Baratas no Banheiro
Lídia estava sentada em frente seu note book tentando escrever um conto de terror, mas por mais que espremia as idéias em seu cérebro não conseguia escrever nada, estava totalmente sem inspirição, num estado de bloqueio criativo.
Quando foi tomar seu remédio para dormir já passava da meia noite, deitou-se e após uma hora pegou no sono. Ao dormir teve um pesadelo onde um gato mordia sua mão e não a soltava. Apesar de todo o seu esforço o bichano não largava sua mão que sangrava muito respingando o chão.
Ao despertar, seu coração batia descompassado. Se acalmou um pouco, recuperou-se do sonho e sentiu vontade de urinar. Levantou-se, calçou os chinelos e foi até o banheiro. Enquanto urinava ouviu um barulho vindo do boxe do banheiro. Levantou-se da privada pensando se abria ou não o boxe.
Tomou coragem e abriu de uma só vez, e não acreditou no que viu. Várias baratas andavam pelo boxe, pelo menos umas cem. Lídia deu um berro, começou a tremer e saiu correndo, trancou a porta do banheiro, pegou a chave do seu carro e o celular, saiu do apartamento, desceu as escadas correndo até a garagem.
Ao entrar no carro e fachar a porta ligou para seu namorado.
-Oi, Lídia, o que aconteceu? O que te faz me ligar tão tarde?- disse o namorado ao atender.
-Um desastre, Pedro. Meu banheiro está infestado de baratas, dezenas delas, nojentas, dentro do boxe. Posso ir pra sua casa?
-Claro, meu amor. Venha para cá, amanhã eu dou um jeito nisso.
No dia seguinte Pedro foi até a casa de Lídia com um profissional em detetizar insetos, e ao entrarem no banheiro não encontraram nenhuma barata. Checaram a casa inteira e não encontraram nenhum rastro delas.
Mesmo sabendo que eles não encontraram nada, Lídia estava decidida a mudar de apartamento e não dormir mais lá. Ficou morando na casa de Pedro até encontrar um novo apê. Daí algumas semanas se mudou para um novo condomínio.
Uma semana após estar no novo lar, numa noite fria, teve aquele mesmo pesadelo com o gato mordendo sua mão. Por mais que ela tentasse espantar o bicho, mais ele gemia e apertava as presas em sua mão ensangüentada.
Ao acordar apavorada, sentiu-se aliviada em constatar que era apenas um sonho. Levantou-se como de costume para urinar. Ao entrar no banheiro seu alívio logo foi embora ao escutar um barulho vindo do boxe. Ao abrir viu várias baratas, dezenas delas, da mesma forma que viu no seu antigo apartamento.
Saiu correndo, gritando e chorando, desceu as escadas, entrou em seu carro e foi direto para a casa do namorado. Ao chegar lá abraçou-o, contou o ocorrido e disse que não sairia de perto dele nunca mais.
No dia seguinte Pedro foi ao apartamento de Lídia e não encontrou nenhum sinal das baratas. O rapaz começou então a ficar preocupado com sua namorada.
Já havia um mês que o casal vivia tranqüilo na casa de Pedro. Lídia estava feliz em viver numa casa onde não havia insetos. Não gostava de falar sobre as duas noites em que encontrou aqueles bichos aterrorizantes e medonhos. Aquilo tinha gerado um certo trauma na mente da moça, que só dormia abraçada com o namorado.
Pedro notava sua namorada meio estranha, estava calada depois do ocorrido. Ele também achava curioso não ter encontrado nenhuma barata ao retornar aos antigos lares de Lídia.
Numa fria madrugada, Lídia teve novamente aquele pesadelo com o gato mordendo sua mão, acordou assustada com vontade de ir ao banheiro, teve tanto medo que pensou em urinar na cama, mas como estava com o namorado, agiu racionalmente, levantou-se e resolveu enfrentar seu medo.
-A casa de Pedro não tem baratas -pensou Lídia- posso ir ao não banheiro normalmente. Não preciso acordá-lo.
Ao chegar ao banheiro e acender a luz, viu o boxe fechado, e ouviu aquele temido barulho vindo de dentro. A jovem gritou enquanto urinava na roupa, foi quando Pedro chegou no banheiro. Lídia abraçou-o e disse:
-Elas estão aí dentro, eu sei que estão!
A moça abriu o boxe e viu aquelas baratas horríveis andando pelo chão, dezenas delas, abraçou o namorado gritando:
-Está vendo, amor. Elas estão aqui, são muito nojentas, terríveis, vamos embora.
Pedro permaneceu intacto, olhando para o chão do boxe, calado. Até que resolveu falar:
-Venha, Lídia, vamos para o meu carro, vou te levar para um lugar onde não existem baratas.
Os dois foram até a garagem, entraram no carro e Pedro deu a partida. Lídia chorava histericamente, enquanto colocava as mãos no rosto. Ela continuou assim até que o carro parou em frente uma casa que a jovem não prestou muita atenção, mas entrou logo que o namorado a conduziu para dentro.
E foi assim que Lídia, aos seus vinte e quatro anos deu entrada na clínica psiquiátrica de sua cidade, e onde permanece até hoje. Ela ainda acorda pela madrugada vendo baratas no banheiro, o que a distancia cada vez mais de sua alta do hospital.
FIM