Presentes do ex-
Já fazia um ano que eles haviam terminado. Mas Suzana não conseguia esquecer o ex-namorado, Adalberto Floriz. Por que não? Porque ele era extremamente educado, culto, carinhoso e sabia fazê-la gozar. Mas o motivo principal dela não conseguir esquecer Adalberto era outro: ela não conseguia se desfazer dos presentes dele. Suzana agia como uma masoquista. Parecia que gostava de sofrer. Observava diariamente, como num mórbido ritual, os mimos que seu ex-namorado lhe dera durante o namoro de pouco mais de dois anos. Cada vez que Suzana olhava os presentes de Adalberto, sentia um aperto forte no coração, seus olhos ficavam marejados como se neles chovesse. Isto acontecia, porque ao olhar para os regalos de seu ex-namorado a bibliotecária começava instintivamente a se recordar dos bons momentos que tiveram juntos: a primeira conversa (na biblioteca da Faculdade de Direito da Uerj, ajudando-o achar o livro de Direito Penal), o primeiro beijo (roubado por ele!), o primeiro presente (o livro O Alquimista do Paulo Coelho), a primeira transa (dentro do carro dele), a primeira viagem (para Cabo Frio)... Suzana ainda tentava entender o que fizera de errado na relação para ela terminar como terminou: como um raio que cai e destrói tudo a sua volta. Desde que Adalberto lhe dera o fora para ficar com um homem, Suzana perdeu o chão. Sentia-se duplamente traída: uma por ter sido deixada de lado e a outra por ter sido trocada não por uma mulher, mas por um homem! O pior é que, mesmo assim, Suzana ainda amava Adalberto. Não conseguia tirá-lo da cabeça. Como uma música chiclete que gruda em nossa mente e dela não sai. Os amigos e parentes lhe diziam a todo instante: “Suzana, livre-se dos presentes dele. Só assim você conseguirá esquecê-lo e encontrar um homem que te ame de verdade”. Mas Suzana fazia ouvidos de mercador, ou seja: fingia que não ouvia, pois não conseguia se livrar do ursinho Pooh de pelúcia, da camisa rosa com a foto da Lady Gaga, dos muitos livros do Paulo Coelho, dos diversos sapatos e bolsas de marca, dos cds e dvds do Kid Abelha, dentre muitos outros mimos que Adalberto lhe dera durante o namoro. Após muito choro e velas para um defunto que não os merecia, Suzana tomou, enfim, uma decisão. Pegou todos os presentes do ex-, levou-os para um terreno baldio e tacou fogo em tudo. Ficou estática, parada vendo tudo virar cinzas. Após o fogo consumir os dois anos mais felizes de sua vida, Suzana voltou à realidade. Precisava urgentemente se esconder. Fugir do país. Porque, na fogueira, ela não queimara apenas os presentes do ex-. Nela, queimou também o homem que tanto amara e que ainda amava: Adalberto Floriz...
FIM