O Filho do Diabo
Andreza já havia engravidado antes, mas o bebê nasceu sem batimentos cardiovasculares.
Tarde de segunda-feira fez os exames e assim ciente estava de que carregava um filho mais uma vez. Seu marido chegou do inferno ao finalizar da tarde, deu-a um beijo e seguiu rumo ao banheiro:
- Amor, traga-me uma roupa por favor. A mulher foi até o quarto pegou um par de roupas voltou ao banheiro e se encostou na porta
- Temos que conversar...
- Depois que eu sair do banheiro a gente conversa
- Eu estou gravida. Foi ela direto ao assunto
- Gravida?! Está brincando? O médico não disse que você não tem mais condições de ter filhos?
- Ele disse que as chances de eu engravidar mais uma vez eram muito baixas, mas...
- Andreza, não está lembrada da coisa toda não?!
- Eu lembro sim, e me lembro bem!
A mulher puxou a porta com tudo e seguiu para a cozinha, lá ela apanhou um copo de vidro e o lançou contra a parede. - Mas que caralho! - Gritou o homem ranzinzo enquanto saia do banheiro enrolado numa toalha e seguia em direção a cozinha
- O que deu na sua cabeça?! – O homem perguntava com um caco de vidro cravado no pé
- ...
- Escute... nós dois sabemos que essa criança não pode vir, a gente vai abordar isso, Andreza, enquanto ainda é feto
- Não, não vamos não! O que você está tentando dizer afinal? Que eu estou carregando um deficiente dentro de mim mais uma vez, é isso?
- Deficiente não, Andreza! Olhe bem o que você está falando, o que saiu de você não era um bebê
- Pois para mim era e se ele tivesse nascido com vida...
- E que tipo de vida você acha que uma criança como aquela teria na terra?
- Eu... eu não vou abordar essa criança, fuja se quiser, pegue suas coisas e vá para a casa do caralho, mas esse filho eu vou carregar comigo até os meses necessários para o parto!
- Vai carregar isso dentro de você durante onze meses e meio mais uma vez?!
- ...
- Quer saber, que se dane, você e seu bebê cão. O homem foi para o quarto com os olhos avermelhados de raiva, vestiu-se com uma calça e uma blusa qualquer e saiu da casa
- Volte para o inferno, diabo! Aqui não é seu lugar! – Gritou a mulher na porta dá casa enquanto o marido entrava no carro importado e dava corda no motor.
Nove meses depois...
O nascer, depois de meses de dor e solidão a mulher no hospital estava para fazer. Quanto isso o marido no corredor estava, aguardando o nascimento do seu filho...
Depois de tamanho sofrer a mulher pariu o bebê, mas não sobreviveu ao parto, morreu ali mesmo sem ao menos ter a oportunidade de olhar para o seu filho.
O homem então enaltava na janela da porta para dar uma olhada, mas haviam muitos aos redores. Um médico ao vê-lo veio em sua direção, abriu a porta e saiu:
- Você era alguma coisa daquela mulher? – Perguntou o médico tremido
- Eu era casado com ela
- Senhor, ela morreu durante o parto, mas... venha...
O médico abriu a porta da sala e o apresentou para o seu filho. O homem assim apanhou a criatura de pernas desossadas e saiu do hospital.
Os médicos paralisados viram a face do diabo enquanto caminhava com seu herdeiro sobre os braços. O cérebro daquilo era saltado da nuca quanto as orelhas pontiagudas afundadas na lateral da cara, os olhos caídos eram virados ao avexo e sobre tudo um chifre de cabra do lado esquerdo. Sobre a cama onde o parto havia sido feito o corpo de Andreza começará a partir dali, a apodrecer.
Lúcifer ergueu suas asas acanhadas e sobrevoou o céu afora a carregar sua progênie.