Creepypasta: A loira do banheiro - A Origem
Ela não conseguia acreditar. Então a loira do banheiro realmente existia!? Era ela ali, na sua frente?! A invocação deu certo!
Todas suas amigas que a ajudaram no ritual tinham se empurrado, estapeado e fugido quando a energia do banheiro feminino ginasial do Colégio Jesuíta de São Cipriano falhou. Ela se desequilibrou, torceu o joelho e não conseguia se levantar para fugir. Fora que o chão já estava todo molhado e escorregadio.
Para a sua surpresa, aquele ser de aparência horripilante, pele azulada, cabelos levemente loiros despenteados, olhos comidos por vermes, com o corpo todo ferido, coberto parcialmente por uma antiga farda colegial surrada, levitando e envolto por uma nuvem negra trevosa e gélida se aproximava vagarosamente dela. Parecia que se deliciava com o medo que ela sentia.
Instantes antes da aparição pular para cima dela, Jéssica se lembrou de um trecho de oração, fechou os olhos com força e rezou:
“Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o Céu e socorrei principalmente aquelas que mais precisarem.”
Ela sentiu a mão gélida da loira tocar seu ombro. Um forte calafrio tomou o seu corpo, como se tivesse levado um choque. Naquele instante, começou a passar um filme em sua mente:
* * *
Maria da Graças sempre teve uma queda por Saul, que era coroinha e muito amigo do Padre Lucivaldo, professor de Ética da escola. Ela nunca teve coragem de falar o que sentia por ele. Porém, um dia, Saul a chamou para se encontrarem detrás da quadra. Com aquele sorriso no rosto, ela achava que ele iria se declarar. Contudo, para sua surpresa, quando foi ao lugar marcado, o padre pegou um pano com clorofórmio e o forçou contra o seu rosto.
Quando acordou estava no banheiro feminino ginasial do Colégio. Tentou se livrar daqueles que usurpavam seu corpo com todas as forças. Quanto mais resistia, mais eles batiam nela e gargalhavam. Até que, quando ficaram satisfeitos, eles abriram todas as torneiras da pias para abafar o barulho e a afogaram dando várias descargas com a cabeça dela presa na privada enquanto terminavam de abusar dela. Ainda durante aquele horror, eles nunca falavam seu nome, mesmo a conhecendo. Eles a chamavam em tom de chacota como “a loira do banheiro”. Aquilo doía tanto na carne quanto na alma. Até hoje tem uma estatua com o busto do padre que a molestou no centro do pátio da escola.
Então, toda vez que alguém fazia aquele ritual de dar três descargas, deixar todas as pias abertas e chamarem o seu “apelido” três vezes no espelho, ela vinha enfurecida, porque aquilo era uma afronta direta a toda a dor e sofrimento que passou. Estavam literalmente caçoando da morte dela! E, dali em diante, era iria perturbá-los em sonhos assim como perturbaram o seu sossego.
* * *
Jéssica, ainda de olhos cerrados no escuro, chorou. Não por medo, mas de pena, de compaixão. Sussurrou “desculpe” bem baixinho, enquanto orava para que aquela alma encontrasse a paz.
Aos poucos ela sentiu aquele frio polar passar. Quando abriu os olhos, a luz já tinha voltado ao banheiro, como se nada tivesse acontecido. Levantou-se e prometeu a si mesma nunca mais fazer aquilo.