O sorteio
Era um dia quente no Rio de Janeiro, para variar. Pedro Henrique aproveitou seu dia de folga para levar a família à Quinta da Boa Vista. Por volta das 16 horas, quando Pedro Henrique já estava de saída para casa com seu filho de nove anos, Marcelo, e sua esposa, Jurema, um homem, usando um terno preto e gravata e sapatos da mesma cor, os aborda.
─ Olá! Que família bonita! ─ diz o homem de quase dois metros de altura e nariz adunco apertando o queixo da criança.
─ O que o senhor deseja? ─ fala Pedro Henrique afastando Marcelo do homem sinistro.
─ Eu tenho uma proposta irrecusável para lhe fazer...
─ E qual seria? ─ pergunta, curioso, o engenheiro de produção.
─ Eu vendo sonhos. Já vendi quase todos os bilhetes de um grande sorteio. Só me restou este aqui e acho que ele estava esperando por você...
─ Não estamos interessados. ─ Grita Jurema, com a cara amarrada, puxando o filho e o marido por cada uma das mãos.
─ Esperem. Vocês não vão se arrepender. O bilhete custa apenas 10 reais e garanto que vai mudar a vida de sua família para melhor. ─ argumenta o homem com um sorriso melífluo e enigmático.
─ Está bem. Tome os dez reais. ─ Pedro Henrique paga ao sujeito para se livrar dele. “Mudar minha vida? Só se eu ganhasse um milhão de reais”, pensa o engenheiro de produção enquanto o homem misterioso se retira, sorrindo, a passos apressados.
Já em casa, Pedro Henrique examina o bilhete que comprou. É um bilhete da loteria federal e garante ao ganhador um prêmio de 1 milhão de reais. O sorteio corre no dia seguinte, no domingo. No primeiro dia da semana que se inicia, Pedro Henrique acorda bem cedo e leva sua família, de carro, à praia da Urca, para aproveitar o veranico que se instalou na capital fluminense. À tarde, vai ao cinema com o filho e a mulher e, à noite, janta fora com Marcelinho e Jurema num bom restaurante perto de casa. Quando volta para o aconchego de sua casa, no Engenho de Dentro, Pedro Henrique liga logo a TV para ver o noticiário de domingo. Durante os comerciais aparecem belas mulheres realizando o sorteio da loteria federal. Ele se lembra do bilhete que comprou do homem assustador do parque. Confere o bilhete e dá um pulo de alegria! Após extravasar toda a felicidade bebendo cerveja como água por ter ganho o prêmio, a campainha da porta toca repetidas vezes. Pedro Henrique vai atender a visita sorrindo. Quando abre a porta, Pedro Henrique se depara com o homem que lhe vendeu o bilhete. O homem lhe dá parabéns e esfaqueia o engenheiro até tirar todo o sangue de seu corpo. Satisfeito com seu ato, o soturno homem vai embora assoviando uma ópera italiana de Verdi e some após dobrar a esquina.
“Cuidado com o que você deseja”
FIM