Mito da Caverna

"Por que eu deveria temer a morte? Se a morte é um sono sem sonhos, que noite maravilhosa seria essa! Pois que mesmo um rei deve admitir, que a noite mais maravilhosa em que dormiu, foi a noite imperturbável em que nenhum sonho teve. Mas, se a morte for apenas mais uma fase, que esplendido prazer, encontrar lá aqueles que nos precederam, os deuses, os segredos ocultos! E, tanto lá, como aqui, distinguir aqueles que realmente são sábios, daqueles que creem ser e não o são!"

Socrates

"Nos sopés do monte Crísios existe uma caverna. Esta é a sua história:

Eis que lá dentro encontram-se terrivelmente presos muitos seres humanos desde o nascimento. Cumpres a sentença herdada de seus pais desde há muito. Nunca, e jamais conheceram o mundo exterior, como você ou eu, e tudo o que sabem existir são as sombras que veem projetadas nas paredes das cavernas. Eles não sabem o que é o sol, as cores, o vento. Apenas sombras planas que sorrateiramente esgueiram-se pelas paredes. A caverna escura permite apenas que uma pequena claridade vos adentre. Nenhum prisioneiro sequer jamais viu a face um do outro, apenas suas sombras projetadas na parede. Um pássaro que por ventura passasse lá fora, seria apenas um simples borrão escuro a cruzar a parede de suas vidas.

Janus era um prisioneiro insatisfeito, e tanto fez que conseguiu quebrar os grilhões que o prendiam, e numa noite escura rastejou para fora da caverna.

Naquele esplendido amanhecer, Janos não poderia acreditar nos seus olhos! O que era aquilo que contemplava?! Que aromas eram aqueles que chegavam ao seu nariz? E aqueles sons, quão doces eram!

Ele viu, que as árvores não eram sombras! Elas tinhas cores e dimensões! Ele poderia facilmente circular uma delas, poderia subir nelas, provar delas. Elas não eram simples sombras planas que supunha com tanta certeza e razão, serem. Havia um céu, e neles pássaros tridimensionais que voavam! Havia um mar, e nele um doce movimento que se perdia na distância além do horizonte, e de qualquer parede que pudesse imaginar. Do mar vinham sons e aromas, até mesmo sabores!

O sol, mas que sol, brilhava sobre sua cabeça! As cores saltavam em seus olhos fazendo-os doer e se encantar! Atordoado, Janus correu pelo mundo, subiu e desceu morros, nadou, escorregou, pulou. Mas que liberdade! Desde sempre Janus esteve dentro da caverna, parado no mesmo lugar, olhando para o mesmo lugar, aquele era o seu mundo.

Então ele pensou: "Que coisa maravilhosa seria se eu voltasse e contasse a todos dentro daquela caverna, das maravilhas que encontrei. Poderei libertá-los e eles poderão ver e viver o que agora é parte de mim. Não posso deixá-los no escuro!"

Janus retorna com a boa nova. Mas, como explicar àquelas pessoas o que ele viu e experimentou? Como explicá-los o que é a luz e as cores? Como explicar a eles o que é uma coisa tridimensional, como explicar o que é o espaço, para aqueles que nasceram e sempre viveram numa caverna escura?

Ele tentou. Mas, aquelas pessoas sempre estiveram ali, naquele lugar. Estavam habituadas com ele, acostumadas, aquela caverna era "segura" para eles. Eles não poderiam aceitar nada que fosse diferente, nada que fosse contra o que eles "sabiam" e experimentavam dia após dia. Na verdade, Janus até poderia ser uma ameaça, propagando ideias assim, tão diferentes. Janus com certeza irá destruir nossa caverna, pois alguém que chega assim, contando histórias tão absurdas, só pode querer desvirtuar a nossa tranquilidade.

Janus então foi morto, ali dentro mesmo, por aqueles que tentava libertar."

Platão

A história é antiga, tem sido contada e repetida, nos mínimos detalhes ao longo da história.