O estalo da geladeira.
Depois do meu divórcio, precisei começar a vida do zero. Não me sobrou nada; nem móveis, imóveis... Até minha autoestima foi levada.
Conversando com alguns amigos, eles me indicaram uma porção de casas que estavam para alugar. Escolhi a mais em conta e me mudei.
Tive que me virar, pois eu não tinha nada. Algumas coisas eu ganhei, outras comprei e aos poucos fui mobiliando o espaço até poder chamar de lar.
Eu estava com pouco dinheiro e não tinha condições de comprar uma geladeira nova. Então fui à uma loja de segunda mão procurar uma que coubesse no orçamento. Após pesquisar, comprei.
Eu já imaginava que não seria das melhores, devido ao ano e valor. Mas não esperava ter tantos problemas.
Quando trouxe a geladeira pra casa, limpei bem e desinfetei. Assim que comecei a guardar os mantimentos, percebi uma marca de ferrugem, que mais tarde se revelaria uma mancha antiga de sangue. Segundo o vendedor da loja de segunda mão, o antigo dono da geladeira trababalhava com cortes rústicos de carne, de maneira artesanal e usava essa geladeira para manter a carne fresca.
De fato, a geladeira era excelente, porém, gelava demais, quase congelava os mantimentos. O regulador havia quebrado e não tinha conserto, então tive que lidar com o problema.
Por ser uma geladeira antiga, ela fazia muito barulho. Durante a noite eu ouvia alguns estalos. A princípio, esses estalos eram esporádicos e por isso não me incomodavam. Mas no decorrer do ano passaram a ser constantes.
Numa noite, acordei com um grito de uma mulher, parecia ter vindo da geladeira. Muito assustado, caminhei até a cozinha. Para minha sorte, o grito veio da televisão; a TV estava ligada num canal que passava filme de terror. Depois disso, o que me espantou foi lembrar que eu tinha desligado a televisão antes de me deitar.
Na noite seguinte, num domingo. Abri a geladeira e ouvi o mesmo grito da noite anterior. Olhei para TV e ela estava desligada. Quando voltei meu olhar para a geladeira aberta, vi o corpo de uma mulher morta lá dentro. O susto foi tão grande que escorreguei. Ao me levantar, o corpo tinha sumido. Era apenas uma alucinação. Há anos eu não dormia sozinho, e podia ter me afetado. Pelo menos foi o que eu tentei acreditar.
Já acostumado com os recorrentes estalos da geladeira durante a noite, chamei uma amiga para passar um fim de semana em casa. Ela chegou na sexta a tarde e no sábado a noite foi embora. Estávamos dormindo, por volta das onze horas, ela levantou buscar água. Eu acordei com seu grito que parecia atravessar todas as paredes da casa. Corri em direção a cozinha ver o que estava acontecendo. Ela estava chorando, pálida, assustada. Ela também viu a mulher morta na geladeira, mas as características eram diferentes.
Minha amiga arrumou seus pertences e foi embora. Disse que voltaria pela manhã.
No domingo acordei e ao abrir os olhos, vi a mulher morta na minha cama.
Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Eu estava a beira de um ataque de nervos quando minha amiga retornou. Sua presença me acalmou. Tudo estava confuso demais, louco demais. Conversando com ela sobre a geladeira, eu contei sobre a loja de segunda mão, de onde foi retirada. E aí meu espanto começou. O antigo dono da geladeira não trabalhava com cortes rústicos ou artesanais; ele trabalhava com corte de pessoas! Depois de anos de investigação, a polícia descobriu que o assassino havia montado uma lojinha de produtos usados, a tal loja de segunda mão, e lá fora assassinado pela polícia, durante uma emboscada e a loja permanece fechada desde então.
Ao ouvir o relato da minha amiga, senti um pesar. Um sentimento de tristeza tomou conta de mim. Me dei conta de que pessoas mortas foram escondidas naquela geladeira, entendi que fiz uma compra com um espírito e que toda vez que a geladeira estalava a noite, o desespero de suas vítimas tomava minha casa.
