Meu coração queima
Antes de tudo, quero dizer que essa história é real!
Nunca acreditei em histórias de terror ou mistério. Talvez, por esse motivo, eu tenha vivenciado uma.
Sempre fui uma pessoa séria. Nunca tive o costume de sorrir ou fazer brincadeiras. Não é que eu não goste de sorrir, só não vejo motivo para expor meus sentimentos para outras pessoas. Da última vez que fiz isso, quase morri. E é sobre isso que vou falar. Portanto, saiba que essa é uma história de superação.
No primário, eu descobri que tinha sopro no coração. Não era um sopro ou uma arritmia comum; eu sentia meu coração queimar. Quando mudei de escola, a disfunção parou.
Já no ensino médio, os problemas cardíacos voltaram. Tive que trocar o futebol por natação e fazer algumas mudanças na alimentação, porém, o problema persistia. Ainda no ensino médio, fui à uma festa da escola. Chegando lá, notei a presença de uma garota linda que conversava com as amigas. Nesse momento, congelei. Ela parecia um anjo de um quadro renascentista. Pele clara, bochechas rosadas e volumosas, sorriso tímido e cabelo esvoaçante. Temendo nunca mais vê-la, fui a sua direção. Ao me aproximar, alguém entrou na minha frente e gritou “você vai queimar”. Como não gosto de brincadeiras, achei isso uma idiotice. Procurei o infeliz que fez isso, mas não achei. Voltando a atenção para a garota, percebi que ela não estava mais lá. E nunca mais a vi e mais de uma década passou, o que nos traz ao presente.
Há quase um ano agendei uma consulta com o cardiologista. Afinal, eu não passava por esse atendimento já tinha um bom tempo. Ao desligar o telefone, senti meu coração arder. Era uma sensação diferente das outras. Era como se alguém o espremesse. Levei minhas mãos ao peito e a dor só aumentou. Através da televisão desligada, vi o reflexo de um homem atravessando sua mão no meu peito e espremendo meu coração. Ele era muito alto e forte. Usava roupas pretas. Olhando para sua figura refletida na tv, notei que seus olhos brilhavam e tinham cores distintas. Um olho era azul e o outro amarelo. Senti que um olho me culpava e o outro me punia, seja lá qual fosse o motivo. Pensei que fosse morrer. Com um pouco de força que ainda me restava, pedi para que me soltasse e antes de me atender ele disse: “Você vai queimar!”
Por alguns segundos, fiquei sem acreditar no que tinha visto e ouvido, mas entendi que se tratava de um fantasma, um espírito maligno querendo me matar; o mesmo espírito que me assustara anos atrás na festa da escola. Eu estava muito amedrontado, porém, não contei nada a ninguém. Eu não tinha amigos.
Dias depois, fui à minha consulta. Eu estava muito preocupado, pois temia ter que fazer alguma operação. Ao entrar no consultório, a recepcionista me acompanhou até a sala da cardiologista. Eu podia sentir um leve ardor no meu coração. Quando entrei na sala e comecei a ser atendido pela médica, congelei. Minha memória nunca falhou e não seria dessa vez. Toda minha preocupação se foi quando comecei a conversar com a médica. Era como se eu nunca tivesse problemas cardíacos. Ah, sim. A médica... pele clara, as mesmas bochechas rosadas e volumosas, só o cabelo estava um pouco diferente. A colegial por quem me apaixonei a primeira vista se tornou minha cardiologista.
Enquanto ela fazia algumas perguntas, eu me perdi olhando seu rosto. Eu apenas admirava sem acreditar que finalmente tinha encontrado aquela garota. De repente, percebi que seus olhos estavam diferentes. Estavam mudando de cor. Ficaram da mesma cor dos olhos do espírito que tentou me matar. Foi então que meu coração voltou a arder. Levei minhas mãos ao meu peito, e de soslaio vi que o espírito maligno saiu do corpo da cardiologista e veio em minha direção. Eu caí no chão sentindo uma dor insuportável.
Quase desfalecendo, percebi que a médica tentou me ajudar. Antes de fechar os olhos, voltei ao primário. Eu estava sentado na sala de aula; a professora fazia a chamada. Em meio ao barulho dos alunos, ouvi uma voz respondendo a professora quando ela chamou o nome “Isabel”. Olhei pra trás e lá estava ela, a colegial, que hoje é médica e sempre foi minha paixão. Eu a conheci no primário, e logo depois disso o sopro no coração começou. E como disse anteriormente, parou depois que mudei de escola. Isabel... um lindo nome e bem sugestivo à minha enfermidade, relacionando à fé católica.
