BATE PAPO COM O ALÉM!!!!!

Stefanny despertou. Olhar assustado. Não sabia onde estava. A cabeça doía. Sentiu um gosto de sangue. Mordera o lábio. Foi o que pensou mas nem lembrava do soco que levara, horas atrás. Deitada numa cama velha. Roupas sujas e rasgadas. Estava com o uniforme da escola. A adolescente, com esforço, se levantou. Escorou na parede. O joelho direito estava inchado. Stefanny gemeu. A janela estava com um grande cadeado. A porta trancada. Entrava luz do sol por baixo da porta. Era dia!!! Ela escutou vozes. Vozes masculinas. Muitas gírias. -" Socorro!!!!" Gritou com todas as suas forças. A porta se abriu. O quarto se iluminou. Dois homens entraram. Brutamontes. Usavam meia calça na cabeça. Luvas de couro. Stefanny se encolheu. -" Nosso passarinho acordou??? Bom dia, Mayara!!!!!" Stefanny nada entendia. Tentou falar mas recebeu um tapa violento na face. Eles a chutavam. -"Não sou Mayara!!!!" Disse baixinho, em meio ao choro. Nada adiantou. Ela recebeu uma tremenda surra. Muitos chutes na barriga e pernas. -"Chega, maluco!!! Ela tem que ficar viva!!!" Disse o homem que parecia ser o mais velho deles. O olho ficou roxo. O corpo todo doía. -"Você vai pagar, Mayara!!! Seu irmão vai aprender!!! Ele foi avisado!!!!" Gritou um de seus agressores, antes de saírem e a deixarem trancada. A adolescente desmaiou na cama. Nem viu o dia passar. Era noite quando a porta se abriu. Stefanny mal abria os olhos. Penumbra no quarto. -" Sua janta, Mayara!! Pode ser a última de sua vida!! Macarrão com salsicha e suco de laranja. Eu mesmo fiz!!!!" Disse o homem com meia calça no rosto. -" Moço, piedade. Sou Stefanny, não Mayara!!!!" O homem deu uma gargalhada. -" Ah, sim!! Eu sou Michael Jackson!!! Seu irmão, Pernilongo, dedurou nosso bando. Furou o esquema e fomos em cana. Ele deu sumiço mas o achamos! Batemos um fio mas ele não veio falar com a gente!! Cansamos, moça!!!" Steffanny forçou a memória. Havia uma aluna parecida com ela. Estudava na mesma escola. Série diferente. Sua amiga Vitória lhe disse, certa vez, que tinha uma menina parecida com ela!!! Stefanny nem ligou na época. Só podia ser isso. Ela fora confundida com a outra. Os dois homens seguiram os passos de Stefanny durante uma semana. Roubaram um carro. Ficaram na esquina da escola. Esperando o momento oportuno pra raptar a adolescente. Após as aulas, no entardecer, Mayara foi até a casa de Bruno, colega de sala de aula. Andaram seis quadras. Um terreno baldio. Uma praça. Ela pegou um livro emprestado do amigo. Voltou sozinha pra casa. Os homens a seguiram. Ela correu mas foi alcançada e dominada. O desaparecimento da adolescente ganhou as notícias dos telejornais, após a família procurar a polícia. Três dias se passaram. Fotos de Steffanny por todo o bairro. Viaturas policiais rondavam as imediações da escola. Nenhum sinal da bela adolescente. Câmeras de segurança dos comércios solicitadas pela polícia. Tudo analisado. Uma única imagem de Steffanny com o amigo Bruno. Algumas amigas se lembraram que a menina era parecida com outra aluna da escola. Os bandidos se confundiram. A polícia prendeu o traficante Pernilongo. Ele era o principal suspeito!! Mayara foi levada pra delegacia. Os repórteres de tevê ressaltaram a semelhança dela com Steffanny. Era evidente que Steffanny fora confundida com Mayara, a irmã do traficante Pernilongo. Uma semana sem nenhuma pista até que um pedreiro passou e sentiu um cheiro forte. Uma mata. Uma ribanceira. A polícia foi chamada ao local. Acharam um corpo. -"Precisamos tirar as roupas pra necrópsia! Está na posição fetal, de proteção!!! Rígido demais!!!!" Disse Evandro, médico legista, aos policiais. Ele pegou o celular. -" Doutor Paulo Renato??? Sou eu, Evandro!! Tem uma moça pra você! Aquela da escola. Sim. Stefanny!!! Está dura demais!!! Eu espero!!!!!" Vinte minutos depois, o outro médico chegou ao necrotério. Abraçou Evandro com carinho. Paulo Renato transmitia paz e serenidade. Tinha a voz suave. Olhar tranquilo. Ele ergueu o lençol sobre o cadáver. Fez o sinal da cruz. Orou em silêncio. Alguns policiais riam da cena. -" Por favor, quero silêncio!!!" Pediu o médico. Ele mudou o semblante. Evandro confiava no amigo. -" Medo, mágoa, solidão, choro! Stefanny!!! Sou seu amigo, filha. Venha e veja. Nós a encontramos, filha querida. Não tema pois os bandidos foram presos. Os seres das sombras os esperam mas você será recebida por seres de luz. Eles estão a sua espera!" O médico falava e mexia nos membros do cadáver. O espírito de Steffanny estava no canto da sala. Posição fetal. Cabeça entre as pernas. -" Coopere conosco, filha querida!! Essa matéria é uma casa transitória. O espírito é eterno! Há um céu lindo, eu creio." Stefanny ergueu o olhar. Viu seu corpo sobre a mesa de mármore frio. Viu que estava viva mas não mais naquele corpo. Era estranho. Viu uma luz intensa. Ela não sentiu as dores. Parecia que flutuava agora. Um policial entrou na sala. Uma senhora veio atrás dele. Os médicos a abraçaram. Eles choravam com a mulher. Os policiais agora choravam. A mulher olhou o cadáver. Ela sorriu. -" É ela, sim, delegado Fernando. Minha linda filha Steffanny. Jesus vai cuidar dela. Ela não morreu, vai ressuscitar!!!" O policial levou a mulher pra fora da sala. Stefanny se levantou ao ver a mãe. Sentiu a forte presença de sua falecida avó junto dela. Sentiu paz. Paulo Renato continuou. -" Steffanny, sua mãe tem muita fé. Sua escola se mobilizou pra encontrá-la. Querem dar seu nome a escola do bairro, sabia??? Será sempre lembrada, filha querida!!! Você foi uma pessoa maravilhosa, uma aluna exemplar, uma filha carinhosa. Teve uma vida breve mas linda, filha!! Você foi confundida. Prova de amor maior não há do que dar a vida pelo próximo!! Que Jesus te receba, filha. Steffanny ouvia aquilo atentamente. Os policiais não acreditavam no que viam. O cadáver de Steffanny estava esticado. Os braços ao lado do corpo. Rosto sereno. Era incrível. Aquele médico era diferente. Evandro abraçou Paulo Renato. -" Fez de novo, caro amigo!! Obrigado!!! Ela terá um enterro digno!!!" Paulo Renato sorriu. Limpou o suor da testa. -" Um corpo é mais que só matéria. Um cadáver já foi um pai, um filho, um bom profissional, um sonhador, um filho de Deus e merece respeito e dignidade, mesmo após a morte. Todos gostamos de ser bem tratados. Existe vida após a morte!!! Stefanny já está melhor!!!" O espírito de Steffanny se aproximou de Paulo Renato. -" Obrigado pelo bate papo! Adeus!!!" FIM

marcos dias macedo
Enviado por marcos dias macedo em 21/08/2019
Reeditado em 21/08/2019
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