O CASTELO DE ESTÁTUAS - parte 7

O lugar era sombrio e a atmosfera pesada, tanto por estarem tão fundo no subsolo naquelas salas secretas, quanto pela escuridão do local. Porém o salão era amplíssimo e parecia não ter fim. Onde um sem número de esculturas aterrorizantes habitava por lá. Uma verdadeira cidade de estátuas.

Imagens de homens, mulheres, crianças, sem expressão, sem sobrancelhas e olhos arregalados sem pálpebras ou pestana. Sorrisos maquiavélicos se estendiam sobre cada rosto extático e quanto mais eles andavam, mais esculturas sombrias se revelavam.

Anjos com asas cortadas e rostos sem olhos com tinta negra escorrendo, feras com duas cabeças e dentes enormes, homens com rostos desfigurados, três olhos e duas bocas. Mulheres com nuas com seios por todos os lados. Crianças que se autorretalhavam no rosto inerte, apenas contendo o mesmo sorriso.

Mais alguns passos o ambiente ficava cada vez mais denso e fantasmagórico, onde esculturas enormes de mãos e cabeças grudadas ao chão. Mãos que davam quatro metros de altura, cabeças que davam 2 metros de altura. De um lado havia um pequeno cemitério esculpido todo em uma rocha enorme, onde pelas contas de ambos exploradores do local deveria ter umas 30 lápides com inscrições antigas.

Mais alguns passos, onde os dois já começavam a andar co dificuldade diante do horroroso espetáculo de monumentos estranhos, viram que no teto haviam rostos de pedra, também inertes, sem expressão, apenas com sorrisos extremamente esticados, sobretudo o olhar de cada rosto do teto parecia que seguiam Daniel e Garcia:

- Esse é o lugar mais assustador que eu já vi em toda a minha vida. – disse tremendo Daniel.

- Meu Deus. Que lugar é esse? Que mente doentia esculpiria tudo isso? Estou ficando perturbado até pra continuar filmando.

- Não Garcia! Não desligue a câmera agora!

- Daniel – perguntou com receio Garcia – o que está acontecendo com você? Você estava com mais medo do que eu, e agora parece excitado em ver essas coisas grotescas...

- Cara... eu não sei... alguma coisa me diz que... tem algo aqui... muito familiar.

De repente, chegaram até uma parede do subsolo. Repleta de rostos que observavam sorrindo com bocas escancaradas. No chão várias páginas de jornal espalhadas. Todas elas continham noticias antigas sobre fatos do casal Gaspar e sua fama e contendo os boatos sobre ocultismo, magia negra, feitiçaria e teorias sobre segredos do casal de escultores.

Numa das folhas, o anúncio da morte do casal era destaque:

“JÁ SE FAZ QUASE 50 ANOS QUE O CASAL GASPAR FALECEU E ATÉ AGORA NINGUÉM DESVENDOU O MISTÉRIO DO CASTELO DE ESTÁTUAS...”

Daniel chocou-se com aquilo:

- Garcia, você lembra quando foi anunciada a morte da sra. Cristina Gaspar?

- Lembro sim, até anotei no meu bloquinho. Foi em 1940. O Sr. Francisco Gaspar foi em 1945.

- Cara!!! Isso significa que... esse jornal é de quando?

O raciocínio deles foi interrompido quando ouviram um forte barulho de pedra se movendo. O sangue de ambos gelou. Garcia tirou a arma do bolso do casaco de Daniel e apontou. Um ruído de passos se iniciou naquele lugar e vozes murmurantes brotavam de diversas direções no meio da cidade de pedra em trevas em que eles se encontravam no subsolo do castelo.

- Quem está aí?

Desesperados saíram gritando sem saber para onde ir naquela imensa escuridão. Os passos aumentavam, como se as estátuas estivessem os perseguindo.

- Socorro! Socorro! – ambos berravam.

Começaram a trombar em várias estátuas até que por fim, a turba os alcançou e os agarraram. Foi quando ambos desmaiaram.

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Ambos acordaram com as mesmas roupas numa sala muito bem limpa, como um hospital:

- Garcia? Mano, você tá bem?