E se o espírito não me impedisse de me aproximar dela na adolescência? E se esse espírito das trevas não tivesse entrado no meu caminho? Como seria minha vida depois de conversar com Isabel na festa? O que teríamos vivido? O quanto teríamos aprendido um com o outro? Esse encosto tirou isso de mim!
Quando não pude mais suportar a dor no meu coração, o espírito sussurrou “eu quis te ajudar”.
Acordei no dia seguinte, vivo! Fiz uma série de exames e fui liberado. Eu me senti como se nada tivesse acontecido. Dois dias após o ocorrido, para minha grata surpresa, recebi a ligação de Isabel. Aproveitei a oportunidade e a convidei para sair; ela aceitou. Foram os meses mais intensos de nossas vidas. Meu coração voltou a queimar, mas de outra maneira. Ele queimava de alegria, queimava de vontade de passar a eternidade ao lado daquela mulher. Ela me ensinou tanto. Nós vivemos bem. Mas como antecipei, essa é uma história de superação. Infelizmente, só aprendemos a superar nossas dificuldades quando algo muito ruim acontece. E de fato, aconteceu. A morte nos espreitava.
Numa quinta-feira chuvosa, pela manhã, Isabel não acordou. Morreu dormindo. Ela sofria de uma doença raríssima, da qual não sabia.
Depois de seu enterro, voltei pra casa, sentei no sofá; e mais uma vez, através da tv, vi o reflexo do espírito. Ele estava sentado do meu lado. Demorei para entender, mas ele nunca quis me matar. Isabel era muito religiosa e tinha uma proteção implacável de seu anjo da guarda, que até então, eu acreditava ser um espírito do mal. Ele a amava tanto que tentou me proteger também. Sempre avisando que meu coração queimaria se eu me aproximasse de sua protegida. Realmente, meu coração sempre queimava na presença dela. Mas eu não podia me afastar. Depois que vi Isabel pela primeira vez, nunca mais esqueci. Como esquecer de alguém que te fez sorrir, mesmo estando triste?
Dessa experiência sobrenatural, eu aprendi uma coisa muito importante. Se um dia seu coração se aquecer por alguém, deixe queimar; e se sofrer por isso, nunca mais olhe pra trás!
Antes de tudo, quero dizer que essa história é real!
Nunca acreditei em histórias de terror ou mistério. Talvez, por esse motivo, eu tenha vivenciado uma.
Sempre fui uma pessoa séria. Nunca tive o costume de sorrir ou fazer brincadeiras. Não é que eu não goste de sorrir, só não vejo motivo para expor meus sentimentos para outras pessoas. Da última vez que fiz isso, quase morri. E é sobre isso que vou falar. Portanto, saiba que essa é uma história de superação.
No primário, eu descobri que tinha sopro no coração. Não era um sopro ou uma arritmia comum; eu sentia meu coração queimar. Quando mudei de escola, a disfunção parou.
Já no ensino médio, os problemas cardíacos voltaram. Tive que trocar o futebol por natação e fazer algumas mudanças na alimentação, porém, o problema persistia. Ainda no ensino médio, fui à uma festa da escola. Chegando lá, notei a presença de uma garota linda que conversava com as amigas. Nesse momento, congelei. Ela parecia um anjo de um quadro renascentista. Pele clara, bochechas rosadas e volumosas, sorriso tímido e cabelo esvoaçante. Temendo nunca mais vê-la, fui a sua direção. Ao me aproximar, alguém entrou na minha frente e gritou “você vai queimar”. Como não gosto de brincadeiras, achei isso uma idiotice. Procurei o infeliz que fez isso, mas não achei. Voltando a atenção para a garota, percebi que ela não estava mais lá. E nunca mais a vi e mais de uma década passou, o que nos traz ao presente.
Há quase um ano agendei uma consulta com o cardiologista. Afinal, eu não passava por esse atendimento já tinha um bom tempo. Ao desligar o telefone, senti meu coração arder. Era uma sensação diferente das outras. Era como se alguém o espremesse. Levei minhas mãos ao peito e a dor só aumentou. Através da televisão desligada, vi o reflexo de um homem atravessando sua mão no meu peito e espremendo meu coração. Ele era muito alto e forte. Usava roupas pretas. Olhando para sua figura refletida na tv, notei que seus olhos brilhavam e tinham cores distintas. Um olho era azul e o outro amarelo. Senti que um olho me culpava e o outro me punia, seja lá qual fosse o motivo. Pensei que fosse morrer. Com um pouco de força que ainda me restava, pedi para que me soltasse e antes de me atender ele disse: “Você vai queimar!”
