Lápide 2
Abri meus olhos, levantei da cama e dei de cara com um livro: “Eu Estou Morto, de Toni Moraes”.
Mesmo achando estranho aquele livro ali de repente, pois, não lembro de tê-lo comprado, fui ao banheiro escovar os dentes e me preparei para tomar meu café da manhã, suco de morango com pão e presunto. Minha mãe apareceu chorando…
– Depois da escola nós vamos para o enterro do seu irmão.
– Meu irmão morreu?!
– Por que pergunta, você sabe que ele morreu.
Minha mãe sai chorando trancando a porta do quarto. Por mais surreal que pareça, mas não sabia que meu irmão gêmeo havia morrido, e pensando bem, faz um bom tempo que eu não o vejo, desde… Sei lá. Como já estava arrumado para ir à escola, fui em direção ao meu destino, e estranho, há uma penumbra no céu, mas não pode ser, já passa do meio dia, devia estar claro com o sol aquecendo forte sobre o planeta. Andando em direção à escola, encontro uma loja, e entro nela só para dar uma olhada na promoção, quando ouvi na televisão da loja, estava passando o jornal diário e uma notícia me intrigou de início, um garoto de 15 anos foi pego com drogas na sua mochila quando ia para a escola, o policial que o abordou disse que o garoto tinha uma boca muito suja e pensou em prendê-lo por desacato, foi quando o garoto saiu correndo, tão rápido que acabou caindo de mal jeito quebrando a perna, o garoto dizia que não era o dono das drogas que estavam em sua mochila, ele se recuperou depois de algumas semanas e passa bem. Outra notícia sobre um jovem que havia surtado, pegando a faca e falando que ia matar todo mundo, ele tentou matar sua família, mas sem sucesso, e no fim das contas, ele foi internado numa clínica psiquiátrica. Meu Deus! Acho que os jovens estão ficando loucos, espero que isso não aconteça comigo. Volto rumando para o meu caminho e chegando na escola entro em minha sala, olhando para meus colegas e para a professora, bizarro! Todos estavam pálidos, muito, muito pálidos, ou passaram maquiagem demais, ou é epidemia, se isso for uma doença contagiosa, eu não quero pegar. Mesmo querendo ir embora, eu sentei em minha cadeira e assisti a aula da professora de ciências que falava sobre a “Seleção Natural: A Teoria da Evolução de Darwin. ”
– A seleção natural ocorre pela necessidade de sobrevivência e adaptação das espécies ao ambiente…
Um dos meus colegas, o da cadeira de trás sussurrava em meu ouvido.
– Os vampiros são caçadores noturnos que saem de suas tumbas para se alimentarem do sangue dos humanos, e de acordo com Darwin, parece que esse ambiente em que vivemos atualmente é perfeito para os vampiros sobreviverem e se tornarem os donos da terra nessa nova era que se aproxima.
Confesso que fiquei assustado, e teria me borrado se eu acreditasse em vampiros, a penumbra é um lugar perfeito para os vampiros que não saem durante o dia, e como estamos sobre a penumbra, se houvesse vampiros, com certeza já teriam dominado o mundo! Depois da aula voltei para casa procurando a minha mãe, não a encontrei, então fui para meu quarto, e intrigante, a minha televisão estava ligada no canal 666, mas espera! Esse canal nem existe. Passava a notícia de um garoto de 15 anos que havia morrido e seria enterrado hoje.
“O garoto Rodrigo Mattos foi morto no último domingo e será enterrado hoje, o menino que voltava da escola para casa foi atacado por um cachorro da raça PitBull…”
O quê? Mas estão falando de mim, Rodrigo Mattos, não foi eu que morreu, foi o meu irmão gêmeo Roberto Mattos! Nós somos tão parecidos, até o nome, eles devem ter confundido, eu acho. Minha mãe aparece gritando, me chamando para ir com ela ao enterro, mas agora estou confuso, ela me chamou de Roberto, mas não sou o Roberto, sou o Rodrigo. Tudo parece tão estranho, desde que acordei, as coisas estão diferentes, e aquela penumbra lá fora, ainda está lá, desde que eu acordei. Das duas, uma, ou o mundo está maluco, ou quem está maluco sou eu. Mas eu me sinto são, mentalmente. Eu me arrumo para ir ao enterro do meu irmão, visto uma camisa preta e calça de moletom também preta. Minha mãe usava um vestido preto, lindo, e um chapéu preto, parecido com um dos anos 80. Mas ela estava tão pálida, acho que exagerou na maquiagem, mas gostei do batom preto. Saímos e quando chegamos ao enterro, na igreja, todos já estavam sentados e esperavam o padre começar a cerimônia fúnebre. O funeral estava com um ar pesado, tenso, mórbido, sombrio, obscuro, funesto e sinistro. O padre falava com uma voz grave e muito grossa, parecia aqueles locutores de rádio que contavam sobre histórias horripilantes nas madrugadas de domingo.
