Deep Web

Sempre estudei em casa, minha aparência não permitia o convívio com outras pessoas, toda vez que me olhavam eles sempre riam e alguns até sentiam nojo ou vomitavam.

Minha infância se resume a este teto escuro do sótão e alguns ursinhos de pelúcia, tudo que sou e tudo que penso está aqui dentro desse quarto, a única possibilidade de enxergar o mundo lá fora é através desta janela que me faz ver somente o céu, os aviões passando e as nuvens se movendo lentamente são como um teatro ou algum filme para mim.

Não me é permitido nem mesmo assistir a tv, minha mãe não gosta que eu veja pessoas normais, ela acha que eu vou surtar ou algo assim, eu acho besteira mas ela é a minha mãe e eu só tenho 12 anos então tenho que obedecer.

Quase que diariamente eu torcia para que algo novo surgisse em minha vida, mas era sempre a mesmo rotina, as nove da manhã minha mãe me acordava com o café, ao meio dia a empregada levava o almoço e quando escurecia minha mãe me dava um beijo na testa e me desejava boa noite, era sempre assim, dias após dia.

A, eu esqueci do jhon, meu computador, eu chamo ele assim porquê ele é a minha única companhia por horas.

Meu computador só permite o acesso a conteúdos de estudos da minha escola, os demais sites ficam bloqueados

Numa quinta feira a tarde eu estudava para a prova de biologia quando um pop up apareceu em minha tela, em anos acredito que essa foi a coisa mais diferente que aconteceu em minha vida. Mas que depressa eu cliquei, uma janela abriu e pediu permissão para baixar um tipo de navegador, eu continuei.

Estava tão empolgada, quando fui perceber estava dentro da plataforma da deep web, esse simples pop up me fez mergulhar num mundo o qual nunca vivi, as coisas eram um pouco nebulosas e confusas mas eu sentia que pertencia aquele universo.

Quando minha mãe sobia com o café eu mais que depressa fechava tudo aquilo e abria o conteúdo da minha escola, ela não podia ver de jeito nenhum aquilo ou o meu universo iria por água abaixo.

Hoje tenho uma família, os lobos solitários, eles conversam comigo todo dia, e quando explico a minha situação eles sempre duvidam, não acreditam que vivo dentro de um sótão e não tenho contato com o mundo externo.

Eu vejo neles um sentimento de revolta assim como o meu, então me sinto bem com eles, trocamos experiência e damos algumas risadas.

Num certo dia o líder do grupo disse que precisaríamos realizar um teste para analisar se seriamos merecedores de pertencer ao clã, neste momento eu não me importei, acredito que posso fazer qualquer coisa para continuar com isso.

- Moças e rapazes por favor abram as suas webcams, preciso delas como prova da fidelidade de vocês, quero que vocês neste momento peguem algo que machuque e com este objeto vocês precisam matar ao menos duas pessoas da sua casa.

Meu coração estava tão negro que não pensei duas vezes, minha mãe fez isso comigo, eu tenho essa vida miserável por conta dela, ela me gerou assim com esta aparência e agora quer esconder de todo mundo, ela não merece viver.

Dei um grito dizendo que estava com fome, ela subiu as escadas trazendo pães e frios num prato branco. Ao pegar eu fingi que deixei cair o prato no chão, ele se esfarelou em diversos pedaços mas o pedaço maior eu peguei e encravei na sua jugular. Com as pernas cruzadas e sentada eu olhei ela no olho até sua alma se esvair do corpo.

Aquele luz vermelha atrás de mim filmando, indicava que o meu trabalho estava concluído.

- Muito bem menina, você é muito feia mas é bem prática, falta mais uma pessoa estamos aguardando.

A empregada ao ouvir o barulho subiu depressa para checar o que estava acontecendo, quando ela viu o corpo gritou muito, então com um chute eu a derrubei da escada. Como não tinha forças para levar ela pra cima novamente para mostrar ao líder, com uma faca degolei o seu pescoço e mostrei na webcam.

- Aplausos menina, bem vinda ao grupo e sua assinatura a partir de agora será vitalícia conosco.

Eu realmente me sentia bem e útil, eu havia encontrado meu lugar.

Dormi tranquilamente mas no outro dia dei conta que o café e o almoço que costumava comer não estava mais lá.

- Mãe?

- Fátima?

- Vocês estão ai?

foi a primeira vez que senti um vazio muito grande, ao sair do sótão notei o quanto grande e vazia era aquela casa.

Ao sentir fortes odores acredito que a vizinhança se alarmou e chamou a policia, os policiais sem pensar duas vezes arrombaram a porta mesmo eu dizendo que já estava descendo.

Perguntaram onde estava minha mãe e eu respondi que eu tinha matado ela e a empregada, talvez minha inocência e falta de convívio social me fez ser ingênua e não me deixar mentir.

O policial bigodudo me algemou e arregalou o olho dizendo que nunca havia presenciado algo tão macabro e me levou para a prisão.

Hoje é um dia muito triste pra mim, não vejo mais o céu, só posso ver algumas grades e essa parede cinza, meu café da manhã esta atrasado e não tenho mais internet, agora sim estou morta. Perdoa-me.

Fear
Enviado por Fear em 11/09/2019
Reeditado em 12/09/2019
Código do texto: T6742730
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.