A culpa que sentimos.

Por toda a sua vida sempre ouviu falar que o tempo era o melhor remédio para curar as feridas da vida, mas parece que no seu caso o tempo não era seu amigo. Com o passar dos dias encontrou consolo com uma amiga, mais conhecida como a bebida. Claro com ela nunca era o bastante. Com o tempo apenas essa companhia não era o suficiente, noites em claro eram sua pior inimiga. Como ter energia para levantar-se no dia seguinte se mal havia dormido. Como em um passe de mágica outra amiga lhe foi oferecida. Um baseado antes de dormir como solução melhor não tinha, agora sim com cerveja e maconha suas feridas ela cicatrizaria. Um mês após o outro suas companhias não eram mais o bastante, como encontrar algo que a deixa-se mais forte, cocaína era o seu nome. Um raio após o outro, nem Zeus agora com ela pode... HA-HA-HA!!!! ela ria bastante conduzindo seu possante. Não havia melhor distração para o sofrimento do que dirigir contra o vento.

TRIN....TRIN...TRIN......PUFFF

Com um tapa no despertador ela acordou. Aquele sonho maldito voltara, fazia bons meses que nunca mais havia tido tal pesadelo. Fim de semana difícil, pois naquele domingo completava 5 anos que nunca mais tocara em nenhuma droga ou bebida. Mas o lema era esse. Um dia após o outro. Enquanto lavava seu rosto na pia do banheiro, percebeu que cabelos brancos começavam a povoar seu até outra hora lindos cabelos pretos. Esses são os prêmios que a vida lhe dava com o passar do tempo. Mas não podia reclamar, pois com a vida que levou muitos em sua idade não chegaram. Amigos de grandes noitadas que ali já não estavam mais. Com as palmas da mão lavou o rosto novamente para espantar os fantasmas do passado. Seria um longo dia de trabalho até a noite, quando se reuniria com a sua turma do Nar-Anon. Se no domingo ela comemorava 5 anos de sobriedade, na segunda feira posterior ela fazia 6 meses que se tornara a madrinha principal daquele grupo desajustados.

Todos merecem uma segunda chance era o que o seu padrinho lhe disse anos atrás, quando se juntou ao grupo da sala 6 do prédio 516 da Avenida Paraiso. Por todo o lugar, por todo o tempo em que o ser humano está nessa terra abandonada por Deus, sempre existiu pessoas que são como anjos na vida de outras pessoas. Um salva vidas para barcos à deriva nesse grande mar de solidão que é nosso mundo. Um planeta povoado por 7,7 bilhões de pessoas e mesmo assim conseguimos nos sentir sozinhos. O homem foi criado para viver em pares, se não para que um Adão precisaria de sua Eva, mas claro o maldito deve sorte, teve Deus como alcoviteiro. Já nos precisamos viajar o mundo e muitas vezes não encontramos a nossa metade da laranja. Porém o grande problema era quando encontrávamos essa tampa para nossa panela velha e ela acabava por ser extraviada. Todos que passaram por seu grupo de ajuda desde que ela havia se tornado madrinha tinham uma história de perda em suas vidas para contar. Jacó seu antigo padrinho que há um ano havia deixado o grupo para juntar-se a um novo experimento situado bem longe dali, havia lhe ensinado tudo que sabia. Paciência Rosane, ele cochichou em seu ouvido ao se despedir com um grande abraço, pois todos tem um tempo diferente para sentir-se à vontade para falar.

Diferente do que pensara o dia passou em um piscar de olhos. Já eram oito horas da noite, precisava de um banho e estava atrasada. As nove ela devia dar início a reunião e várias ruas de distância o prédio de porta vermelha ficava. Calça jeans rasgada, uma blusa preta de tricô e um tênis de corrida. Daria tempo de correr por todas essas esquinas, não era ela em sua adolescência uma boa esportista. Com suor na testa sem folego na frente do porteiro se postou.

- Parece exausta minha querida! o velho falou, Pedro era o nome do porteiro do prédio 516 da Avenida Paraiso, nos últimos 5 anos que ela frequentava as reuniões o velho alto, negro e de cabelos brancos tinha a mesma aparência de quem estava na terra a mais tempo que todos os outros. Devia ser ele o homem daquela música do Raulzito, que havia nascido a 10 mil anos atrás ou pelo menos ter visto as velas serem acesas pelo papa.