“Tu, Senhor, mantens acesa a minha lâmpada; o meu Deus transforma em luz as minhas trevas. ” (Salmos 18:28)
Enquanto o padre recitava os Salmos, eu olhava diretamente para o caixão, estava aberto e eu conseguia ver o meu irmão, juro que se eu não estivesse vivo, poderia apostar que era eu quem estava dormindo naquele caixão, é incrível a semelhança entre mim e meu irmão. Uma névoa negra cobre toda a igreja de repente, eu não conseguia ver nada, estava ficando assustado, tudo era obscuro diante de meus olhos, senti calafrios arrepiando a minha pele, senti que mãos apalpavam meu corpo, mãos que queriam me puxar para o além, eram mãos escuras que cobriam meu corpo, tapando minha boca, meus olhos, eu queria gritar, mas não podia, e não conseguia ver o que se passava diante de mim… Quando abri meus olhos ainda estava na igreja sentado ao lado de minha mãe, olhei pra ela, pálida. Tão branca que parecia que iria desmaiar a qualquer momento, sangue! Havia sangue em sua boca e seus dentes, seus caninos estavam grandes e muito afiados, ela sorriu de modo soturno para mim, ouço um grito, um grito vindo de dentro do caixão, era meu irmão, ela levanta do caixão, mas como pode ser? Como ele pode estar vivo! Ele estava macilento, cadavérico e cheio de sangue em volta do seu corpo.
– Roberto! – Gritei.
– Roberto? Não, não sou Roberto, sou Rodrigo. Eu sou você seu idiota!
Eu não conseguia entender o que estava acontecendo, não havia reação em mim, minha mente estava bagunçada, Cristo! O que está havendo? Olho em volta, as pessoas, elas estavam diferentes, todas estavam com sangue nos olhos, e com a boca cheia de sangue. Elas correram em direção a Roberto, ou será que é Rodrigo? Será eu mesmo? Todos correram em direção a ele que dizia ser eu e começaram a comer sua carne, sugando todo seu sangue, até a minha mãe estava lá! Eles olharam para mim, mostrando seus dentes afiados, dentes de vampiro com os olhos vertendo sangue, sedentos pela bebida da morte. Embriagados com o licor da morte, eles queriam mais, como um desejo muito intenso e profundo que você não consegue conter dentro de si e se entrega com toda a alma para a perdição… eu corri para fora da igreja antes que eles corressem para me pegar, corri, corri, corri, até encontrar um cemitério, sério? Será que não havia outro lugar para eu escapar, tinha mesmo que ser um cemitério, é morte certa. Não havia tempo para discutir teorias apocalípticas, entrei no cemitério correndo até não aguentar mais, quando caí. Ao me levantar dei de cara com uma lápide, nela estava escrito: “Rodrigo Mattos, Descanse em Paz! ” Santa Maria mãe de Deus! O que é isso? Eu estou morto! Mas não pode ser, eu estou aqui, estou vivo, não posso estar morto. De repente sinto-me sem forças, meu corpo estava pesado, não aguento ficar de pé e me entrego caindo ao chão. Tento gritar por socorro, mas minha voz não sai, tento me levantar, mas meu corpo não obedecia ao meu comando, o que está acontecendo? Vejo rosas vermelhas caindo do céu, algumas delas caem sobre mim, cheiro de rosas, rosas com cheiro de morte. Meu corpo estava ficando macilento, estava ficando sem vida, meus olhos estavam escuros, eu olhava as coisas em minha volta de modo sombrio e obscuro. Não! Eles vieram, os vampiros, vieram me pegar, não posso escapar, não consigo me mexer, eles estão sobre mim, cravando seus dentes em meu pescoço, provando do meu sangue, tirando a essência do meu ser, dor, sinto muita dor, mas não consigo gritar, dentes afiados penetrando minha pele como espinhos venenosos matando-me, meu coração dispara, preferiria ter um ataque cardíaco, minha respiração se esvai pouco a pouco, estou morrendo lentamente, bem lentamente, tortura infernal! Alguém, pelo amor de Deus, me ajud…
Abri meus olhos, levantei da cama e dei de cara com um livro: “Eu Estou Morto, de Toni Moraes”.