- Caramba, cara. Onde é que a gente tá? A gente tá vivo ainda?

A porta da sala se abriu. O duende apareceu. Mas não era um duende, era um anão:

- Como estão os senhores?

- Ah duende desgraçado! – Garcia esbravejava – foi você que nos jogou de lá de cima não é? Vou arrebentar sua cara, seu verme nojento!

- Garcia, calma. Espera um pouco – disse Daniel segurando o amigo pelo braço. – O que você disse, baixinho?

- Como vocês estão? Se já estiverem bem, me acompanhem. Vocês não tem escolha.

- Mano, vamos segui-lo. Qualquer coisa a gente rende ele e se solta – Daniel sussurrava no ouvido do companheiro.

- Os senhores virão agora ou terei que tirá-los da cama à força? – disse o anão.

Dois homens corpulentos, semelhante duas esculturas que eles tinham visto surgiram atrás do pequeno humano que falava com eles. Amedrontados e temendo por suas vidas, começaram a seguir o anão, acompanhados pelos brutamontes.

Passaram por um corredor enorme com um tapete azul marinho e amarelo no chão e paredes bem pintadas de branco. Andaram até chegar à uma porta de pedra que dava acesso à uma escadaria enorme:

- Olha lá, Daniel! É a mesma escada do início.

- Velho, que loucura. Onde estão as pedras que deslizaram nos impedindo de subir?

- Elas foram jogadas por esse compartimento, senhores. - afirmou o anão - Por favor, queiram subir comigo.

Subiram cerca de duzentos degraus, quando avistaram uma entrada que levava para outra escada de pedra, ao lado de uma pequena sala onde continha uma estátua de anjo e outra de demônio. Ambos seguravam uma pedra que tinha entalhada um poema de autor anônimo:

PEDRA ENTALHADA, APENAS CONDENSA,

TRISTE VERDADE QUE DÓI E FERE,

DE UM SER HUMANO A ESTÁTUA DIFERE,

APENAS QUE QUANDO FAZ MAL, NÃO PENSA.

A MUDA ESTÁTUA QUANDO ELA ASSUSTA,

NUNCA É PORQUE SE MEXE OU TEM CRENÇA,

MAS SIM PORQU’ ELA REFLETE INTENSA,

A ALMA HUMANA QUE É TÃO VETUSTA.

ESSA LIÇÃO, DURA QUAL SENTENÇA,

LEVAR NÃO SÓ ARTE OU EXPRESSÃO,

MAS REVELAR TODO O CORAÇÃO,

DE UMA ESTÁTUA QUE SE CONVENÇA,

QUE POR MEXER-SE TEM INTENÇÃO,

DE CONGELAR-LHE EM UM CAIXÃO.

Subindo um enorme lance de escadas, onde Daniel e Garcia já sentiam suas pernas doerem, viram outra sala, onde tinha uma porta. Entraram e num verdadeiro aposento mediável, viram um quadro enorme da foto que estava em todos os compartimentos. O monólito disforme em formato quase oval sobre um pedestal com o título abaixo:

“FILHO”

- Chegamos. – disse o anão.

No lugar havia esculturas dos doze apóstolos feitas de ouro espalhadas pelos cantos. Três pessoas vieram se apresentar. Eram três anciãos com roupas longas e toucas em suas cabeças. Ao removerem as toucas, mostravam o rosto jovem. Daniel e Garcia deram um passo para trás:

- Meu Deus! – exclamou Garcia - Eu já vi esses rostos em algum lugar. Esses não são os três jovens que desapareceram em 1923? Como eles podem estar com o rosto tão jovem?

Daniel não conseguia falar, pois estava pasmado diante do que via. Percebeu que a suas coisas continuavam em seus bolsos e confiou que a câmera e o gravador estivessem com Garcia também.

- Sim – disse um deles – somos nós mesmos. Explicar-vos-emos tudo. Os donos da casa irão atendê-los.

- Os donos? Como assim? – perguntou Daniel.

Nesse momento, um casal de idosos apareceu ao fundo. Daniel e Garcia não acreditavam no que viam...

Continua

Leandro Severo da Silva
Enviado por Leandro Severo da Silva em 19/08/2019
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