Um Luau Macabro

Houve uma época em que uma das coisas que os jovens mais gostavam de fazer nos finais de semana era acampar. E em um tradicional colégio da cidade havia um grupo de jovens que se destacava dos demais por só curtirem músicas do tipo 'rock pauleira' e usar umas roupas estranhas, que os deixava parecidos com aqueles 'hippies' americanos eram conhecidos como os 'Maus Maus', numa referência a um conhecido grupo de rock da pesada que existia naquela época. Eles não se contentavam apenas em acampar naqueles lugares 'já manjados' já que adoravam estar em evidência.

O lider do grupo se chamava Gabriel. Era um moreno alto e forte; um jovem muito ousado, criativo e também muito carismático.

A sua ousadia era tanta, que certo dia ele decidiu que o seu aniversário de dezenove anos seria comemorado em um luau, dentro de um cemitério. Dizia ele que seriam os primeiros a fazer um 'luau na terra dos mortos'...

O local escolhido foi um velho e abandonado cemitério da Baixada Fluminense ,que tria sido utilizado somente durante o período da escravidão, onde ali eram enterrados os escravos.

E foi em um finalzinho de tarde de uma sexta-feira que, depois de terem percorrido uma estreita estradinha de terra batida, um grupo formado por nove casais de animadíssimos jovens, que vieram em dois jipes e uma kombi, chegaram 'de mala e cuia', naquele velho cemitério. Era um cenário macabro onde entre os escombros de antigos túmulos ainda se viam algumas poucas cruzes de madeira carcomidas pelo tempo, assim como muitos tocos de velas, pedaços de fitas coloridas e diversos alguidares espalhados por tudo quanto era canto... Mas nada que os amedrontasse, já que eles ignoraram solenemente aquilo tudo, 'invadindo' aquele local sinistro com as suas tralhas.

Armaram as suas barracas em torno de uma enorme jaqueira, que ficava no ponto mais alto do cemitério.

E quando eram cerca de oito e meia da noite, o Gabriel juntamente com o seu amigo Serginho, pegou o seu jipe e foram os dois até um certo barzinho pegar algumas cervejas, que já haviam deixado anteriormente pagas, ficando de voltar lá para pegá-las mais tarde.

Só que o tempo foi passando e nada dos dois voltarem. Preocupados com aquela demora, cinco jovens pegaram o outro jipe e foram atrás deles; já eram quase onze da noite...

Depois de rodarem por alguns minutos, avistaram o jipe deles; estava parado e com as portas abertas. Eles gritaram, chamando pelos dois; mas nada... E como já estava muito escuro, eles resolveram voltar para pegar algumas lanternas... Já de volta eles se dividiram em dois grupos e vasculharam nas proximidades, mas não os encontraram. Decidiram então que o melhor a fazer seria esperar o amanhecer do dia seguinte para procurar melhor e, se fosse o caso, procurarem a ajuda da polícia.

E na manhã do dia seguinte, como não s encontraram, resolveram comunicar aquele estranho desaparecimento na delegacia. Lá o delegado lhes teria dito que eles tinham que esperar completarem 24 horas após o desaparecimento para só então iniciarem as buscas, mas vendo o desespero deles resolveu sair imediatamente à procura dos dois. A busca foi infrutífera; nenhum vestígio deles...

E foi, já no final do dia, que o delegado recebeu a ligação da delegacia de um município vizinho, informando que um jovem com as mesmas características de um dos desaparecidos havia sido encontrado. O delegado pegou um daqueles jovens e foi até lá, onde foi confirmado que se tratava realmente do Serginho que, todo sujo e com a roupa rasgada, não 'falava coisa com coisa'...

O delegado sugeriu que ele fosse levado para um hospital e que, tão logo estivesse em condições; seria ouvido. E isso aconteceu já na manhã da segunda feira quando ele contou voltava do vilarejo com o Gabriel, quando viram bem à sua frente,no meio daquela estreita estradinha, um cavalo branco, montado por uma mulher toda vestida de branco que tentava segurar alguns pacotes, que acabaram caindo ao chão, quando o cavalo, que parecia ter se assustado com o jipe, empinou atirando a mulher ao chão. Imediatamente eles pararam o carro e, pensando em ajudar aquela mulher, correram em sua direção...

