O Celeiro
Hoje tive um sonho horrível e assustador, e muito real. Sonhei que eu e mais 4 amigos estávamos reunidos no velho celeiro onde íamos toda vez que forma temporal e os trovões e raios tomavam conta dos céus
No sonho ainda tínhamos 12 ou 13 anos e tínhamos a energia de todo jovem, morávamos na mesma fazenda e vivíamos sem preocupações. Nosso único medo eram os temporais. Aí para nos distrairmos, corríamos para o celeiro, nos sentávamos no chão e ficávamos contando histórias de terror.
Mas no sonho tínhamos medo de entrar no celeiro, mas algo nos obrigava a fazer isso e era isso que assustava mais do que o temporal do lado de fora.
A sensação era de desespero. A porta aberta, aquela voz nos chamando...
Acordei assustado e com medo. Não consegui mais dormir.
.....há três noites tenho o mesmo sonho. O celeiro. A voz nos chamando e o temporal cada vez pior. Não pode ser real.
Uma ideia louca me surgiu na mente. Será que os outros também....não, seria muita loucura, não pode ser...
Estou com medo, mas vou fazer contato com todos eles pra tirar essa dúvida.
Antes que eu criasse coragem, o celular tocou. Era Carlos, que há um bom tempo não nos falávamos. Seu tom de voz era tenso.
Ele começou dizendo que eu iria achar ele louco, mas que precisava me perguntar uma coisa que parecia absurda.
Eu falei:
Se for o que estou pensando, não é absurdo. Os sonhos? Sim, estou tendo também, e provavelmente todos estão tendo.
Ele me ligou porque apesar de sermos todos amigos, eu era o mais ligado a ele.
Hoje morávamos cada um em uma cidade diferente e tínhamos um segredo. E não queríamos falar sobre aquilo. Mas parece que precisaríamos falar.
Quatro rapazes e duas meninas, era nosso grupo, unidos em tudo. E havia mais um que queria fazer parte do grupo, mas por algum motivo que não me lembro, não se enquadrava no grupo.
Ligamos e confirmamos, todos estavam tendo a mesma droga do sonho, quase idênticos.
Vinte anos atrás...
O temporal de levantou de repente, não estávamos todos juntos, mas como se uma coisa nos chamasse, corremos para o celeiro, sabíamos que não demoraria a cair o temporal.
Nos sentamos como num ritual naquele ambiente escuro e sombrio. Era hora de contarmos histórias de terror, que havíamos ouvido, e algumas inventadas.
Lá fora estava cada vez mais escuro, vento, trovões e raios. Algo parecia estranho naquele dia. O clima estava tenso, estávamos inquietos, com uma sensação estranha, mas nem precisávamos comentar, pois sentíamos no ar.
De repente batidas fortes na porta.
- Deixe me entrar!! Estou com medo aqui fora, está começando a chover.
Era Marcus, era um pouco mais jovem que nós, mas sempre queria estar no grupo. Nos olhamos um para outro, sem dizer nada, até que alguém que não me lembro se levantou e foi abrir a porta.
Ele entrou, fizemos sinal para que se sentasse no lugar determinado, ele sorriu como agradecimento.
Ficamos ali contando histórias por um bom tempo....aí..., bem não me lembro muito bem o que houve. Só me lembro que alguns meses depois todos estavam indo para outra cidade. Não sei exatamente o porque. Mas Marcus havia falecido, isso me lembro. Como foi isso? Não sei, nenhum de nós do grupo sabe eu acho, na verdade esse assunto era evitado por todos , inclusive nossos pais.
Dias atuais
Como já disse , todos estavam tendo o sonho, e a voz que nos chamava era dele, o garoto chamado Marcus.
Será que o tal celeiro ainda existia? Marcus estaria nos chamando para ir até lá? O que ele queria ?
Seríamos nós os culpados de seu falecimento?
Nenhum de nós tinha uma lembrança clara do que acontecera naquele dia. Mas tínhamos a certeza que era preciso ir até lá, ou não iríamos parar de sonhar.
Estando todos de acordo, marcamos uma data e cada um se dirigiu para lá. Conseguimos informações de que a fazenda estava inativa, sem moradores, sem plantações quase uma fazenda fantasma. Localizamos o proprietário, um senho já bem de idade, que depois de muita resistência nos autorizou a ir até lá.
