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Um Intruso na Sala
Senti meu sangue ser sugado. Estava deitada no sofá. Queria apenas ver TV e fumar alguns blacks, chorar com cenas de novela e sorrir com desenhos animados.
Morava sozinha num apartamento pequeno. Aquele zum-zum-zum no ouvido. Eu queria abatê-lo com um único golpe, acertar ele enquanto ele voava próximo ao meu ouvido, mas o pequeno inseto era esperto demais, ou ágil o bastante para se desvencilhar de meus golpes.
Apanhei uma raquete elétrica. Na primeira tentativa ele passou raspando, foi quase mesmo. Tentei novamente e passou longe, era um bichinho até perceptível o bastante. Clarinho, bem barulhento e mais que isso, a bundinha dele estava vermelhinha. Sanguessuga dos infernos! Parecia mesmo um vampiro maldito!
Lembro que minha mãe fazia quase uma fogueira dentro de casa para espantar os insetos. Era como se fosse um ritual. Pegava esterco e queimava. Pegava aquele “boa noite” e aquela coisa malcheirosa queimava a madrugada inteira deixando minha renite tão agressiva quanto poderia.
Aquele maldito inseto me irritava mais que o Léo. Léo era meu amor proibido, um quarentão casado que dava em cima de mim frequentemente. Certa vez nos pegamos no elevador, foi algo meio súbito, mas ele era charmoso e me sugava com os olhos, difícil resistir.
A raquete dançava no ar, girava ela como se fosse uma tenista tentando acertar a bolinha e devolvê-la para o capeta. Mosquito dos infernos! Mais uma vez eu havia errado!
E então como se num truque de mágica o demônio desapareceu, mas eu tinha certeza que não havia o acertado, não mesmo, eu saberia. O jeito era me mover com cautela e procurar ele pelas paredes, pelos quatro cantos da sala. “Onde ele estava?”
Pé por pé, indo devagarinho ao encalço dele. O último deles e eu sua única vítima. Que fim teria aquilo? Caminhei com a raquete em mãos, erguida, pronta para caçada. Procurei ele por cada canto. O desgraçado havia desaparecido.
Depois de alguns minutos, convencida de que ele havia ido embora, voltei a deitar no sofá. Na televisão Antônio Fagundes desfilava todo seu charme, aquela voz e aquele tempero no olhar. Queria me acariciar só de vê-lo ali. Foi quando o filho da mãe aterrissou sobre os olhos dele, cortando todo nosso clima, mais um romance proibido, ou melhor; impossível.
Me movi lentamente, como uma gata que avista uma borboleta, pairando, parando, e se move ao seu encontro, os olhos acesos de ódio. Eu iria matá-lo. Arrancar-lhe as asas, manchá-lo naquela tela, carimbar ele lá com meu próprio sangue, o sangue que ele carregava consigo.
Ele estava tão quieto. Eu segurava o travesseiro e iria acertar ele com força. Não aconteceria nada com a TV, mas iria deixar ele lá por um tempo. Iria rir e aproveitar. Talvez tomar um vinho para comemorar minha vitória.
Então o ataquei. Acertei a TV e ele fugiu. Passou bem perto dos meus olhos, voou sobre o sofá e eu atrás dele, golpeando o ar, saltando por sobre os móveis, derrubando e quebrando tudo. Peguei a raquete novamente. Ele vinha em minha direção e passava como um arrepio. Eu ia na direção dele e errava cada investida, uma e depois a outra.
Foi quando ele foi em direção a porta da sacada. Eu o perseguindo. Era uma porta de blindex na cor verde, eu fui na direção dele com tanta raiva, com a certeza que não iria errar. E quando ele pousou lhe acertei com um belo de um tapa, quase um soco.
Ele se espatifou. Sim, se partiu em pedaços, o vidro se quebrou tamanha a força de minha investida, a minha impulsão. Foi como se eu voasse pela porta, bati contra o parapeito, também de blindex e caí... Caí, enquanto ele voava de volta para sala.
TEMA: Insetos
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