E foi então que algo terrível e sobrenatural aconteceu; quando eles pegaram aquela mulher, alta e esguia de cabelos longos e negros, que estava caida de bruços e a viraram, diante dos seus olhos surgiu uma visão horripilante; em vez deles verem o rosto de uma mulher, eles viram foi uma horrenda caveira que, com uma risada macabra, agarrou-se fortemente ao seu amigo Gabriel, que pareceu desfalecer, sendo que um forte redemoinho foi se formando bem ali, na sua frente, envolvendo e levando pelos ares, não só aos dois, como também aquele cavalo branco.

Disse ele, que depois daquilo não se lembrava de mais nada; deve ter desmaiado. Disse ainda que quando acordou, estava deitado em cima de uma catacumba, já em um outro cemitério, acrescentando que não tinha a menor idéia de como é que foi parar lá. E foi então que, tomado de grande pavor, entrou em total desespero e saiu de lá em desabalada carreira, devendo ter perdido a razão, já que só foi encontrado na manhã do dia seguinte, vagando desnorteado à beira de um pequeno riacho que passa aos fundos do tal cemitério...

Perguntado pelo delegado se ele sabia do paradeiro do 'Gabriel', ele disse que não tinha a menor idéia do que poderia ter acontecido com ele.

Cerca de uma semana do desaparecimento do jovem Gabriel havia se passado sem que o delegado tivesse conseguido qualquer pista sobre o seu paradeiro. Foi então que ele decidiu interrogar novamente o Serginho, para ver se encontrava algum detalhe ,que pudesse lhe dar alguma pista... Mas como não conseguiu descobrir nada de novo, decidiu levá-lo até o cemitério onde ele disse ter despertado na manhã seguinte ao desaparecimento do amigo.

Chegando lá eles foram até a tal catacumba. O delegado anotou o nome da pessoa que ali estava enterrada; 'Joana L. Assis'. Ele também observou que parecia haver muito tempo que ninguém cuidava daquele túmulo, já que até faltavam alguns daqueles enormes azulejos brancos. O seu faro policial fez com que ele fose até a administração do cemitério para saber mais sobre aquela pessoa que ali estava enterrada. Ele soube que se tratava de uma jovem que havia morrido aos dezenove anos de idade, na véspera do dia do seu casamento e que fora assassinada pelo seu próprio pai, que também acabou se suicidando.

O delegado ficou tão curioso com aquela história que resolveu se aprofundar um pouco mais. E foi consultando os registros policiais da época que ele descobriu que aquela jovem ali enterrada era a filha única de um rico e poderoso fazendeiro e que, contrariando a vontade do pai, iria se casar com um jovem mulato chamado Gabriel, que era filho de um escravo alforriado. Só que o seu pai havia jurado que ela jamais haveria de se casar com um negro. E foi na véspera do seu casamento que ele, logo depois de ter assassinado o seu noivo, também a matou com um certeiro tiro de garrucha, no momento em que ela, cheia de felicidade e montada no seu cavalo branco, voltava da costureira trazendo um pacote contendo o seu vestido de noiva.

Durante muito tempo os habitantes daquele lugarejo costumavam diser que o espírito daquela noiva costumava vagar pelas noites, montada no seu cavalo branco, rondando aquele cemitério dos negros à procura do seu amado.

O delegado resolveu então voltar ao túmulo da tal Joana L. Assis. Chegando lá, acompanhado do coveiro, pediu que ele o abrisse, e; surprêsa! Dentro daquele túmulo estava o cadáver do jovem Gabriel...

Ele estava de bruços, sendo que às suas costas e entrelaçados apareciam o esqueleto dos dois antebraços e as mãos daquela que certamente deveria ter sido a Joana. O delegado chegou à essa conclusão porque em um anel que estava em um dos esqueléticos dedos, estavam as iniciais; "J.L.A".

Aquele estranho caso do desaparecimento do jovem Gabriel foi encerrado ali... Mas uma pergunta 'irrespondível' ficou no ar; se o túmulo se encontrava lacrado há tantos anos, como é que o corpo do Gabriel foi parar lá?...