DEZEMBRO DE SANGUE

Aconteceu no dia 23 de Dezembro de 2003. Eu estava com minha namorada, Amanda, passando férias na Romênia. Um país frio e escuro, onde parece que é sempre outono ou inverno. Minha tia, Frida, que morava lá, morrera havia três meses. A polícia disse que ela havia sido atropelada e seu crânio foi dilacerado. O caixão ficou completamente fechado, de forma que ninguém poderia ver como ela estava lá dentro. Foi o vizinho mais próximo dela quem fez o reconhecimento do corpo.

Frida me deixara de herança sua casa em Bucareste. Ela não tinha filhos e eu era o sobrinho mais próximo. Visitei ela na adolescência várias vezes e, embora nunca tenha aprendido o idioma local, gostava da região. Era uma casa de campo, com muitos cômodos e a aproximadamente cinco quilômetros de distância do vizinho mais próximo.

Estávamos lá desde o dia 15 de Dezembro, mas vou contar apenas a parte importante dos acontecimentos. Todas as noites, fechávamos as janelas e portas da casa - que era gigantesca - em todos os andares antes de irmos dormir, e todas as manhãs, pelo menos uma janela estava aberta, nunca a mesma da noite anterior.

Comecei a pensar que ladrões estavam invadindo a casa durante a noite, mas, como não havia vizinhos em um raio de cinco quilômetros e como nada havia sido levado, logo fiquei mais preocupado. Se não eram ladrões, poderia ser algo pior.

Conforme os dias passavam, mais coisas estranhas aconteciam. Começamos a escutar sons aleatórios vindos da cozinha no meio da madrugada, encontramos fluidos estranhos no chão dos corredores, e até manchas no antigo papel de parede que surgiam inexplicavelmente da noite para o dia.

Sempre que ouvíamos um barulho e íamos investigar, não encontrávamos nada. Apenas a casa vazia e nada mais. Até que chegou a noite do dia 23 de Dezembro. Decididos a desvendar esse mistério, pegamos duas câmeras de vídeo que usávamos para registrar nossas viagens e combinamos de filmar tudo e qualquer coisa que acontecesse naquela noite.

Fomos dormir como de costume, mas deixamos ambas as câmeras ligadas e gravando em nosso quarto. De madrugada, acordamos com barulhos de objetos de vidro sendo quebrados, estilhaçados. Pareciam estar em um cômodo mais próximo do que a cozinha. Levantamos assustados, acendemos a luz e pegamos nossas câmeras. Eu desci as escadas gravando tudo à minha frente, e logo atrás de mim estava Amanda. Acendi as luzes conforme avançava. Chegando à sala de estar, vi que a porta da frente estava escancarada.

Senti um arrepio subindo pelas minhas costas e passando ao redor da minha nuca, me dizendo que algo estava terrivelmente errado ali. Amanda ofegava, tremendo de medo. Achei que tinha visto um vulto do lado de fora, então saí pela porta, seguindo em direção à lateral da casa, onde havia a entrada para o porão.

Beirando a parede, não conseguia ver absolutamente nada, pois não havia iluminação externa. Foi quando aconteceu. Um rosto desfigurado passou bem diante dos nossos olhos, e só conseguimos ver porque estava MUITO PERTO, a menos de dez centímetros de meu rosto. Amanda soltou um grito apavorante enquanto corria pela lateral da casa, e eu corri tentando acompanhá-la. Ela abriu a porta do porão e desceu as escadas correndo, sem pensar, ainda gritando. Eu só consegui seguí-la.

Entrei no porão e não me preocupei em fechar a porta, e sim em acender a luz e pegar algo para me defender. Estávamos agitados. Com o porão iluminado, não havia nada ali conosco. Amanda entrou em choque e eu não conseguia acalmá-la. Eu disse para ela ficar parada onde estava, encostada na parede, enquanto eu tentava achar uma saída que levasse de volta para dentro da casa.

Eu não tinha um plano. Haviam facas e outros objetos que talvez pudéssemos usar para nos defender, mas qualquer tipo de ajuda estava muito longe, especialmente a essa hora da madrugada. Quando fui olhar na prateleira atrás do corredor, Amanda gritou novamente, mas dessa vez seu grito foi sufocado, como se ela engasgasse enquanto gritava.

Eu corri de volta para ela e entrei em pânico. Um homem - ou mulher - estava debruçado sobre o corpo dela, que tremia em espasmos ensanguentado no chão. Eu gritei, e a coisa se virou para me encarar. Não tinha nariz, seus olhos eram negros e desfigurados, sua boca era um emaranhado de dentes extremamente finos, e sangue escorria de sua boca. Sua pele era branca como neve e sua cabeça era completamente lisa. O cheiro era de morte.

Corri pela escada e saí para a noite antes que a coisa me apanhasse. Por sorte, um carro estava passando com os faróis acesos na estrada bem próximo à casa. Eu me joguei na frente do carro e implorei para que o motorista me deixasse entrar, mas ele não teve tempo de responder.

Eu abri a porta de trás do carro com um solavanco - foi por impulso - e me joguei para dentro. Por sorte estava destrancada. Gritei para que o motorista acelerasse e saísse dali. Mas ele ficou parado discutindo comigo numa língua que eu não entendia, e só acelerou quando a coisa desfigurada quebrou o vidro do carona e arrancou o passageiro de lá. Eu só percebi que havia um passageiro nesse momento. Foi possível ouvir seus gritos de pavor, dor e morte.

O motorista acelerou a toda velocidade na estrada. Enquanto eu tentava me acalmar e me comunicar com o motorista, percebi que minha câmera ainda estava em minhas mãos, ligada e filmando.

Dias mais tarde, após o trauma inicial e o luto pela minha namorada, voltei para o Brasil. Eu ainda estava em choque, e precisei passar por um tratamento psiquiátrico para me ajudar na reabilitação. Ninguém acreditava no que eu contava, nem mesmo meus amigos mais próximos.

Depois de quase 6 meses, criei coragem e fui assistir ao vídeo gravado na Romênia naquele dia 23 de Dezembro. No vídeo, enquanto dormíamos, a coisa desfigurada entrou em nosso quarto naquela noite e nos observou muito de perto. Depois, simplesmente desapareceu e os barulhos de vidro quebrando começaram.

Eu consegui capturar o rosto da coisa com a câmera, e até hoje me dá arrepios pensar naquilo. Depois de assistirem ao vídeo, todos acham que eu capturei imagens de um vampiro de verdade. Não do tipo de vampiros de filmes, com aparência humana, gótica, longos cabelos e dotados de habilidades especiais, mas sim um autêntico vampiro, desfigurado, com olhos grandes e totalmente pretos, dentes finos e numerosos, expostos sem lábios por uma boca grande e sem qualquer fio de cabelo na cabeça.

O mais assustador, porém, é que, por mais desfigurada que a coisa fosse, ela ainda tinha as feições da minha tia Frida.

Luya
Enviado por Luya em 18/09/2019
Reeditado em 18/09/2019
Código do texto: T6748027
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