Núpcias no Cemitério

Lázaro conheceu Judite numa sessão do filme Drácula de Bram Stoker. Fingindo medo numa das cenas da película, Judite agarrou firme a mão do desconhecido com aparência de galã que estava sentado no assento do seu lado esquerdo. O “desconhecido” era Lázaro e do aperto de mão para um beijo ardente e deste para um namoro sério não demorou muito. Após 6 meses de um tórrido romance, Lázaro e Judite decidem se casar. O lugar escolhido pelos noivos amantes de filmes e de literatura de terror não podia ser mais apropriado: um cemitério. Pior ainda foi o dia e o horário escolhidos por eles: dia 2 de novembro, à meia-noite em ponto. Os convites foram enviados com boa antecedência, mas o número de convidados que compareceu à cerimônia no Cemitério São João Batista não chegou a cinquenta. Muito aquém dos 200 convidados pelo casal nubente. No dia de finados de 2019, pontualmente à meia-noite, o casamento teve início. Os noivos disseram: “sim, aceito!”, felizes da vida, e o padre os casou com a autoridade que lhe foi conferida. O casal se beijou e os convidados aplaudiram. Porém, de repente, o cemitério que estava todo iluminado para o casamento fica no mais escuro breu. As luzes se apagaram como num flash. O céu, que durante a cerimônia estava límpido, se fecha após ela, e começa a chover. Uma chuva de granizo. Os convidados e os noivos procuram um lugar para se abrigar, mas o pior ainda estava por vir. Os mortos que tiveram seu lugar profanado para realização de uma festa, saem de seus túmulos e caminham em direção aos vivos. O lugar transforma-se numa verdadeira batalha campal. Os vivos tentam conter os mortos-vivos, lutam desesperadamente por suas vidas, mas em vão. Os mortos-vivos, que se apresentam sob a forma de esqueletos e corpos em decomposição, são bem mais numerosos que os vivos e empurram estes para dentro de seus túmulos (cheios de baratas, vermes e ratos) matando-os, em seguida, de forma cruel e extremamente dolorosa. Quando os vivos deixam de ser vivos para virarem mortos, a vingança dos mortos está selada e tudo fica em paz. Um silêncio ensurdecedor. No dia seguinte, às 10 horas, o coveiro chega para trabalhar. Ele encontra os túmulos revirados e cerca de cinquenta pessoas mortas, vestidas com roupas de festa, dentro de caixões sem tampa. A maioria delas estava sem olhos, cabelo, braços e pernas. O sangue dos infelizes encharcava os caixões e o solo do campo-santo. Dentre os mortos, destacava-se uma noiva, com um lindo vestido branco perolado, abraçada, no mesmo caixão, a um homem vestido de terno preto, ambos tinham os olhos esbugalhados como se tivessem levado um susto, um horrendo susto.

FIM