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A FOGUEIRA SANTA
Nas dunas, num morro preponderante, trilhas rústicas demarcavam longos caminhos até o topo. Silvos bestiais produzidos pele vento, tocava as folhas densas da mata noturna. Criaturas da noite contemplavam a escuridão que abraçava todo resquício de luz existente das estrelas. Na entrada do morro, um pequeno rasgo na cerca de proteção ambiental, abria caminho para um grupo de cinco jovens: Larissa, Alessandra, Hugo, Euclides e Júnior; era noite e o silêncio fora pertubado pelo grupo aventureiro que buscava acampar no topo do morro durante todo o turno noturno.
- Silêncio, pessoal… Temos que fazer silêncio, senão os guardas florestais irão nos ver logo na entrada. Disse Larissa com espanto.
- Ah! Tá assustada, Lari? Volta pra casa. Retrucou Hugo, o mais velho do grupo dos meninos.
- Pessoal, sem brigas… Lembra o que escutamos na igreja? Não devemos brigar, é pecado brigarmos com nosso semelhante, principalmente por sermos amigos e cordeiros de Deus. Resmugou Júnior gesticulando com suas mãos enquanto falava.
- Puta que pariu, Júnio… Para com esses sermões, hoje é São João. Só fui à igreja, pois você insistiu muito porque sonhou com um anjo que te enviou uma mensagem para que fosse subir o morro e receber sua bênção enviada por Deus. Entenda, você acredita nesse mito, eu não. Mas já que estamos aqui, vamos subir a porra desse morro, antes que chova; aí nem teremos como fazer a fogueira como você sugeriu segundo esse seu sonho maluco.
- Certo, Euclides, e se o sonho for real? Você não vai participar do que pedi?
- Sim, Júnior, iremos… Todos aqui. Somos amigos, não?
- Claro que sim, Euclides.
- Tá...vamos logo… Ordenou Alessandra, a mais jovem do grupo, passando pela abertura da cerca e iluminando-a com a luz de sua lanterna.
Cada um ultrapassou o orifício com cuidado, a cerca estava enferrujada, havendo galhos espinhosos entrelaçados nela. No começo, apenas um único caminho de mata baixa era visível com a fraca luz, a escuridão era completa. A chuva balançava as folhas assustando o grupo que se direcionava pela primeira trilha à direita. A cada passo nas areias com folhas secas e úmidas, ficava mais denso o percurso, pesando para cada indivíduo do grupo. As pegadas iam ficando mais visíveis e fundas quando se passaram dez minutos de caminhada, havendo mais lama densa e viscosa. O cheiro forte de carniça de ratos e gatos eram mais concentrado quando o grupo se deparara com uma coluna retangula verticalmente sustentada por um cubículo um pouco mais escuro do que ela. O grupo passara pela coluna, assustados por verem alguns restos de animais sobre o cubículo… Ninguém se aproximou… Continuaram caminhando.
- Júnior, está perto de chegarmos até o topo? Indagou Larissa.
- Creio que sim, Lari. Pelo o que me lembre, são trinta à quarenta minutos de caminhada, tendo uma subida de uma ladeira bem íngreme. Respondeu Júnior.
- Nossa, preciso fazer xixi… Não consigo mais segurar, pessoal. Vou fazer ali, próximo daqueles galhos, onde tem umas pedras por detrás. Alexandra saiu andando rapidamente até o local para urinar.
- Vamos esperar ela aqui… Vê se não demora, Alessandra, temos que ir logo, estamos demorando muito, já passaram uns vinte minutos ou mais, e até o momento não vi a ladeira. Disse Hugo.
- Tem certeza que é por aqui, Júnior?
- Tenho, Euclides… Já vim aqui várias vezes e ainda estamos no tempo.
- Tudo bem, só não faça a gente se perder aqui.
- Certo, Hugo, Deus está com a gente. Ele sempre nos guiará. Confie e tenha fé.
Enquanto Larissa, Hugo, Júnior e Euclides esperavam por Alexandra, ambos escutavam o mórbido som das gotas da chuva cair sobre a lama pegajosa da trilha, a música fúnebre provocada pela mãe natureza dava ao cenário um tom melancólico com o crocitar das corujas que encaravam o grupo do topo das árvores. Aranhas em suas teias cobertas por filetes das gotas - que caíam da chuva que aumentava-, perabulavam para suas tocas obscurecidas pelo negrume da escuridão e a lama densa da cor do ébano, davam um ar sepulcral do abismo. Até que um grito agudo e doloroso aos tímpanos surgira:
- Alessandra! Berrou, Hugo.
Larissa, Júnior e Euclides ficaram estarrecidos.
