Cemitério à beira-mar

No alto das pedras, à beira-mar, o cemitério continua a existir, porque, suas antigas covas e sepulturas, resistiram à ação do tempo e à variação das marés. Desde pequeno, sempre desejei ser sepultado nele, por ter uma forte ligação com o lugar; onde me criei pescando no vilarejo, ao seu lado. Queria ser enterrado junto ao mar, diante dessa paisagem paradisíaca, com as areias brancas e o mar azul. E repousar eternamente o meu corpo cansado.

Imaginava meu túmulo com a pintura descascada, coberto de ervas daninhas e flores secas, com uma placa de bronze esverdeada pela maresia, dizendo: “Aqui jaz Ulisses, um grande pescador”.

Mas o mar começou a avançar e subir até as pedras. Foi engolindo grande parte do cemitério, e arrastando as ossadas e restos mortais até a praia. Os enterros foram proibidos então e as covas e sepulturas foram transferidas para outro local, distante do mar. Cobraram por pedacinhos de terrenos para as famílias, mas removeram apenas as lápides. Os ossos foram todos colocados num ossário geral, e os familiares sem saber, hoje colocam flores e rezam sobre túmulos vazios.

Restaram apenas alguns jazigos mais antigos, da década de trinta e quarenta, onde o mar não atingiu. Estão ainda erguidos, imponentes como um farol. Logo serão também transferidos junto com os outros.

Mas me recusarei a sair daqui. Vou continuar perambulando entre os escombros do paredão de túmulos, que sobreviveu as ações do tempo. Sobre minha sepultura; onde ainda repousam meus velhos ossos. Permanecerei sentado admirando a bela paisagem.

Na minha eterna morada, num cemitério à beira-mar, continuarei vendo esse lindo e radioso sol, que nunca vai se pôr.

FIM

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