EU VEJO MONSTROS NA ESCOLA . PARTE 1

POR VALÉRIA GUERRA REITER

POR VALÉRIA GUERRA REITER

Lauro vai para sua escola muito cedo, sai às seis horas e com muito ímpeto, pois escutou a vida toda que estudar é importante.

Menino de periferia, vivia realmente bem longe do centro da cidade, ele soltou pipa, jogou bola, e estudava por conta da lenda urbana que apregoava que estudo é o único passaporte para o sucesso.

Pelo menos tal verdade utópica traria bons ventos e boas maneiras à estas crianças, até, pelo menos aos 20 anos de idade – época da grande desilusão que demonstraria que na terra do futebol e da novela; poucos serão médicos e pouquíssimos advogados – pelo menos aqueles que nascerão não burgueses.

Hoje, claro, não há sequer esta luta pela sobrevivência, a eliminação já ocorre antes do nascimento, ou antes da evasão escolar dos educandos.

Nos anos de 1970 ainda havia uma concorrência entre filhos de funcionários públicos e outros profissionais liberais que mantinham seus rebentos em Escolas públicas que estavam à guisa de Universidade públicas no que tange a qualidade do ensino.

Voltando à vaca fria observemos a rotina da história de Lauro; cujo o nome significa loureiro, vitorioso. E todos os dias, fazendo chuva ou sol, o nosso triunfador seguia para sua Escola pública.

Suas notas eram impecáveis, 98 por cento de conceito A durante o ano letivo. Quando Lauro conquistava um B, chorava demais. Sim, chorava copiosamente.

Sua mãe dizia então: - Calma querido, na próxima você se refaz. E ele ficava por vezes depressivo por conta de algum resultado - que ao seu ver constituía uma derrota. E ao traçarmos um paralelo entre o momento atual e o ontem ficamos estupefatos com tanto desinteresse por parte de nosso alunado dentro da enfadonha escola pública que tem fama de Presídio. (Tal conto em sua parte II comprovará quem são os vilões de tais instituições)

Num belo dia de sol de verão, ao aterrissar em sua terra das ilusões o nosso herói de dez anos ; já na quinta série, esqueceu de entregar sua caderneta para ser carimbada pela direção, levantou-se se dirigiu até a mesa da honrosa professora: Jandira, e solicitou sua aprovação para rumar até ao gabinete da direção para entregar seu documento com intuito de atestar sua frequência, como de costume.

A senhora Jandira permitiu sua ida ao tal departamento, ele andava alegre pelo corredor mui comprido do estabelecimento escolar quando ouviu um sonoro: - Para aí já, pivete!

Ele parou, virou-se e avistou uma senhora demasiadamente gorda que se arrastava pelo passadiço com uma dificuldade que não combinava com sua irritação e ela novamente bradou: - Estes pestes não sossegam nas salas... Lauro por sua vez se manteve incólume, ou seja, parado diante da assombrada figura que finalmente o alcançou inspirando e expirando sofregamente.

Continua na parte II.

Valéria Guerra
Enviado por Valéria Guerra em 22/08/2019
Reeditado em 22/08/2019
Código do texto: T6726598
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