- Quase nada, disse Rosane muito mais cansada do que aparentava.

- Hoje está uma noite muito agradável para uma reunião entre velhos amigos, não acha minha querida? disse o homem de grande sabedoria da vida, com um largo sorriso para Rosane.

- Um pouco mais gélida do que meu gosto habitual, comentou Rosane. Apesar que estavam em meados de maio. Até então quando saiu de casa não havia percebido que a noite estava cada vez mais fria.

Com uma bela risada Pedro olhou para o corredor de entrada do prédio e disse – Acho que lá dentro estará uma temperatura que você se sentira mais aconchegada minha pequena criança.

- Que bom saber disso, exaltou Rosane com um sorriso de agradecimento ao velho porteiro.

Com passos apreçados entrou pelo corredor e se dirigiu para a sala 6 que era reservada para a reunião do grupo nas segundas feiras, as 21 horas. Ao abrir a porta da sala percebeu que todos já estavam ali por esperá-la. Até o jovem de cabelos cor de fogo estava ali no seu canto habitual sem dizer uma sequer palavra. Se ela não estivesse errada ele havia começado a frequentar o grupo na mesma época em que havia herdado a responsabilidade do seu antigo padrinho. Ele apenas escutava os depoimentos de seus colegas, sempre com um sorriso de deboche no rosto. Não foi a primeira vez que esse tipo de pessoa frequentou o grupo, normalmente Jacó convidava a se retirar pessoas toxicas como ele. Uns realmente precisavam de ajuda, mas não queriam ser ajudados, outros apenas estavam ali por diversão. Por incrível que pareça, rir da desgraça alheia parece um bom meio de se assegura que suas inseguranças emocionais são menores que as das outras pessoas.

Aquele homem lhe parecia diferente dos outros, mesmo tendo um sorriso simpático ao passar pela porta e dar boa noite a todos, ele emanava um sentimento de dor e culpa pelos seus olhos azuis claros. O cabelo bagunçado de quem não se preocupava mais com as aparências. Um ser humano com tanta dor e sofrimento estampando um sorriso largo com todos os brilhantes dentes retos e perfeitos a mostra era o tipo de pessoa mais perigosa para si mesmo e para os outros que o cercavam. Pessoas desse tipo podem se auto sabotar sem ao menos perceberem e levar consigo aqueles que querem apenas ajudar.

Naquela noite todos pareciam mais dispostos a contar seus medos e frustações do dia a dia. Maria mãe solteira de um belo menino, hoje já uma senhora de 60 anos, quase 30 anos que o havia perdido. Desde então vendendo seu corpo em troca de mais uma noite de diversão. Havia há 2 anos o grupo se juntado, após de um pesadelo com o filho morto ter despertado. Desde então nunca mais outro homem a tocou e seu corpo um templo se tornou. Porem nessa última semana um sonho estranho a estava preocupando. No sonho em questão um homem após o outro batia em sua porta, todos procuravam por seu filho, um pequeno menino que ainda estava em idade escolar deitado em seu quarto decorado com posters do Superman. Para todos ela deu a mesma resposta, que seu filho não poderia sair para brincar pois estava muito tarde. Todos agradeciam por sua educação, ela prometia que quando ele estivesse mais velho deixaria ele sair para brincar. Mas um deles não aceitava muito bem a negativa, o decimo segundo homem tinha um rosto mais carrancudo, colocava o pé na porta antes dela fechar e com um tom de voz autoritário dizia que um dia levaria seu filho e nunca mais o veria. Era nessa hora que ela acordava com a camisola embainhada em suor gelado. Como ninguém ali era um psiquiatra formado, era bem difícil dar uma opinião formada sobre os sonhos. O que poderiam fazer era apenas escutar e balançar a cabeça.

