Quebranto - Republicação

Mário era homem da roça, trabalhador, forte como só um homem que pega todo dia no cabo da enxada poderia ser. No alto dos seus 1.92 m de altura e quase 100 kg, se dizia o homem mais valente da região, poucos eram aqueles que teriam coragem de entrar em uma briga com Mário. Contam que em uma noite de São João, após ter vencido 02 em uma luta, sua mula de estimação empacou no caminho do sitio em que morava e que o mesmo já tomado por algumas várias doses de caninha de alambique e ainda de sangue quente da luta, foi carregando a mula até em casa, isso é o que o povo conta. O que Mário tinha de convencido tinha de mulherengo, já até falou que já foi pra cama com mais de 200 mulheres e que era homem pra uma noite inteira de "ozadia" e acho que foi em uma dessas aventuras que ele quase se lascou.

Domingão de sol, lá ia ele, short apertado, sem camisa, pra bater seu baba, era a atração das mulheres, fazia um gol ali, derrubava outro aqui, atropelava outro cá, peitava outro acolá, era o dono do jogo e realmente quase sempre o time que ele jogava ganhava e por isso ganhava sempre muita cerveja nas inúmeras apostas que fazia antes do jogo e foi num derrame desses de cervejas que a trama começou a se desenrolar. Quando bebia Mário que já era nada modesto, desandava a contar vantagens o que pra muitos era motivo de gozação mas para alguns era motivo de inveja, afronta e um desses era o Sr. Azevedo ou Seu Zevinho como queiram, dono do único matadouro da cidade e criador de algumas cabeças de gado, homem rico, calado de poucos ou nenhum amigo, magro, pálido que nem cera, parecia sempre está doente, embora houvesse época que o mesmo demonstrava uma disposição que causava duvida sobre o motivo da mesma, porém, após alguns dias a aparência de convalescença retornava, vivia em sua propriedade a maior da região, onde vivia isolado com sua 2ª esposa, moca 26 anos mais nova, já que os filhos todos já adultos tinham casado ou estavam na faculdade na cidade grande e não aceitavam tão relação. Seu Zevinho tinha uma bronca com Mário por desconfiar que o mesmo andava se engraçando com sua esposa e nesse dia ele e Mário estavam no mesmo local, sendo que Mário já estava bêbado e começava a contar suas histórias, quando chegou o assunto mulher, Seu Zevinho se aproximou e prestou mais atenção ainda no amigo falastrão, incomodado com tanta soberba, perguntou para o outro se ele não tinha medo dos maridos dessas mulheres todas, o que prontamente foi respondido:

- Não tenho medo de homem nenhum! ou de qualquer outra coisa que ande ou rasteje por esse mundo de meu Deus.

Seu Zevinho ainda indagou que nem tudo que anda ou rasteja por esse mundo, são coisas de Deus, que até os tementes a Deus podem se encontrar com benção ou maldição do tinhoso, mas , o outro também tinha resposta pra essa:

- Não existe benção que não se esvaia ou maldição que não seja quebrada.

Ouvindo isso Seu Zevinho foi embora, tinido de ódio, como alguém poderia não temer as maldições do Demo, as injurias que se escondem pela noite, a sina que aguarda cada um numa dobra de esquina, ele já tinha sido assim e hoje ele sabe, que até aquele que se levanta todo domingo pra assistir a missa e guarda a sexta-feira santa e quaresma pode ser arrendado pelos descaminhos da Besta. Antes de sair Zevinho mandou que Mário tomasse cuidado, com as altas horas e com a luz que guiaria seu caminho até em casa. Como Mário não era nenhum gênio, não entendeu o recado e deu pouco caso, afinal o que um nanico raquítico poderia fazer contra ele, alguns amigos ainda o alertaram que poderia ser alguma ameaça, dor de corno, mas ele nem se importou e continuo a beber. Já eram 23:00 quando a ultima garrafa foi devolvida ao balcão e a conta foi pedida, Mário nem precisou coçar o dedo pois todas foram da aposta ganha, despediu-se dos amigos e seguiu a caminho de casa com alguns amigos que iriam pra mesma direção, aos poucos cada um foi tomando rumo de casa e ele como era o que morava mais longe, ficou só, nem lembrava do conselho(ameaça). Já passava da 00 h, a lua ia alta no Céu, amarela e redonda deixando o caminho que não havia iluminação elétrica, muito bem iluminado, seria uma caminhada de mais 1/2 h até a chegada do sitio em que morava, coisa até apreciada, pois assim deixaria as cervejas pelo caminho em algumas paradas para dar alivio a bexiga, tudo foi normal sem contratempo, chegou em frente ao portão do pequeno sitio em que morava, notou que os cachorros dos sítios vizinhos estavam agitados e latindo muito e foi quando chegou próximo de casa que notou, alguém deitado, se debatendo em frente a sua porta, parecia está passando mal ao se aproximar notou que era alguém conhecido, que era Zevinho, porém parecia maior, gemendo, grunhindo, como se tivesse sentindo muita dor, a maldade não veio de imediato, tanto que ele chamou o amigo para saber o que se passava.

