O ANIMAL MENOR
Há muitos anos atrás, quando eu era criança, eu ouvia uma história de que uma bruxa vivia no bairro onde eu morava. O bairro ficava na zona rural, completamente afastado de comércio, posto de saúde e outras coisas importantes. Portanto, saber que uma bruxa morava tão perto de mim, me deixava assustado.
Ninguém nunca soube ao certo a identidade da bruxa. Na verdade, a ideia de bruxaria era um boato para manter as crianças dentro de casa, uma vez que bebês recém-nascidos e crianças estavam sumindo das casas. O problema, é que muitos adultos acreditaram no boato.
Certa vez, uma mulher muito jovem que trabalhava como parteira caiu num buraco, próximo à uma encruzilhada. O buraco era fundo, quase do tamanho de um poço. A jovem fraturou uma perna com a queda. Depois de passar horas pedindo socorro, a ajuda chegou. Era um menino muito esperto, aparentava ter uns sete anos.
Por mais que o garoto quisesse ajudar a jovem parteira, ele não tinha forças para isso. Então, foi pedir ajuda. Minutos depois retornou com um pedaço de pão, para que a jovem não ficasse com fome. Mas a moça sentia tanta dor, que não conseguiu comer.
Horas se passaram e o garoto tentava entender como a jovem não viu um buraco tão grande. Preocupado e com vontade de voltar para casa, o menino disse que tentaria buscar ajuda de novo, mas foi contrariado pela jovem. Ela queria a companhia da criança. Não somente daquela criança, mas de outras também.
Aos poucos, o garoto percebeu que estava numa armadilha. A bruxa, de fato, existia. Era a parteira; e isso explica o sumiço de alguns recém-nascidos. Infelizmente, eles eram devorados por aquela que os trouxe ao mundo.
Muito atenta, a criança compreendeu que o buraco e a queda da jovem faziam parte da emboscada, entretanto, uma coisa não fazia parte dos planos da bruxa; a fratura na perna.
Ela realmente gritava de dor. Tinha perdido muito sangue. O garoto sabia que precisava manter a bruxa dentro do buraco, pelo menos até receber ajuda de algum adulto, que não passaria por aquele caminho tão cedo.
Para enganar a jovem bruxa, a criança pediu para que ela tirasse toda a roupa, rasgasse e jogasse para ele, para que assim, conseguisse fazer uma espécie de corda. Sem saber da perspicácia do menino, a bruxa obedeceu. Assim que rasgou suas peças de roupa, ficou nua num buraco de quatro metros. Devido à altura, não conseguiu arremessar os retalhos das roupas. Em pouco tempo, a temperatura iria diminuir e no cair da noite, animais noturnos seriam atraídos pelo cheiro do sangue. E o garoto sabia disso.
Depois de deixar a bruxa nua e vulnerável, o menino a observou de cima, como se aquela mulher tão perigosa não passasse de um pequeno animal inofensivo; e realmente não passava disso. Foi devorada rapidamente por uma onça-parda.
E desde então, nenhuma criança desapareceu e nenhuma história sobre bruxa foi contada.