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Eva
 

  "Como poderia ser verdade?"
 
  Em uma semana a coisa estava dentro dela, tudo tão rápido, tão impossível, afinal ele era apenas um humano, um humano.

  O sangue dele tinha um gosto diferente, doce, quente, algo indescritível, assim como sua pele e seus olhos esverdeados como a linda floresta amazônica. Ele parecia um Deus.

  Como poderia ser verdade? E agora lá estava ela!

  Acuada, sendo perseguida por uma legião de sanguessugas filhas da puta. Um bando de esfomeados em busca do que havia dentro dela, “um ser humano”!  Eva sentia seu cheiro, sentia o gosto do sangue circulando pelas pequenas veias, desejava beber aquele líquido carmesim, mas não, não, não podia, não ainda!

  Escorou-se em um beco fétido, o cheiro pútrido de carne, não de homens, não de mulheres, mas de ratos, ratazanas devoradas para saciar a fome dos vampiros, assim como a dela.

 Queria estar com eles naquela caça, porém ela era a caça, ou melhor, a criança que carregava.

 

 - Uma semana antes -

  Não entendia como aquele sangue poderia ser tão poderoso, um sangue humano? Ela deveria ter somente mordido o pescoço daquele homem, tão-somente ter sugado o sangue dele e o deixado lá para morrer, contudo ele era tão diferente, sedutor, surreal. Eva se permitiu foder bem gostoso com ele, meter, meter e meter até o último minuto antes do pôr-do-sol, assim que sentiu sua pele queimar enquanto ele gozava e ela ali cavalgando. Há quanto tempo ela não fazia isso? Talvez com tanta intensidade quando ainda era uma simples humana. Sim, fazia muito tempo! Seus pés enraizados na areia da praia, ainda rebolando sobre ele, e aos primeiros raios de sol, ao sentir a pele chiar como se sua carne tocasse a superfície quente de uma frigideira, curvou-se e ensaiou um beijo, então ela sentiu seus dentes cravados no pescoço dele. Correu, descalça, nua e revigorada, uma lágrima de sangue escorrendo viva de seus olhos, há muito não encontrava alguém assim, não se alimentava tão bem, não se sentia viva.

 Pulou uma parede de bambu, se escondeu num quiosque, debaixo do telhado, os raios de sol penetrando por sobre a parede, ela se encolhendo debaixo do balcão e seu coração bateu forte, quase. Parecia ser o dela, mas era o de um bebê que estranhamente crescia em seu ventre.

 Esgueirou-se até uma fresta e viu o corpo estendido na praia, os olhos dela arregalados, uma ponta de algo gritou no vazio de sua existência, “maldição, o que é isso?” pensou, mas de que adiantaria, agora precisava fugir, pois sentiu o cheiro de sangue humano exalando de si própria.

 

 

- Atualidade -

  As sombras se aproximaram do beco, várias delas. O cheiro de podridão aumentou. Figuras esqueléticas chegavam de todos os cantos, do alto das paredes, da entrada do beco, chegavam famintas.

  Deixou que seus dentes brotassem afiados na boca, a força que sentia era surreal, a criança sugando sua vitalidade, ela drenando o sangue daquela criança que se formou em apenas uma semana em sua barriga, o sangue parecia estar em suas próprias veias. Cada dia parecia um mês, ela não precisou se alimentar durante aquele tempo, era como se uma suprisse a outra, e uma desejasse a outra.

  Ergueu as mãos e golpeou, um soco tão forte que arrancou o queixo da primeira criatura esquelética que a enfrentara. Subiu em uma caçamba de lixo e continuou implacável, lutando, a barriga tão grande como se tivesse de sete meses de gestação.
 
  As criaturas atacavam desordenadas, guiadas pelo cheiro que vinha de dentro daquela vampira, entretanto caíam uma após outra, derrotadas, sem braços, pernas, sem cabeça, com poucas chances de se moverem ou de continuarem a lutar.

  No final ela sorriu após derrubar todos, ergueu os olhos para o céu, era um milagre e foi então que sentiu a fisgada, uma dor dilacerante. Olhou para trás, para frente, quem teria a atacado? Sentiu novamente e então entendeu, foi quando as mãos brotaram de seu umbigo, lhe rasgando a pele.
 
  Percebeu como era bom aquele cheiro e como era dela, e seus dentes voltaram ao normal. A criança parecia ter uns 5 anos quando pôde vislumbrar seus olhos amarelos brilhantes. E seus dentes, eles eram enormes.

  Foi só então que Eva entendeu. Não era mais um vampira, aquele cheiro era dela, era o sangue dela que ela queria. Foi aí que percebeu que estava se transformando à medida que o bebê crescia. A criança se ergueu, caminhou como se sempre tivesse andado por aí, olhou para mãe agonizando, sorriu e falou.
 
 - E então novamente o Senhor Deus for­mou o homem, agora do pó de Eva e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente.

 Disse então a voz que ela reconheceu prontamente:
"Este, sim, é osso dos meus ossos
e carne da minha carne!
Ele será chamado Adão,
porque de Eva foi tirado".

  Por essa razão, ele transformará vampiros e vampiras em homens e mulheres, e eles se unirão a mim e formarão um novo Éden.
E então Eva se lembrou dele, do Deus que conheceu, e sozinha sangrou até o fim.

Tema - Vampiros
Total de 849 Palavras

Autoria em Sigilo
Enviado por DTRL Desafio de Terror Rascunhos Literários em 16/07/2019
Reeditado em 29/07/2019
Código do texto: T6697522
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