Marcamos de nos encontrar lá na entrada da fazenda. Mantivemos nossa amizade, mas com o passar do tempo já estávamos mais distantes emocionalmente, mas ainda existia uma forte cumplicidade por assim dizer.
O celeiro estava lá, velho e mal conservado, e percebemos que o tempo começou a mudar, a ficar escuro anunciando um temporal.
Sabíamos o que precisava ser feito, nos digirimos ao celeiro, nos aproximamos da porta, tínhamos a sensação de que uma voz nos chamaria. Mas não foi o que houve. A porta estava aberta, entramos com certo receio. A mesma sensação de quando éramos jovens, o mesmo cheiro, tudo estava como antes.
Apesar de não falarmos nada, cada um sentou no seu devido lugar, deixando um espaço vazio... o que foi ocupado por Marcus.
Conversamos um pouco, nos sentindo ridículos por estarmos ali. Lá fora o temporal se formando. Escurecendo tudo. Sim, estávamos com medo.
De repente um estrondo soou , a porta de abriu e um raio cortou o céu.
Ele estava parado na porta, Marcus. Mas ainda era o menino de vinte anos atrás. Nos olhamos um para o outro, pálidos de medo e sem voz.
Ele entrou, tímido e devagar como era seu jeito, e foi direto para o lugar vago.
De cabeça baixa falou:
- Posso contar uma história agora? Vocês não me deixaram contar da última vez.
Em uníssono dissemos um sim, nervosos e com medo.
Ele então começou:
“Há vinte anos um menino queria muito fazer parte de um grupo, ele os admirava e queria estar com eles, mas eles o ignoravam. Um dia ele conseguiu se reunir com eles, em um celeiro. Queria saber o que faziam ali toda vez que havia temporal. Enfim iria descobrir e poderia fazer parte com eles.
Estava feliz por isso. Entrou e sentou, tímido, com medo de saber o que faziam, mas ansioso por participar.
Contavam histórias de terror, e ele ficou com muito medo, mas não podia deixar que percebessem.
Lá fora, raios e trovões. Parecia que tudo ia desabar sobre eles. Estava muito escuro, de repente ficou muito mais escuro ainda, quase não dando pra ver nada ali dentro. Barulhos começaram a ser ouvidos, não fora do celeiro, mas dentro do celeiro. Ele se encolheu em um canto e ficou ali, sentindo seu coração batendo e falhando às vezes.
O resto do grupo estava apavorado, uns se abraçando ao outro, as meninas chorando e pedindo socorro.
Algo ou alguém estava junto com eles no celeiro, e todos perceberam isso, precisavam sair dali, correr, abrir a porta e sair, mas como?
O barulho aumentando, o pavor tomando conta de todos eles, chegando ao desespero.
O menino havia deixado a coisa entrar no celeiro e precisava salvar o grupo de jovens, eles não mereciam aquilo. Não.
Com grande esforço mental o menino consegui fazer a porta se abrir, e gritou:
-Vão, corram, agora... eles saíram desesperados, gritando e chorando. Saíram todos. Lá fora o temporal ficou pior ainda. O menino ficou, a porta de fechou assim que eles saíram.
O menino sabia o que viria a seguir, só sobrara ele no celeiro. Ele sentiu a coisa de aproximando com muita raiva e ódio. Ele tentou sair mas não pode. Ficou ali e morreu, seu coração não aguentou o terror e medo a que foi exposto.
Antes que aquilo o destroçasse de uma maneira terrível.
Mas antes de morrer em sua mente, ele consegui apagar aqueles momentos de medo e desespero que aqueles jovens passaram. Eles não iriam se lembrar. E nunca se lembraram.”
Ele levantou a cabeça , olhou para cada um de nós e disse:
Essa é minha história, o menino era eu, o celeiro era esse e o grupo eram vocês.
Vocês nunca tiveram culpa, mas seus pais não podiam saber, nunca souberam.
Perguntei atônito: E a criatura? O que aconteceu com ela?
Ainda está aqui, saiam e vão embora antes que ela venha atrás de vocês.
Vão para suas casas agora.
Eu fui o culpado pela desgraça que trouxe para a fazenda.
Agora vão! Disse isso e saiu da mesma maneira como entrou.
Voltamos para casa e nunca mais falamos sobre o assunto.