Noah havia se juntado a um ano ao grupo, um homem de fala fácil, que não tinha dificuldade de contar a sua história. No seu caso a culpa o ajudou a parar de beber, não que isso o tenha deixado uma pessoa melhor, já que nenhum pai deveria viver mais que seus filhos. Sua esposa o havia deixado quando as crianças ainda eram pré-adolescentes. A bebida o deixava com seu pior humor, chegando em casa a bela Nara sofria as consequências de seu dia difícil de trabalho misturado com drinks no bar da esquina. A maquiagem ajudava a disfarçar os hematomas pelo rosto, mas não eram todos que acreditavam em batidas nas quinas das janelas da casa. Até que um dia ela apenas sumiu sem olhar para trás. Vida que segue ele pensou, na bebida ainda mais ele se jogou. Com o passar do tempo ele chegava cada vez mais tarde em casa, deixando as crianças sozinhas sem uma supervisão adulta. Noah ainda lembra do dia em questão, quando naquela semana chovera por todos os dias sem parar, fazia 3 dias que ele não voltava para casa, aproveitando o feriado prolongado para se esbaldar pelos bares da cidade. Com as chuvas torrenciais tomando conta da cidade, o que menos ele esperaria era que o barranco atrás de sua casa desabaria e engoliria toda a sua casa, deixando apenas o cachorro e gato de seus filhos vivos. O barulho da ambulância em frente à sua casa ainda o atormenta noite após noite sem parar.

Miriam era uma jovem que não tinha nem 20 anos, diferente de seus colegas, nunca chegou a ser viciada em drogas ou álcool. Consumia moderadamente bebidas nas festas que frequentava, porem carregava a culpa de ser uma má influência para todos que a cercavam. Sua dor era bem recente, o fato de estar ali para ajudar aos que sofriam com o maldito vicio a ajudava a sentir-se menos culpada com o que havia feito. Miriam era filha única de seus pais, biologicamente falando, pois quando ela tinha 4 anos de idade seus pais adotaram um menino que fora encontrado em uma caixa perto do rio. Como era muito pequena para falar seu nome corretamente, o chamava de Mo-Mo e o apelido acabou pegando até o menino ficar adolescente. O menino não sai do seu lado para aonde quer que ela fosse. Era o caçula da sua roda de amigos nas festas. Um dia sobre a influência das drogas que sua irmã adotiva apresentou, roubou o carro de seus pais com mais 4 amigos. Ao sair pela garagem atropelou seu pai que tentava impedir que saísse naquele estado de casa. Polícia acionada, carros perseguindo em alta velocidade. Como uma peripécia do destino dirigiu o carro de seus pais para o mesmo cais do porto em que foi encontrado anos atrás. A velocidade do carro era tão alta que não conseguiu controlar na curva que viria e todos se afogaram dentro do rio. A equipe de resgate só retirou o carro do rio ao meio dia do outro dia. O sol estava muito forte resplandecendo na lataria vermelha do carro roubado refletindo nas águas do rio.

Eram quase 11 horas quando Sandro um homem alto e forte de cabeça tão lisa que parecia nunca ter tido cabelos na vida, um dos tímidos acabou de contar como se sentiu tentado na última sexta-feira. Seus colegas de trabalho lhe convidaram para o famoso happy hour do escritório. Ele aceitou a contra gosto, pois sabia que muitas vezes essas pequenas “regras” do convívio social eram o necessário para a promoção de um funcionário. Uma rodada de chope após o outro foi descendo a mesa, apenas um suco de laranja natural sem açúcar era o seu pedido ao garçom. Motivo de deboche no escritório segunda ele seria, mas melhor assim, pois com apenas um gole de bebia ele sabia bem no que se tornaria. Precisou perde esposa e filhos, com restrição judicial para perceber no tipo de homem que a bebida à tona trazia. Após chegar bêbado em casa e o braço de sua filha mais nova, Ó pobre Dália apenas um abraço ela queria, um estalo, choro e gritos então a polícia chegou. Fazia 293 dias desde que nunca mais seus filhos ele havia visto. Sua esposa nunca mais o olhou nos olhos, no dia que o juiz decretou o divórcio e a restrição de mais de 100 metros de todos os seus entes mais queridos.