- Venham aqui, rápido. Olhe o que eu encontrei… É horrível. Gritou Alessandra.
Todos correram rumo ao local e viram Alexandra agachada com um galho na mão, cutucando um crânio humano. Ao redor, próximo do crânio repleto de larvas, algumas fotos 3x4 de pessoas, identidades, carteira de trabalho; todas com as fotos com uma minúscula circunferência – como a provocada pela queimadura de um cigarro -, e pequenas cruzes de madeira enfiadas no solo lamacento.
- Nossa… Bizarro… O que são essas coisas?
- Não toque, Hugo…
- Não iria tocar, Euclides, apenas achei estranho tudo isso… Temos que sair daqui, não estou gostando desse lugar. Vamos logo. Alessandra, pare de mexer nesse crânio, por favor.
- Não, Euclides, tem algo aqui. Veja. Apontou Alessandra para dentro dos olhos do crânio com seu graveto.
- O que é?
- É um papel, enrolado, Júnior.
Alexandra tirara o papel, todos os outros ficaram ao lado, vendo-a desatar uma fita escarlate do pergaminho.
- O que há nisso? O que está escrito, Alexandra? Por que não fala? Indagou Larissa.
Alexandra continuara virada de costas para o grupo, segurando o pergaminho.
- Fala de um Ritual...mas não do mesmo Ritual que Júnior havia nos dito uma semana antes quando teve o seu sonho…
- Como assim? Falou em um tom elevado, Larissa.
- Responda… Gritou Hugo… O que está havendo?
- Pessoal… Onde está o Júnior? Sussurrou Euclides, quase gaguejando.
Larissa e Hugo viraram-se rapidamente.
- Não é possível… Isso não está acontecendo. Para onde diabos ele foi? Resmugou Hugo.
Larissa começara a lacrimejar… Rogando por tudo o que há de sagrado.
- Vamos sair daqui agora. Disse Hugo, puxando Larissa e Euclides e chamando Alexandra que permanecia no mesmo lugar, em pé, com o pergaminho nas mãos.
A cabeça de Alexandra virara para trás quando Hugo tocara em seu ombro. Larissa desmaiou. Euclides correu. Hugo caiu na lama, pelo susto sofrido e também desmaiou. Após acordar, Hugo observara o céu negro, a chuva tinha cessado. Ainda estava se situando. Pensava que tudo o que ocorrera era fruto de sua imaginação ou sonho que tivera. Porém, algo o fez perceber que não. A fumaça e o barulho de algo queimando.
Ao se levantar, viu o corpo de Alexandra sem a cabeça, com vários símbolos estranhos sobre as partes que ainda possuíam a epiderme e a derme. Conseguia enxergar melhor aonde se encontrava, a lua pintava o cadáver com sua luz azulada. Ao lado esquerdo, mas não muito longe do cadáver morimbundo, uma enorme fogueira crepitava, e as chamas aumentavam a cada gota de gordura que caía de um corpo suspenso sobre uma corda; era Euclides, sem os dois braços, apenas os ossos suspensos sobre a fogueira que tostava suas pernas. O pergaminho estava ao lado do corpo da Alexandra. Correu até ele, horrorizado… Pegou o pergaminho e começara a leitura:
Fogueira Santa – Ritual
Para santificar o seu nome, marcar com o sangue de cinco pessoas e depois cremá-las em nome do Glorioso Pai. Matar todos os pecadores… Conduzí-los às ardentes chamas do inferno.
Júnior – O Escolhido por Deus.,
Hugo não acreditava no que tinha ali no pergaminho, cada palavra… Até que uma voz ressoou atrás dele.
- Glória… Irmão… Arrependido? Se está, não temerá a Fogueira Santa. Ela é para hereges como nós. Eu já estou convencido que sou um eterno pecador e só o Pai me mostrará a luz novamente. Oh, glória…
Hugo não conseguia entender. Estava confuso, não compreendia como Júnior conseguira pendurar Euclides no galho, sendo bem mais baixo do que ele.
Outra voz ressoou, porém, mais grave, a de um homem e conhecida por Hugo. Era o pastor da igreja onde eles foram antes de entrarem no morro.
A voz gutural do pastor provocou em Hugo fortes arrepios.
- Júnio, disse o pastor, sua vez, irmão… Não queira crescer e ser um adulto corrompido. Livre-se da carne, seja espírito.
Hugo vira Júnio caminhando tranquilamente para a Fogueira Santa, deitando-se nela, sem gritar. O pastor olhou para Hugo, contemplando todo o horror na face do garoto.
- Sua vez…
Tema: Fogueira
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