Depois do meu divórcio, precisei começar a vida do zero. Não me sobrou nada; nem móveis, imóveis... Até minha autoestima foi levada.
Conversando com alguns amigos, eles me indicaram uma porção de casas que estavam para alugar. Escolhi a mais em conta e me mudei.
Tive que me virar, pois eu não tinha nada. Algumas coisas eu ganhei, outras comprei e aos poucos fui mobiliando o espaço até poder chamar de lar.
Eu estava com pouco dinheiro e não tinha condições de comprar uma geladeira nova. Então fui à uma loja de segunda mão procurar uma que coubesse no orçamento. Após pesquisar, comprei.
Eu já imaginava que não seria das melhores, devido ao ano e valor. Mas não esperava ter tantos problemas.
Quando trouxe a geladeira pra casa, limpei bem e desinfetei. Assim que comecei a guardar os mantimentos, percebi uma marca de ferrugem, que mais tarde se revelaria uma mancha antiga de sangue. Segundo o vendedor da loja de segunda mão, o antigo dono da geladeira trababalhava com cortes rústicos de carne, de maneira artesanal e usava essa geladeira para manter a carne fresca.
De fato, a geladeira era excelente, porém, gelava demais, quase congelava os mantimentos. O regulador havia quebrado e não tinha conserto, então tive que lidar com o problema.
Por ser uma geladeira antiga, ela fazia muito barulho. Durante a noite eu ouvia alguns estalos. A princípio, esses estalos eram esporádicos e por isso não me incomodavam. Mas no decorrer do ano passaram a ser constantes.
Numa noite, acordei com um grito de uma mulher, parecia ter vindo da geladeira. Muito assustado, caminhei até a cozinha. Para minha sorte, o grito veio da televisão; a TV estava ligada num canal que passava filme de terror. Depois disso, o que me espantou foi lembrar que eu tinha desligado a televisão antes de me deitar.
Na noite seguinte, num domingo. Abri a geladeira e ouvi o mesmo grito da noite anterior. Olhei para TV e ela estava desligada. Quando voltei meu olhar para a geladeira aberta, vi o corpo de uma mulher morta lá dentro. O susto foi tão grande que escorreguei. Ao me levantar, o corpo tinha sumido. Era apenas uma alucinação. Há anos eu não dormia sozinho, e podia ter me afetado. Pelo menos foi o que eu tentei acreditar.
Já acostumado com os recorrentes estalos da geladeira durante a noite, chamei uma amiga para passar um fim de semana em casa. Ela chegou na sexta a tarde e no sábado a noite foi embora. Estávamos dormindo, por volta das onze horas, ela levantou buscar água. Eu acordei com seu grito que parecia atravessar todas as paredes da casa. Corri em direção a cozinha ver o que estava acontecendo. Ela estava chorando, pálida, assustada. Ela também viu a mulher morta na geladeira, mas as características eram diferentes.
Minha amiga arrumou seus pertences e foi embora. Disse que voltaria pela manhã.
No domingo acordei e ao abrir os olhos, vi a mulher morta na minha cama.
Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Eu estava a beira de um ataque de nervos quando minha amiga retornou. Sua presença me acalmou. Tudo estava confuso demais, louco demais. Conversando com ela sobre a geladeira, eu contei sobre a loja de segunda mão, de onde foi retirada. E aí meu espanto começou. O antigo dono da geladeira não trabalhava com cortes rústicos ou artesanais; ele trabalhava com corte de pessoas! Depois de anos de investigação, a polícia descobriu que o assassino havia montado uma lojinha de produtos usados, a tal loja de segunda mão, e lá fora assassinado pela polícia, durante uma emboscada e a loja permanece fechada desde então.
Ao ouvir o relato da minha amiga, senti um pesar. Um sentimento de tristeza tomou conta de mim. Me dei conta de que pessoas mortas foram escondidas naquela geladeira, entendi que fiz uma compra com um espírito e que toda vez que a geladeira estalava a noite, o desespero de suas vítimas tomava minha casa.