Por alguns segundos, fiquei sem acreditar no que tinha visto e ouvido, mas entendi que se tratava de um fantasma, um espírito maligno querendo me matar; o mesmo espírito que me assustara anos atrás na festa da escola. Eu estava muito amedrontado, porém, não contei nada a ninguém. Eu não tinha amigos.
Dias depois, fui à minha consulta. Eu estava muito preocupado, pois temia ter que fazer alguma operação. Ao entrar no consultório, a recepcionista me acompanhou até a sala da cardiologista. Eu podia sentir um leve ardor no meu coração. Quando entrei na sala e comecei a ser atendido pela médica, congelei. Minha memória nunca falhou e não seria dessa vez. Toda minha preocupação se foi quando comecei a conversar com a médica. Era como se eu nunca tivesse problemas cardíacos. Ah, sim. A médica... pele clara, as mesmas bochechas rosadas e volumosas, só o cabelo estava um pouco diferente. A colegial por quem me apaixonei a primeira vista se tornou minha cardiologista.
Enquanto ela fazia algumas perguntas, eu me perdi olhando seu rosto. Eu apenas admirava sem acreditar que finalmente tinha encontrado aquela garota. De repente, percebi que seus olhos estavam diferentes. Estavam mudando de cor. Ficaram da mesma cor dos olhos do espírito que tentou me matar. Foi então que meu coração voltou a arder. Levei minhas mãos ao meu peito, e de soslaio vi que o espírito maligno saiu do corpo da cardiologista e veio em minha direção. Eu caí no chão sentindo uma dor insuportável.
Quase desfalecendo, percebi que a médica tentou me ajudar. Antes de fechar os olhos, voltei ao primário. Eu estava sentado na sala de aula; a professora fazia a chamada. Em meio ao barulho dos alunos, ouvi uma voz respondendo a professora quando ela chamou o nome “Isabel”. Olhei pra trás e lá estava ela, a colegial, que hoje é médica e sempre foi minha paixão. Eu a conheci no primário, e logo depois disso o sopro no coração começou. E como disse anteriormente, parou depois que mudei de escola. Isabel... um lindo nome e bem sugestivo à minha enfermidade, relacionando à fé católica.
E se o espírito não me impedisse de me aproximar dela na adolescência? E se esse espírito das trevas não tivesse entrado no meu caminho? Como seria minha vida depois de conversar com Isabel na festa? O que teríamos vivido? O quanto teríamos aprendido um com o outro? Esse encosto tirou isso de mim!
Quando não pude mais suportar a dor no meu coração, o espírito sussurrou “eu quis te ajudar”.
Acordei no dia seguinte, vivo! Fiz uma série de exames e fui liberado. Eu me senti como se nada tivesse acontecido. Dois dias após o ocorrido, para minha grata surpresa, recebi a ligação de Isabel. Aproveitei a oportunidade e a convidei para sair; ela aceitou. Foram os meses mais intensos de nossas vidas. Meu coração voltou a queimar, mas de outra maneira. Ele queimava de alegria, queimava de vontade de passar a eternidade ao lado daquela mulher. Ela me ensinou tanto. Nós vivemos bem. Mas como antecipei, essa é uma história de superação. Infelizmente, só aprendemos a superar nossas dificuldades quando algo muito ruim acontece. E de fato, aconteceu. A morte nos espreitava.
Numa quinta-feira chuvosa, pela manhã, Isabel não acordou. Morreu dormindo. Ela sofria de uma doença raríssima, da qual não sabia.
Depois de seu enterro, voltei pra casa, sentei no sofá; e mais uma vez, através da tv, vi o reflexo do espírito. Ele estava sentado do meu lado. Demorei para entender, mas ele nunca quis me matar. Isabel era muito religiosa e tinha uma proteção implacável de seu anjo da guarda, que até então, eu acreditava ser um espírito do mal. Ele a amava tanto que tentou me proteger também. Sempre avisando que meu coração queimaria se eu me aproximasse de sua protegida. Realmente, meu coração sempre queimava na presença dela. Mas eu não podia me afastar. Depois que vi Isabel pela primeira vez, nunca mais esqueci. Como esquecer de alguém que te fez sorrir, mesmo estando triste?
Dessa experiência sobrenatural, eu aprendi uma coisa muito importante. Se um dia seu coração se aquecer por alguém, deixe queimar; e se sofrer por isso, nunca mais olhe pra trás!