Em algum lugar do Universo...
Você já parou para pensar se sua vida valeu a pena ser vivida? Em algum instante de nossa vida esta pergunta vem à tona, ainda que seja no instante final dela. Eu, Gisele Gys, levava uma vida tranquila com meu marido e meus 3 filhos. Havia muitos planos e muita vida pela frente, até meu marido, Allan Gys, que era deputado federal, morrer assassinado com dezenas de tiros em seu corpo. Meus filhos trigêmeos, de cinco anos de idade, Juan, Marcele e Edu, eram tudo que me restava, já que eu não tinha outros parentes vivos. E foi pensando na segurança deles que mudei de país. Fui para Portugal. Vivemos alguns anos sossegados em Lisboa. Mas na tarde de um dia de primavera do ano 2020, o passado voltou a me assombrar. Meus filhos foram sequestrados e o sequestrador não queria dinheiro. Queria se encontrar comigo. Ele me advertiu que caso eu procurasse a polícia meus filhos teriam o mesmo destino que meu marido, Allan. Como eles sabiam de meu marido? O que queriam comigo? São perguntas demais para responder. Não fui à polícia. Fui até o encontro do sequestrador. Numa rua deserta, de um bairro famoso de Lisboa, me encontrei com o sequestrador de meus filhos. O homem era baixo, coxo e vesgo. Usava os óculos com uma armação bem antiga e tinha cara de impaciente e impulsivo. Ele me perguntou onde estava o arquivo de meu marido. “Mas que arquivo é esse? Eu não sei de arquivo nenhum”. Respondi abrindo as mãos. Ele então não me perguntou mais nada. Fez um gesto para o homem alto com cara de fuinha, que estava com ele, e libertou meus filhos. Abracei-os com lágrimas nos olhos. Aquele abraço foi a última vez que vi minhas crianças com vida. Logo em seguida, o baixinho vesgo atirou nelas antes que eu pudesse impedir. Aquele desgraçado sádico tirou mais do que minha vida. Ele tirou a minha razão de viver. E é por isso que, hoje, após escrever esta carta, vou pôr fim à minha vida e reencontrar meu marido e meus filhos em algum lugar do Universo...
FIM