Com tudo todas essas histórias para Rosane já eram conhecidas. Mulheres e homens dominados pela droga e a bebida. Perdiam filhos, esposas e todos seus entes mais queridos. O remorso era a porta de entrada para o vício, nos entregávamos a qualquer tipo de droga para podermos nos esquecer dos erros de nossas vidas. Mas aquele rapaz de cabelos ruivos a intrigava, porque sua história para ele tão difícil parecia ser contada. Haviam se passado mais de 5 minutos que Sandro falara. Tomou coragem, olhou para o homem sentado na parte mais distante do círculo e o chamou...

-Gostaria de contar a sua história, meu amigo?

O jovem rapaz se levantou, arrumou os cabelos e abriu um largo sorriso para os colegas ali presentes.

- Primeiramente gostaria de desejar a todos uma boa noite. Que bom que finalmente quiseram me dar a chance de me apresentar...

- Na verdade sempre deixamos todos livres para falarem quando estiverem mais à vontade, interrompeu Rosane com um tom mais alto que o rapaz.

- Sim eu entendo isso senhorita Rosane ou senhora....

- Não senhorita mesmo, respondeu quase que na mesma hora.

- Claro se preferir assim, nessa noite a chamarei de senhorita. Conforme vinha me apresentando para meus demais colegas, podem me chamar por Nael. A muito venho acompanhando suas histórias com tamanho interesse que não podem imaginar, caminhou ao redor da sala olhando todos olhos por olhos.

Rosane começou a sentir um calor no mesmo momento que o jovem circulava pela sala, olhou para o ar condicionado que ficava no canto oposto da sala e percebeu que ele estava desligado. Lembrou que quando chegara na portaria o tempo estava frio, mas até então achou que ali dentro estava com o ar ligado. Sua roupa estava ensopada de suor agora, em que momento esquentou tanto ela pensou.

Nael agora a fitava nos olhos, como se a tempos fossem íntimos, todo aquele olhar que ele tinha de dor e sofrimento havia sumido como se nunca estivesse ali. Um olhar apaixonado tinha tomado o lugar dos olhos de desespero que ali estavam antes.

- Como é bom estar entre meus iguais, sibilou Nael, batendo com a palmas das mãos com felicidade.

Rosane se mexeu na cadeira, pensando em levantar, mas desistiu, pois, estava se sentindo muito cansada naquele momento, como se tivesse corrido vários quarteirões sem parar. Olhou para o relógio novamente e percebeu que deveria ter trocado as pilhas na semana passada, pois os ponteiros estavam travados em 11:10. Já se passaram algumas horas desde que chegara correndo até ali para não se atrasar para a reunião, como ainda se sentia tão cansada se estava sentada a muito tempo, ainda era uma incógnita para ela. O suor escorria pelo seu corpo deixando a roupa cada vez mais grudenta na pele.

Nael continuava a circular pela sala fitando todos os presentes. Um a um ele observava dos pés à cabeça, fechando os olhos como se quisesse lembrar de algo a muito esquecido.

- Imploro a todos que fechem os olhos e tentem imaginar a história que vou lhes contar. Palavras não são o bastante para representar, por isso melhor amiga que a força da imaginação não há. Durante muito tempo caminhei em busca de pessoas especiais a quem eu pudesse confiar. Mal algum haveria, que se do meu pão amassado eu com vocês partilhasse. Se de um casal todos viemos, porque morrer sozinhos nós devemos. Pior do que a solidão, é estar acompanhado daqueles que não são de confiança. Como saber a quem nossos segredos mais íntimos confiar. Por isso tanto caminhei, ate poder encontra aqueles que da minha história podem partilhar.

- Agora imaginem um homem, tão bom que ninguém duvida de seu carinho por esposa e filhos. Coloquem uma ideia não muito mirabolante na cabeça desse mesmo senhor pai de família. Aos poucos esse mesmo homem começa a duvidar de tudo que achava certo até então. Em sua infância humilde aprender com o seu pai, tudo que o pai do seu pai ensino e assim sucessivamente. Porem tudo isso já não servia de nada, pois do começo tudo deveria surgir novamente. Novas criações, novas regras estabelecidas para todos. Essa pequena dúvida lançada sobre seus pensamentos passa a ser certeza para ele. Para os que o rodeiam já passa a ser loucura, delírios de um homem que não aguentou a pressão na selva do dia a dia de nossa sociedade e suas regras pré-estabelecidas. O pai amoroso e dedicado, o esposo compreensível e apaixonado, o digno cidadão de nossa sociedade, está entregue a loucura e será julgado e separado de seus iguais.

