O SONO E A ESCADA.

Sempre gostei de viajar com os amigos. Pelo menos duas vezes por ano saíamos conhecer novos lugares. Era uma aventura.

Na última viagem, decidimos não nos aventurar tanto, porque um dos meus amigos não estava muito bem fisicamente, então fizemos algo mais básico. Alugamos um casarão próximo à rodovia, mas no meio da mata.
Se a ideia era descansar, fracassamos miseravelmente. Pra ser sincero, descansamos nos dois primeiros dias, dos sete que ficaríamos hospedados. Os últimos cinco dias foram os piores da minha vida.

Inicialmente, preciso dizer que meus amigos não eram boas pessoas. Eram criminosos. Realmente, eram pessoas ruins, mas mesmo assim eu gostava deles. Os conhecia desde a infância, mas não vou prolongar esse assunto.
Quando chegamos no casarão, escolhemos nossos quartos, trocamos de roupa e fomos nadar num rio próximo. Assim que retornamos, fizemos um churrasco, jogamos baralho, tomamos cerveja e fumamos um pouco, por quê não?

O segundo dia foi muito parecido, exceto pelo fato que descobrímos um quarto que não deveria estar lá. Esse quarto, realmente não existia no dia anterior, mas como estávamos bêbados e fora si, pensamos que o quarto pudesse de fato estar lá.
Minha curiosidade me levou a abrir o tal quarto. Ao entrar, uma enorme escada levava para um cômodo, que a princípio, eu não quis conhecer.

A partir do terceiro dia, a viagem deixou de ser prazerosa. Um dos meus amigos havia sumido, e o quarto que fora descoberto no dia anterior não existia mais. Nossa mente ficou confusa. Passamos o dia todo procurando nosso amigo. Ele nunca mais voltou. Ao final do terceiro dia, exaustos de procurá-lo, retornamos ao casarão e vimos que seus pertences haviam sumido. O quarto onde passou as duas primeiras noites estava arrumado. Provavelmente, estava tentando nos assustar.

No quarto dia nossos telefones não funcionaram. Ficamos apenas conversando e bebendo.

No quinto dia... sinceramente não me lembro do que aconteceu no quinto dia.

As coisas ficaram ainda mais estranhas a partir do sexto dia. O quarto que achávamos ter desaparecido, retornara. Entramos e vimos a escadaria, mas ela estava posicionada de maneira diferente. Estava maior. Descemos e achamos alguns pertences do nosso companheiro de viagem. Recolhemos os objetos e subimos novamente. Eu estava por último. Quando me aproximei da porta, senti algo entrando na minha boca. Parecia uma fumaça ou gás, não sei ao certo. Ao tossir, desmaiei.

Já era tarde da noite quando acordei. Eu ainda estava no quarto oculto, mas lá embaixo. Por que meus amigos não me levantaram? A escada parecia maior, realmente a quantidade de degraus tinha aumentado. Tudo muito estranho. Quando eu estava na metade da escadaria, vi meu celular num degrau. Estava tocando um vídeo em que meus amigos estavam conversando do lado de fora da casa. Planejavam minha morte. Desgraçados! Estavam me culpando por algo que nunca fiz.

Ao fundo do vídeo, notei um homem com um machado na mão indo de encontro com meus até então amigos. Quando se aproximou da câmera, vi seu rosto. Olhos vermelhos. Expressão de ódio. Puro ódio. Tinha a fúria de um animal selvagem. Um à um, meus amigos foram mortos. Ele cravou o machado na cabeça de cada um deles. Assim que terminou, seus olhos mudaram de cor e sua expressão ficou mais serena, mais calma. Com triste surpresa reconheci aquele rosto. Era eu!

Obviamente aquela fumaça que entrara na minha boca tinha me transformado. Eu jamais teria feito aquilo em sã consciência.
De certa forma, fui seduzido pelo quarto, logo que o notei no segundo dia. Não mencionei anteriormente, mas o quarto que eu escolhi foi este. Eu conseguia pegar no sono com mais facilidade. Agora não mais. Não consigo dormir, tão pouco consigo sair do quarto. E sempre que eu começo a subir a escada na tentativa de fugir daqui, os degraus aumentam. E se eu lembro do que fiz com meus amigos, o quarto desce, esquenta e a escada me leva pra baixo, pra baixo, pra baixo...
Régis Di Soller
Enviado por Régis Di Soller em 27/06/2019
Reeditado em 02/07/2019
Código do texto: T6683215
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