Mensagem na camiseta

Arlindo Orlantys vendia camisetas com mensagens personalizadas pelo cliente ou já impressas por sua loja. As mensagens das camisetas eram irreverentes

(desrespeitosas mesmo), mas tinham boa saída e Arlindo estava faturando uma nota preta com elas. Num dia chuvoso de inverno, uma cliente com aparência nórdica, bem-vestida e ostentando riqueza (relógio Rolex e anel de brilhante e esmeraldas) entra na loja de Arlindo Orlantys e pede uma camiseta personalizada. Segundo a vontade da consumidora, a camiseta deve ser branca e conter os dizeres, em vermelho-sangue, que expressam a famosa lei de talião descrita na Bíblia, que prega que o castigo deve ser proporcional à falta (ao crime) cometida (o). O funcionário acha a frase interessante e com um sorriso diz a Ângela, a cliente, que a camiseta ficará pronta em até três dias úteis. O custo total da camiseta é maior por ela ser personalizada e fica em 90 reais (30 a mais que uma camiseta com a frase já impressa). Ângela paga metade do valor ao funcionário e vai embora pisando firme com seus scarpins pretos no chão. Alguns dias depois, Ângela Revenge está de volta à loja de Arlindo. Ela paga os 45 reais restantes, veste a camiseta por cima do top amarelo e pede ao funcionário para dar uma palavrinha com o dono da loja. Juvenal, o funcionário, liga para o escritório de seu patrão e, após uma conversa rápida com ele, informa a Ângela que Arlindo está numa reunião de negócios com os fornecedores, mas que, se ela quiser (e puder) esperar, ele a atenderá em meia-hora. Ângela diz ao empregado que não tem pressa e que aguardará o tempo que for necessário para falar com Arlindo Orlantys. Cerca de quarenta e cinco minutos depois, Juvenal conduz a cliente à sala de seu patrão e se retira sem nada dizer deixando os dois a sós. O seguinte diálogo se inicia:

− Adorei a camiseta que fiz na sua loja. – Diz Ângela com um sorriso.

− De fato, ficou muito bem em você. – Fala o empresário levando a mão à boca num bocejo que demonstra tédio, cansaço e vontade de ir logo embora para casa.

− Mas eu não vim aqui para falar sobre esta camiseta...

− E sobre o que você veio falar? – pergunta, com um misto de curiosidade e impaciência, o empresário.

− Eu vim aqui falar sobre a camiseta de meu marido...

− Sim. Sim. Pode falar − diz Arlindo bocejando novamente.

− Ele morreu usando uma camiseta feita em sua loja...

− Lamento. – Diz o empresário já com ar aborrecido.

− Vai lamentar mais ainda, agora, seu cretino! – Grita Ângela pegando uma pistola 9 mm da bolsa e a apontando para Arlindo Orlantys.

− Calma! Calma, minha senhora! Vamos conversar! Como seu marido morreu? O que a camiseta da minha loja tem a ver com isso?

− Tudo! Ele morreu linchado por um grupo de fanáticos...

− Mas o que a bendita camiseta da minha loja tem a ver com a morte dele?

− Na camiseta que ele vestia, comprada em sua maldita loja, estava escrito: “fuck you Nazis!”, mas quem vai se foder agora é você! − E após dizer estas palavras, Ângela Revenge descarrega sua pistola sem dó no empresário. Arlindo não morre, mas fica tetraplégico. Em sua cadeira de rodas, ele jamais esquecerá, enquanto viver, dos dizeres escritos na camiseta da linda e vingativa loira de olhos azuis: “olho por olho, dente por dente.”

“Às vezes palavras ferem mais que ações.”

FIM

Luciano RF
Enviado por Luciano RF em 06/09/2019
Reeditado em 06/09/2019
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