-Ainda não abram os olhos. Vamos trocar de personagem agora. Chamaremos esse de O irmão. Jovem, belo, estudioso, recatado e todos esses elogios são poucos para nosso rapaz. Amado pelos pais e irmã.... Claro não podemos esquecer dela, a Irmã, que ama incondicionalmente seu pequeno irmão, enquanto ele não ofuscar o seu brilho. Convença-o que ele é especial, diferente de todos os outros que o cercam. Alguém que não está preparado para tamanha grandeza pode acabar tropeçando em seus próprios passas enquanto caminha pelas estradas da vida. Porem ele é especial, a pessoas ao seu redor que o carreguem. O levem ate onde ele ordenar, sem ao menos questionar. Contudo a mesma queda de uma rocha que cai da montanha é um homem cego em sua arrogância. Se no caminho da vida não tratar todos como iguais, até lá sozinho chegara.

-Respirando em 3,2 e um home forte e robusto. Transformado em guerreiro desde o nascimento. Criado simples e humilde. Todos para ele são seus irmãos. Nem uma formiga machucaria. Defensor dos fracos. Antes a vida de um irmão do que a sua. Um homem tão bom assim, pecado não teria. Se o cercarmos de pessoas mesquinhas e inescrupulosas. Que aproveitando de tamanha bondade usassem um homem honrado para os fins errados. Fogo, fumaça e sangue! Enjaulado e humilhado, um homem bom ate aquele instante. Agora sim é mais fácil tornar, aquele que tão bom era, no guerreiro sedento de sangue que tanto precisava. Use-o e o traia, pois bondade nenhuma mais restava, em sua alma despedaçada.

- Brincadeira de criança, roubar laranjas na casa dos vizinhos, jogar o pau no gato ou ate tocar a campainha e sair correndo. Temos agora o cenário perfeito. Como criar um bom filho então, se pergunta jovem mãe solteira. Todos parecem má companhias para seu belo menino, criado já sabendo que é especial, único, aquele que sua mãe esperava a tanto tempo. Escolha a dedo as amizades de seu menino. Apenas os melhores o acompanharam. Como se assegurar da índole de cada um. Pai e mãe casados, irmãos e irmãs bem-comportados. Nada fora de contexto, esses serão os amigos de meu rebento. O tempo transforma as pessoas, tudo sempre está em metamorfose. A larva que vira uma linda borboleta, o girino que vira sapo. O bom filho que pega dos outros sem permissão, a filha que vende o corpo por uma troca injusta. Agora sem a supervisão da mãe, como julgar essas pessoas boas companhias. Te chamaram de ladrão, de bixa, macoheiro e transformaram tudo por dinheiro. A mãe que defende o filho coloca a culpa nas companhias, aquele que julga afirma, me diga com que andas...

Rosane percebe que estava em um estado hipnótico, sua respiração era rápida e confusa, como se estivesse com um ataque de asma. Nael estava sentado novamente em seu canto habitual, mas algo estava diferente na sala. Havia mais cadeiras dispostas ao seu redor. Outras pessoas que ela não conhecia haviam chegado enquanto o rapaz de olhos azuis e cabelos de fogo falava. Ao total havia 3 rodas de 9 cadeiras ao seu redor. Mas como elas chegaram sem ao menos perceber Rosane se indagava. Todos a olhavam com uma seriedade que a deixavam como uma sensação de ser despida ate a pele pelos presentes.

- Quem são todos você? Começara a indagar Rosane ao ser interrompida.

-A ré terá sua hora para falar, Rosane olhou para ver de onde vinha essa voz autoritária e percebeu que se tratava do porteiro, o velho Pedro. Mas ele estava tão diferente, o semblante amigável que ele possuía ate então, deu lugar a uma rosto frio e acusador.

