OBRAS DA CRIAÇÃO
O Homem contemplava o mundo ao seu redor. Parecia finalmente ter entendido em qual tipo de desgraça o planeta havia se tornado.
A desgraça humana. O mal da criação.
Tudo em que o homem colocava a mão era destruído. Florestas davam lugar às ruas. Rios davam lugar a esgotos. Praças davam lugar a drogados. Vida dava lugar à morte.
Carro dava lugar a trânsito. Trânsito dava lugar a congestionamento. Impaciência dava lugar à violência.
Música dava lugar a pancadões. Pancadões davam lugar a baixaria. Baixaria dava lugar a falta de respeito, e lares tinham sua privacidade violada por conta disso.
Tudo, exatamente tudo, dava lugar a uma coisa pior.
O Homem compreendera. Deus dera lugar ao homem e ao mundo, que por sua vez permitiu ao homem transformá-lo num caos.
Esse era o mundo, e o caos, resultado da obra da criação de Deus.
Por fim, tudo estava esclarecido. Não havia mais salvação. Não havia mais paz. O mundo estava condenado.
Em meio a claustrofóbica situação, o Homem, 1 entre 7 bilhões puxou o gatilho.
Familiares choraram sobre seu caixão, mas dias depois a rotina os fizera esquece-lo. No cemitério, em um canto sombrio, a lápide trazia dizeres discretos, apenas mais um entre tantos outros túmulos:
“Descanse em Paz”.