade de chorar, mas já aguentou coisas piores. "Não vai ser isso que tirará meu sono, tenha certeza!". Como o sono já estava batendo na porta, decidiu tomar banho. O dia começa cedo amanhã.

(CONTINUA...)

Lâmpada de Porão
Enviado por Lâmpada de Porão em 23/09/2019
Código do texto: T6751847
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