- Já ouvimos os testemunhos mais importantes ate agora, exaltou Pedro, a quem ela pouco reconhecia até agora.

-Culpada!

-Culpada!

-Culpada!

A voz de milhares de pessoas ecoava a mesma palavra pela sala.

- Nael! Chamou Pedro e todos se postaram em silencio.

- Se eu sou o pai da solidão e tristeza que assola essa terra, é porque existe uma mãe. Abdico da glorias que me são impostas pois de total gozo não faço de todos os feitos. Eu estive lá de fato no momento próximo a sua primeira transgressão. Porém o que seguiu depois venho de sua própria condição assim como mulher. A todos os títulos e nomes a ela concedidos, apenas sozinha em tamanha gloria pode se resplandecer. Durante muito tempo caminhei, sem ver essa pessoas jamais. Agora que nos reunimos, não podemos deixar tal chance escapar, pois de vários nomes novamente a podem chamar.

- Leve ela daqui então Nael e de seu convivo jamais ela sairá!!!! Ordenou o velho.

Nael abriu o armário que estava atrás de sua cadeira. Caminhou ate Rosane e a pegou pela mão. Ela tentou se desvencilhar dos braço do rapaz ruivo, mas era quase impossível não obedecer ao toque dele. Ao tentar clamar por socorro nada saio de sua boca. Como que um passe de feitiçaria sua voz havia sumido, pior na verdade percebeu que não saberia nem como falar agora. Como uma mulher adulta na casa dos 40 haveria de esquecer como se fala. Como se fosse uma velha com Alzheimer ou uma criança de colo apenas balbuciando silabas. Suas pernas se tornaram muito pesadas para correr, Nael a acompanhava pelos braços de uma maneira acolhedora, isso lhe causava mais temos ainda. Um sentimento de intimidade criar sobre os dois, mas ela sentia que era errado ter qualquer tipo de ligação com aquele homem. As pessoas que estavam ate outra hora sentadas e a chamando de culpada sem ao menos a conhecê-las começaram a se levantar e quebrar tudo ao redor da sala. Usando as madeiras dos moveis do local, acenderam uma fogueira e dançavam freneticamente ao redor. As chamas se alçavam acima do teto, mas que teto pensou Rosane, pois a luz do luar já banhava tudo ao redor. A sala já tinha dado lugar a um jardim de flores negras com pétalas sujas de sangue. O sangue deveria pertencer a várias pessoas pois estava em grande quantidade de várias tonalidades diferentes. Mulheres cavalgavam lindos cavalos negros com as crinas em chamas. Homens cortavam as arvores que rodeavam a parte do exterior do jardim e jogavam os galhos na fogueira. A cada arvore cortada gritos de uma mãe em choque eram escutados ao fundo. Tamanha tristeza nesse pranto jamais havia sido escutada por Rosane. Crianças adentaram o jardim, cada uma portando uma adaga de prata, começando a golpear suas mãe que vinha logo atrás em seu encalço.

- Observe tudo isso atentamente menina! Ressaltou Nael para ela, mas não parecia mais o mesmo. Um cara horrenda tomara conta de seu rosto. No lugar dos braços havia tentáculos oleosos e negros como pinche. Seus dentes eram tão pontudos como as adagas portadas pelas crianças. Grandes assas saiam de suas costas, uma delas Rosane pode perceber que estava quebrada. Os lindos cabelos vermelhos foram substituídos por uma coroa de espinhos.

- Lembre-se que tudo que aconteceu até esse devido momento, foi culpa sua e de mais ninguém. A causadora do sofrimento e da queda da humanidade.

As grandes assas se abriram e começaram a envolver Rosane como em um grande abraço. Desesperada Rosane se dera por vencida. Sem saber falar ou poder caminhar não haveria o que mais fazer. Um única faísca de luz passava pelo vão das penas das assas antes de se tomada pela eterna escuridão quando em um flash toda a vida dela passou.

Um marido

Um jardim

Um amigo

Um confidente

Uma arvore

Aquele maldito fruto....

Demetrius de Oliveira
Enviado por Demetrius de Oliveira em 16/09/2019
Código do texto: T6746353
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