Olha com quem andas

O pai de Junim era dono de um botequim no bairro. Ainda vendia papel para fumo e óleo para lamparina, mas o que dava lucro eram as bebidas palhadas que trazia do interior. Junim desde cedo já tomava uma ou outra. Na primeira vez que bebeu era tão novo sempre achei estranho o conselho tutelar não ter denunciado seu pai a policia. Era uma tradição do homens da família, você só se torna homem depois do primeiro porre. Junim ainda estava provando ao mundo que já tinha crescido.

Enquanto os outros chegavam na praça para conversar e paquerar Junim ia para beber, pegava uma garrafa da amarela e ia encontrar seu amigo de copo, Cabeça de gás ou apenas cabeça, era um apelido por causa do tamanho e formato do sua cabeça, apenas isso. Copos na mão e Siriguela. Quem passava na rua e pedia um gole era atendido, tinha até quem levava o próprio limão. Eles não enganavam ninguém eram apenas crianças brincando de ser gente grande.

Em um destes encontros uma pessoa era frequente, Tapioca, ninguém nunca perguntou o por que, as pessoas só o chamavam assim. Era o tipo da pessoa que você queria manter uma relação cordial, não de amizade não me interprete mal, ele vivia de bicos, de todos os tipos, ajudante de pedreiro, capinava um canteiro, jogava entulho fora e quando não tinha muita tarefa, vendia o fruto dos seus furtos. Isso era em uma época mais simples, não tinha facção, ou revolve, as pessoas levavam suas coisas e você só percebia quando chegava em casa. Os meninos não gostavam da ideia de roubar pessoas, mas era melhor esta do lado dele do que no caminho, assim pensavam.

Curiosos sobre ele os garotos perguntaram sobre seu passado, família e como ele chegou ali. Ele já estava bêbado e nesta altura não iria fugir da pergunta como das ultimas vezes.

-Morava no interior de pernambuco com minha irmã e uma sobrinha, um dia ela voltou para casa e um zé ruela jogou uma laranja que pegou na cabeça dela ai eu fui lá nele, aproveitei que ele tava de costas e dei duas furadas nas costas dele. No mesmo dia sai de lá e vim pra cá. Depois minha irmã disse que ele tinha ficado aleijado e ta doido pra me pegar, nunca que volto pra lá. Em seguida rir da situação. -So nem otário e vacilar assim. - completa. Os meninos ficaram assutados, que homem era aquele - pensavam.

Após aquele dia Junim parou de ir a praça para beber em vezes disso, bebia em casa longe de contato com aquele homem, mas isso não o impedia de cumprimenta lo de longe quando cruzavam o caminho um do outro, cabeça de gás era o mais assustado e por vezes baixava a cabeça e desviava o caminho.Sempre muito quieto e calado tinha muito medo que algo lhes acontecesse. Ao longe se percebia que Tapioca estava ficando mais magro e estranho, parecia um zumbi andando pelas ruas, era sabido que ele estava junto de uma mulher mais nova e muitos pensavam que ele tinha criado juizo na vida. Naquela altura ninguém o chamava mais para fazer bicos, ou se aproximava dele o medo estava no imaginário de todos.Ninguém queria se associar a ele.

Enquanto voltavam a noite da escola o carro da policia para na frente deles fazendo barulho com os pneus e os policias desceram. -Bora, mão na cabeça! Depois do baculeijo uma unica pergunta.

-Cade o tapioca? Questiona o sargento Pereira. Os meninos ficavam sem reação e sem entender nada, sabiam onde era o novo lugar onde ele morava, mas não sabiam o tamanho da encrenca onde se meteram ou se tinham entrado em alguma encrenca por causa dele.

-Bora, fala logo a gente já sabe que vocês eram amiguinhos, ficavam de bebedeira a noite toda, eram cheio das conversas com ele, podem abrir o bico que é melhor para vocês dois. Junim ainda estava paralisado, só pensava em correr até hoje não sabe correr por que, só estava assustado, o medo de levar um tiro era maior do que de ser preso, então Cabeça tomou a frente e disse:

-A gente sabe sim, Senhor! Te digo onde é.

- Vai dizer nada, vocês vão levar a gente lá! Pode entrar na viatura os dois. Afirmou categoricamente o St. Pereira.

Era uma casa simples, com telhado baixo, um portão de ferro por fora e outro de madeira por dentro. A policia batia e gritava e nada nem ninguém atende. Quando conseguiram arrombar a porta lá estava ele, preso no teto pelo pescoço, o corpo ainda estava quente e na cama sua companheira com nove meses na barriga e uma faca cravada no peito e mais os furos pelo corpo. A família daquela mulher conhecia a amizades deles então avisou a policia que eles poderiam ajudar a encontra lá, a família da moça temia pelo pior, a dias ela não mandava noticias, mas já era tarde, o pior já tinha acontecido.

Luiz Eduardo Lopes
Enviado por Luiz Eduardo Lopes em 10/09/2019
Código do texto: T6741836
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