Terra do Nunca 2
Se a morte é um sono, que sonhos poderão vir? Todos aqueles que dormem sonham, ainda que de manhã tenham se desvanecido toda e qualquer lembrança deles.
Tanto no sono, quanto no que chamam morte, há um desvio da consciência para outra direção. Ora, como dito em outros textos, o homem é Consciência, e não apenas uma, mas a espécie humana é composta, sim, de muitas e variadas nuances de Consciências, mesmo quando despertos.
Em seus sonhos noturnos, vocês encontram o desfecho diário de suas expectativas. Nos seus sonhos, seus medos, reflexões, lembranças e desejos reprimidos ou não, ganham manifestação.
Na morte, a sua Consciência apenas olha para o outro lado. Antes, a vida física imperava, depois da morte, não mais. A sua atenção agora é dirigida a esses novos estímulos, uma vez que o seu sistema sensorial físico perdera o foco. Sua concentração agora será em estímulos psíquicos.
No "mundo cemitério", anteriormente citado, fomos buscar aqueles que mortos, achavam que deveriam ficar para sempre enterrados em um. Era uma noção inconsciente, mas preponderante da personalidade delas.
Primeiramente, a impressão que se tem ao chegar num lugar assim, tão manifesto e amplo, pois não resta dúvidas de que tudo o que existe é este imenso, ameaçador, e incrivelmente detalhado mundo cemitério, é uma sensação de estranheza e choque. Lápides e mausoléus enormes brotam quase que um por cima do outro. Pedras caiadas de branco, um cheiro abundante de flor e grama verde, às vezes velas acesas, ou mesmo, odor pútrido. A mente daqueles "presos" ali alucinam com autenticidade a condição que pensam se encontrarem. Como estamos "na mente deles" compartilhamos com eles essas impressões. Lá, como aqui em seu planeta, estamos contemplando uma construção coletiva de várias consciências. Então, existe uma mistura de estilos e situações que dividem o mesmo "espaço". Temos túmulos de pura arte, covas simples, lápides imponentes, prédios monumentais, túmulos em forma de casas!
Existe, no que poderíamos chamar de centro deste lugar, uma imensa estrutura em forma de cúpula ou concha, que nos pareceu ser uma "fornalha de cremação" ou uma espécie de cova coletiva que tem a dimensão de vários estádios.
A nossa função, basicamente, consiste em se aproximar de cada sepultura, e literalmente tirar o indivíduo lá de dentro, estendendo-lhes as mãos. Essas pessoas agarram nossos braços com força e alegria, e saem lá de baixo, muitas vezes em adiantado estado de decomposição, pois em suas "mentes", não poderia ser diferente o estado delas, já que estavam "enterradas".
Elas, literalmente, apenas precisavam de uma mão, já que não entendiam como podiam continuar conscientes, mesmo depois da "morte". Isso causava-lhes receio, e tinham medo do que poderiam encontrar, caso tentassem se aventurar sozinhas ao sair dali. São como crianças pequenas, com medo de sair de debaixo das cobertas num quarto escuro, ousando fazer isso apenas quando a mãe entra no quarto e acende as luzes.
Depois de "libertadas" dessa armadilha da mente, encontram-se surpresas ao perceberem que seus "corpos" são mais perfeitos, saudáveis e belos do que se lembravam em vida. Ainda condicionados aos costumes da vida física, precisamos montar uma fila enorme para que possam embarcar em algum tipo de veículo para tirá-las dali.
Claro, esse lugar não existe num lugar particular. São produtos da mente daqueles que se afinam, ou sintonizam-se com ele. Assim como a sua Terra o é.
Temos frequentemente visitado-o. Embora em alguns lugares ele possa ser sombrio, na maior parte das vezes é apenas uma grande necrópole, como as que encontram em suas melhores cidades. Mais do que o impacto visual de contemplá-lo, resta evidente a sensação de "aperto" no peito e de excentricidade, tem-se a percepção caótica da sua distribuição no espaço, que como dito no início, nada tem a ver com o que estão acostumados na terceira dimensão física. Porque, embora cada um aqui ainda alucine de forma tridimensional e física, a natureza da "matéria" nesse lugar é mais plástica, por assim dizer. E estruturas mudam de lugar, se movem, tremem, mudam de cor e forma, e um simples pensamento ou receio pode criar um monstro ou outra alucinação, todas, criações mentais próprias de cada um.