DANIELA MAL AMADA MORREU SOZINHA, COITADA

FIM DO ARRAIÁ NA TERRA DAS PEDRAS – PT 2

“DANIELA MAL AMADA MORREU SOZINHA, COITADA”

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Não havia nada que agradasse Daniela. O barzinho servia drinks interessantes, atraía uma gente boa e seletiva. Os turistas chegavam com papeizinhos anotados, nomes de lugares que ainda podiam conhecer... E o nome de seu barzinho sempre estava lá. Suas amigas perguntavam, por que ela – sendo tão popular e bonita - nunca arrumava ninguém, nunca ficava com ninguém, nunca queria sair de casa depois do expediente. As cachoeiras, grutas, trilhas, rios e todo a diversidade natural da cidade, frequentadas por todos que estavam ali ou que chegavam... Mas despertavam o menor interesse em Daniela. Quando fechava o bar, ia pra casa. Logo ao lado do bar. Corria para o banheiro e tirava a roupa com pressa. Diante do espelho nem se lembrava de que era uma mulher bonita... Pensava apenas no som de blues que escutaria durante um banho quente e demorado. Comeria frutas enquanto assistiria a filmes dramáticos e comédias americanas. Não haviam mais festas, nem paqueras, e nem ambições... amou demais no passado, tudo foi extremamente desastroso no fim. Tinha muito mais preguiça, de voltar a tentar de novo, do que medo de fato. Daniela Estava no andar de baixo quando a cidade foi tomada por água. A água invadia as brechas de suas janelas, portas e telhados, com força brutal... E logo, estava boiando abaixo de sua cama alta. Daniela tomava remédios, muitos remédios controlados... E dizia que o era o empurrão para que as pessoas dessem um salto sofrido pra fora do fundo do poço. Horas depois do fenômeno, ainda deitada em seu colchão boiando e já com o corpo todo trêmulo e molhado, Daniela conseguiu acordar e olhou em volta... A casa estava tomada de água que ia crescendo e crescendo com força, como se tivessem instalado uma cachoeira dentro das paredes. Em poucos minutos Daniela teve de abandonar a cama e nadar de um lado pro outro procurando lugares onde pudesse encontrar ar. As portas e janelas não abriam, estavam emperradas. Aos poucos ela percebia que ia mesmo morrer. Encontrou seu cachorrinho boiando, língua de fora, olhos brancos. Uma morte dolorosa. Ela quis chorar, mas não aconteceu... Prorrogou a morte nadando... como prorrogava o amor. Nadou de um lado pro outro da casa. No final, além de agonizando, morreu irritada, frustrada e indignada. Por pensar que talvez toda aquela solidão fosse uma solidão de fachada. No fundo sabia que teria se deitado com literalmente QUALQUER UM que lhe fosse um pouco mais gentil, durante as festas juninas. Mas... O problema é que todos eles foram extremamente bêbados, grosseiros e deselegantes.

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Parte I - Link:

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