- Zevinho! o que tá acontecendo? o mesmo não respondia

- Zevinho! o que foi companheiro?

o homem no chão olhou pra Mário sem dizer nada e continuou se batendo no chão e Mário poderia jurar que tinha visto dois olhos amarelos quando o homem olhou pra ele, os grunhidos já pareciam urros e um forte cheiro de esterco de cavalo começou a ser notado, parecia que o homem e estava se esfregando em esterco de cavalo, nesse momento a ficha ainda não tinha caído, mas a raiva havia chegado e Mário então esbravejou:

- Zevinho! Seu Fí de Raparíga, levanta daí, sujou minha porta toda de esterco, tá doidando homi?

Foi ai que o esquisito aconteceu, o homem levantou grunhindo feito o capeta e olhou pra Mário de um jeito que fez o valentão gelar, era Zevinho e ao mesmo tempo não era, pois Zevinho tinha no máximo 1.60 de altura, e o bichão que ficou de pé em frente aa Mário era maior que ele, roupa rasgada, cara esticada, baba na boca era o retrato do demônio, o bicho olhou pra ele e desabalou a correr, quebrando cerca, na passagem deu uma tapaça na pobre mula de estimação que quebrou o pescoço da bichinha e na porta do sitio tava lá um Mário com seus 1.92 m quase 100 kg todo urinado de medo.

No Mesmo dia pela manha, o matadouro da cidade foi fechado e o maior sitio da região foi a venda, seu proprietário nunca mais foi visto, uns dizem que foi por vergonha já que a mulher foi uma das muitas que Mário traçou, mas, 02 pessoas sabiam o por que, uma era Mário que depois do acontecido mudou da água para o vinho, e sua Vó que procurada pelo neto pra contar o fato da madrugada passada, contou sobre suas desconfianças, ela era moradora antiga da região e causos como esses de vez em vez aconteciam. Ela disse que ele sem querer tinha desencantado um lobisomem, que quando você chama o nome do desinfeliz 03 vezes, quebra o encanto e que por vergonha daquele que o desencantou quase sempre a pessoa que sofre da sina, foge da região, que por ser praticamente vizinha do sitio de Zevinho lembra que uma vez, ele Zevinho, ao sair de casa a noite pra caçar jaguatirica, foi atacado por um bicho que ele dizia ser maior que um urso, ela mesmo foi chamada pra rezar o homem que já se fazia moribundo, que dormiu nos braços da morte e no outro dia ja tava forte como um garrote, que sempre em dias de luas cheia o rosto corava, a vigorosidade se apresentava, mas, quando a lua minguava, ele minguava junto. A velha também percebeu que sua esposa em certas épocas, sempre na lua cheia viajava, retornando so em outra lua, animais da região sumiam e que com um tempo pararam de sumir, porém, as vezes ouvia os berros de bois e vacas da criação de Zevinho a noite, parecia até que ele tinha 02 criações uma para comercializar e outra pra consumo próprio, mas que nunca imaginou que seria esse tipo de consumo e que na noite do acontecido o neto tinha dado muita sorte, pois como era dia santo, estava acontecendo uma procissão que em 1º lugar foi na casa do Infeliz, que recebeu o povo muito mal, como se tivesse incomodado, a procissão depois se dirigiu até a casa do caseiro ficando lá até às 23 h, sendo assim, o bicho não conseguiu se transformar, pois as orações, rezas e a imagem de Nossa Senhora seguraram a mandinga do lobisomem, senão fosse isso o bicho já transformado é que estaria esperando por ele. Zévinho nunca mais apareceu, Mário passou a ser homem sério e ainda mais trabalhador do que já era, não perde uma procissão em dias santos e até hoje antes de abrir o portão do sitio repara bem se nada tem de errado e ora pra proteção da sua casa, porque vai lá saber? até mesmo aquele que temi a Deus, vai as missas e respeita as novenas, pode ser visitado pelas esconjuras do diabo.

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O Danilo LIma
Enviado por O Danilo LIma em 17/09/2019
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